sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Quarentena causou queda recorde nas emissões de gás carbônico

Em março, no começo da pandemia, já era possível perceber que a poluição atmosférica havia diminuído – afinal, a atividade econômica caiu, voos foram cancelados e tinha menos gente circulando de carro. Na China, por exemplo, o epicentro da covid-19, as emissões de gás carbônico (CO2) caíram 25% em apenas duas semanas.

Nesta semana, o levantamento anual Global Carbon Budget, publicado no periódico especializado Earth System Science Data, confirmou essas expectativas: graças à pandemia, a emissão de CO2 no planeta em 2020 apresentou uma queda recorde. Foram lançados 24 bilhões de toneladas do gás na atmosfera – 7% a menos do que em 2019.

Ao todo, o planeta deixou de emitir 2,4 bilhões de toneladas de CO2. A quantidade é maior do que outras diminuições significativas recentes, como as de 1992 (700 milhões) e 2009 (500 milhões).

Não há muito segredo aqui: a contração no setor dos transportes é a principal responsável pela redução global. Nas épocas mais rígidas de distanciamento social e restrição de movimento, o número de viagens de carro, por exemplo, caiu pela metade. O levantamento foi feito pelo Projeto Carbono Global e pelas Universidades de Exeter e de East Anglia, do Reino Unido.

A pesquisa observou que o pico das reduções aconteceu na primeira metade de abril, quando as medidas de bloqueio estavam em seu máximo pelo mundo. A diminuição também aconteceu de forma diferente em cada região: ela foi mais acentuada em lugares como Reino Unido (-13%), EUA (-12%) e União Europeia (-11%) do que na China (-1,7%). Uma das razões para isso é que, na China, a quarentena veio antes e durou menos tempo. Logo, a economia se recuperou mais cedo.

Apesar da boa notícia, os cientistas pedem cautela. Afinal, a quantidade total emitida em 2020 ainda foi alta (34 bilhões de toneladas de CO2). A queda nas emissões deste ano não foi o suficiente para frear o aumento na concentração do gás na atmosfera – ela segue subindo, só subiu um pouquinho mais devagar.

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O futuro das emissões

A divulgação do estudo coincide com o quinto aniversário do Acordo de Paris, aprovado em 12 de dezembro de 2015 durante Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. Os países participantes assumiram o compromisso de, coletivamente, reduzir as emissões de 1 bilhão a 2 bilhões de toneladas de CO2 por ano entre 2020 e 2030.

De 2000 a 2009, as emissões cresceram a uma taxa de 3% ao ano. De lá pra cá, o crescimento continuou, mas de forma desacelerada: 0,9% ao ano. Os especialistas dizem que isso se deve às mudanças feitas em alguns lugares em relação às políticas climáticas. Na última década, 24 países conciliaram preservação e desenvolvimento econômico ao reduzir significativamente o CO2 e, ao mesmo tempo, fazer sua economia crescer.

Contudo, ainda não dá para saber se a tendência se manterá em 2021, já que ações para estimular a economia pós-pandemia podem fazer com que tudo volte a aumentar – as emissões de CO2, lentamente, já estão voltando aos níveis de 2019.

Os pesquisadores enxergam a reconstrução econômica como um como uma janela de oportunidade para implementar ações sustentáveis. “As ações dos governos para recuperar a economia ao final da pandemia podem também ajudar a diminuir as emissões e combater a mudança climática”, escreveu a professora Corinne Le Quéré, do departamento de Ciências Ambientais da Universidade de East Anglia.

Dentre as possíveis medidas, estão acelerar a implementação de carros elétricos, investir em energias renováveis e incentivar meios de transporte como as bicicletas. Alguns países já anunciaram mudanças do tipo: em novembro, o Reino Unido afirmou que, a partir de 2030, carros movidos a gasolina ou diesel serão proibidos. O governo também estipulou como meta zerar as emissões de carbono até 2050.

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