Ao conversar com colegas de profissão, é comum usar jargões para facilitar e agilizar o entendimento. No jornalismo, por exemplo, é mais simples pedir uma “suíte” do que solicitar “um texto sobre os desdobramentos de uma matéria já publicada”. No mundo acadêmico, o cenário é igual, e as terminologias especializadas são amplamente aplicadas nos artigos científicos, que costumam ser compartilhados entre pesquisadores.
E aí é que mora o perigo. Pesquisadores do Conselho Nacional de Pesquisa da Itália mostraram que os estudos que contam com muitos jargões em seus títulos e resumos são citados com menos frequência por outros cientistas. Isso pode ser negativo por alguns motivos: primeiro que, quanto menos citações, menor a difusão do conhecimento científico; além disso, as citações são um termômetro sobre a relevância de uma pesquisa, sem falar em seu papel para estimar a produtividade de um pesquisador.
Os pesquisadores italianos utilizaram a plataforma online Web of Science para acessar 21.486 artigos científicos sobre cavernas. Eles escolheram esse tema devido ao grupo diversificado de pesquisadores que ele atrai, como antropólogos, geólogos, zoólogos e ecologistas. Cada grupo tem interesses únicos, como as propriedades das rochas ou os desenhos rupestres nas paredes da caverna, mas usa termos específicos que, mesmo com o interesse em comum, não são entendidos por todos.
Após juntar os estudos, os cientistas vasculharam glossários de livros sobre cavernas e outras fontes para criar uma lista com cerca de 1,5 mil jargões. Então, com auxílio de um programa de computador, calcularam a proporção dos termos técnicos nos títulos e resumos de cada artigo. Os estudos mais populares, que ultrapassavam as 450 citações, não usavam jargões em seus títulos, e menos de 1% das palavras que apareciam nos resumos eram terminologias especializadas. O cenário era o oposto para aqueles que usavam termos técnicos logo de cara.
Uma pesquisa publicada em 2019 traz outra visão sobre os jargões. Nela, pesquisadores da Universidade de Oregon apontam que o uso de palavras menos comuns pode ser benéfico, pois os jargões parecem aumentar as chances de conseguir financiamento acadêmico. Seja como for, vale considerar o uso de termos simples para atrair leitores e tornar o mundo acadêmico mais acessível, facilitando até mesmo o entendimento de pesquisadores de áreas diferentes, mas com interesses em comum.
Artigos científicos com muitos jargões são menos citados por outros pesquisadores Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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