sexta-feira, 23 de abril de 2021

Um dos menores buracos negros já descobertos está bem próximo da Terra

Na última quarta (21), um grupo de astrônomos da Universidade Estadual de Ohio, nos EUA, anunciou a descoberta de um novo buraco negro. Pode soar como uma notícia corriqueira (isto é, se você considerar corriqueiras as descobertas de objetos que engolem até a luz), mas o achado em questão chamou a atenção dos cientistas por dois motivos.

O primeiro é a distância. O buraco negro é o mais próximo da Terra já encontrado: está a apenas 1,5 mil anos-luz daqui. Parece muito, mas não é. A título de comparação, a distância entre o Sistema Solar e o centro da nossa galáxia, a Via Láctea, é de, aproximadamente, 28 mil anos-luz.

O segundo motivo é o seu tamanho – um dos menores já registrados. Segundo o estudo, publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, o buraco negro possui “só” três vezes a massa do nosso Sol.

Isso o coloca bem atrás em comparação aos buracos negros supermassivos, com milhões (até bilhões) de vezes a massa do Sol. Mas essa não deve ser nossa régua de comparação, pois os supermassivos são exceção. A maioria dos buracos negros são os chamados estelares, que se formam a partir de estrelas idosas e são bem menores.

O interessante, portanto, é que ele é pequeno até para os padrões de pequenez: buracos negros estelares, em geral, têm algumas dezenas de massas solares, e não apenas três. Esse filhote está no limite inferior da existência de buracos negros; qualquer coisa com menos massa seria levinha demais para colapsar gravitacionalmente e formar um.

O novo buraco negro foi apelidado de “O Unicórnio”. Fofo, não? O nome vem tanto das suas características únicas e raras quanto pela sua localização: a constelação de Unicórnio (Monoceros), vizinha de constelações como a de Gêmeos, Órion e Cão Maior.

Oi, vizinho: buraco negro Unicórnio está a 1,5 mil anos-luz da Terra.Ohio State University/Reprodução

Dupla dinâmica

O Unicórnio não foi encontrado sozinho. Ele tem uma parceira: uma estrela gigante vermelha que está inchada, o que significa que está no fim da vida – algo que acontecerá com o Sol daqui uns 5 bilhões de anos. A estrela orbita o buraco negro, e foi a responsável por sua descoberta.

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Encontrar objetos que não emitem luz em pleno espaço sideral é o cúmulo da expressão “agulha em um palheiro”. Para achar buracos negros, os cientistas precisam observar as perturbações que esses corpos geram no seu entorno, como emissões de raios-x ou a geração de ondas gravitacionais (perturbações no tecido do espaço-tempo causadas por uma grande liberação de energia, um fenômeno previsto por Einstein e confirmado em 2015). Mas é claro: quanto menor um buraco negro, mais difícil detectar tais perturbações.

É aí que a gigante vermelha entra na jogada. A estrela já havia sido observada anteriormente por diversos telescópios, como o KELT, localizado em Ohio, e o satélite TESS, da Nasa, que buscam exoplanetas (planetas fora do Sistema Solar). Mas o pesquisador Tharindu Jayasinghe, líder do estudo, e sua equipe notaram, pela primeira vez, algo curioso nos dados daquele astro: em alguns pontos de sua órbita, a luz da estrela mudava de intensidade e aparência.

Era como se algum outro objeto tivesse atração gravitacional grande o suficiente para puxá-la, alterando a sua forma – como na imagem que abre este texto. Os dados sobre a estrela já existiam há tempos, mas foi a primeira vez que uma equipe sugeriu a hipótese da causa da distorção ser um pequeno buraco negro. Até pouco tempo atrás, astrônomos duvidavam que buracos negros desse tamanho pudessem existir.

“Assim como a gravidade da Lua distorce os oceanos da Terra, interferindo nas marés, o buraco negro distorce a estrela, deixando-a com essa aparência oval de uma bola de futebol americano”, disse em comunicado Todd Thompson, co-autor do estudo chefe do departamento de astronomia da Universidade Estadual de Ohio.

Mas é claro: como tudo na ciência, ainda serão necessárias mais observações até que se possa cravar que o Unicórnio é, de fato, um buraco negro. Por ora, oficialmente, ele é um candidato – um fortíssimo candidato, diga-se.

Pela maneira como foi conduzida, a nova pesquisa pode ajudar os astrônomos a encontrar outros buracos negros pequenos que podem ter passado despercebidos por aí. Isso ajudará a entender a formação desses corpos, dos nanicos aos supermassivos. Como explicamos neste texto, estudar os buracos negros pequenos e intermediários é a chave para compreender os gigantes.

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