Por 300 mil anos, o Homo sapiens foi uma espécie nômade que ganhava a vida caçando animais na ponta da lança e coletando sementes e frutas. Açúcar e gordura em excesso sempre fizeram mal para a saúde, mas isso não era uma preocupação na Pré-História: fazíamos muito exercício físico para obter comida, e esse esforço nem sempre era bem-sucedido. O problema era a fome, não a comilança.
Mato sempre foi abundante, mas seu conteúdo de açúcar está majoritariamente retido na forma de celulose, que não conseguimos digerir. Por isso, faz sentido que os circuitos de recompensa do cérebro evoluíssem para nos tornar ávidos caçadores de frutas docinhas e animais gordurosos. Além disso, uma vez que puséssemos as mãos nessas fontes básicas de combustível, o ideal era se entupir e fazer reservas na pança para o futuro.
O que a junk food faz é só exacerbar esse instinto em pessoas que já estão bem alimentadas. O seu cérebro não sabe que, se você comer um balde de brigadeiro hoje, será fácil obter outro igual amanhã. Para ele, humano bom é humano gordo, que demora mais para morrer em caso de fome. Uma influencer que vive de folhas de alface pode até sobreviver trancada numa casa do século 21 com o celular na mão – mas, na natureza, ela seria um alvo enfraquecido.
Alguns pesquisadores defendem a hipótese de que nossa atração por bebidas alcoólicas seja um subproduto acidental da nossa mania de açúcar. Frutas maduras que caem do pé fermentam no chão da mata, exalando um odor de álcool que se destacaria no ambiente e nos ajudaria a encontrá-las. Robert Dudley, biólogo da Universidade da Califórnia em Berkeley, lançou em 2014 um livro sobre essa hipótese, intitulado The Drunken Monkey (“O Macaco Bêbado”, sem edição brasileira).
Não é exclusividade primata: entre 2007 e 2009, na cidade de Los Angeles, houve um surto de pequenos pássaros morrendo em colisões bobas com superfícies duras de vidro ou acrílico. Descobriu-se depois que os bichinhos estavam enchendo a cara com pequenos frutos maduros da Aroeira-vermelha. As autópsias revelaram grandes concentrações de resíduos do metabolismo do álcool no fígado das aves. A mãe natureza, às vezes, só quer saber de cachaça e gulodice.
Pergunta de @izabela_cristine_, via Instagram
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