terça-feira, 1 de junho de 2021

Jarra de 2,3 mil anos carrega maldição contra 55 pessoas de Atenas

Uma jarra de cerâmica de cerca de 2.300 anos cheia de ossos de galinha provavelmente fez parte de uma maldição com o objetivo de paralisar e matar 55 pessoas na Atenas da Antiguidade. O objeto encontrado em 2006 foi analisado recentemente e fornece evidências sobre a crença em magia na célebre cidade-estado grega.

A jarra foi encontrada em escavações na Ágora ateniense – na pólis, esse era o espaço público por excelência, ponto de encontro para várias atividades, desde feiras às discussões políticas e tribunais populares. A jarra estava enterrada na parte de trás de um antigo edifício comercial, usado por artesãos.

A pesquisadora Jessica Lamont, autora do estudo que analisa a descoberta arqueológica, afirma que a jarra continha a cabeça e os membros inferiores quebrados de uma galinha jovem. O vaso foi perfurado com um grande prego de ferro e enterrado junto de uma moeda, por volta de 300 a.C.

Além disso, a superfície externa da jarra foi coberta com texto antes dela ser enterrada. Os autores do ritual pintaram no mínimo 55 nomes na cerâmica – que mal aparecem hoje, após milhares de anos de desgaste. Lamont observa que, entre as palavras que grafadas na vasilha, algumas podem significar “nós amarramos”. Amarramos o quê? Fica a critério da imaginação do leitor. 

Lamont analisou cada parte da maldição: as partes de galinha, o prego, os nomes inscritos… Provavelmente todos esses elementos tinham um papel importante no ritual para amaldiçoar as vítimas.

O prego, comumente encontrado em rituais dessa época, “tinha força inibidora e simbolicamente imobilizava ou restringia as faculdades das vítimas [da maldição]”, a pesquisadora explicou ao site Science Alert.

Já a galinha, que não tinha mais de 7 meses quando foi morta, era símbolo de um desejo semelhante ao representado pelos pregos. Segundo Lamont, o desamparo e a incapacidade do franguinho de se proteger podem ser aquilo que os autores da maldição desejavam transferir para os indivíduos cujos nomes foram inscritos na jarra.

Quanto à presença da cabeça e dos membros inferiores do animal, Lamont escreve que “ao torcer e perfurar [essas partes da galinha], os autores da maldição procuraram impossibilitar o uso dessas mesmas partes do corpo em suas vítimas”.

O que a análise da pesquisadora sugere é que este conjunto de elementos encontrados na Ágora faz parte das maldições de “amarração” atenienses, que desejavam paralisar ou inibir as capacidades físicas e cognitivas das vítimas.

Além disso, a jarra foi colocada perto de várias piras que continham restos de animais. Segundo Lamont, isso podia ser algo que aumentava o poder da maldição, de acordo com as crenças antigas.

Os motivos da maldição

A pesquisadora disse ao portal Live Science que o estilo da escrita na jarra sugere que ao menos duas pessoas diferentes foram responsáveis por escrever aqueles nomes.

Não está claro o que as motivou, mas uma das hipóteses levantadas pela pesquisadora é de que a maldição pode estar relacionada a um caso legal. “O grande número de nomes [inscritos na cerâmica] torna um processo judicial iminente o cenário mais provável”, escreveu Lamont ao Live Science. As mais de 55 pessoas poderiam ser, então, testemunhas, famílias e apoiadores da oposição.

O lugar onde o objeto foi enterrado – próximo a um edifício usado por artesãos – também sugere que o processo poderia estar relacionado a disputas trabalhistas, e que os autores da maldição podem ter sido artesãos que trabalhavam naquele local. 

Outra hipótese levantada pela pesquisadora é de que a maldição esteja relacionada a conflitos na cidade de Atenas, ocorridos há cerca de 2.300 anos, após a morte de Alexandre, o Grande, em 323 a.C. – período marcado por guerras e grandes disputas políticas pelo poder e controle da cidade-estado. 


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