Nos anos 1960, uma equipe de arqueólogos encontrou treze corpos enterrados no vale do Sado, no sul de Portugal. Os esqueletos estavam em covas de oito mil anos, o que já os torna uma baita descoberta arqueológica por si só. O arqueólogo Manuel Farinha dos Santos tirou fotos em preto e branco, com uma câmera analógica.
As fotos foram encontradas e reveladas recentemente. Após a análise das imagens e visita ao sítio arqueológico, um grupo de pesquisadores da Suécia descobriu que pelo menos um daqueles corpos foi mumificado – provavelmente para facilitar o transporte até o local do enterro. Isso o torna a múmia mais antiga de que se tem notícia, batendo o recorde anterior por mil anos.
E pasme: o recorde anterior não era do Egito. Ele pertencia às múmias de sete mil anos do povo Chinchorro, encontradas no deserto do Atacama, no Chile. O clima seco do deserto fazia com que alguns corpos sofressem o processo de mumificação naturalmente, enquanto outros eram mumificados artificialmente.
As múmias do Egito só começam a aparecer dois mil anos depois. Apesar de as múmias estarem fortemente atreladas à cultura egípcia, outros povos já dominavam técnicas para retardar a decomposição do cadáver. O processo é mais fácil em locais com condições favoráveis, com clima seco e frio.
Segundo Rita Peyroteo-Stjerna, bioarqueóloga da Universidade Uppsala e uma das autoras do novo estudo, é difícil encontrar múmias na Europa graças ao clima úmido da região. A evidência de mumificação mais recente encontrada na Europa até então datava de 1.000 a.C. É possível que outros corpos encontrados nas covas estejam mumificados.
A descoberta
Sem as fotos tiradas em 1962, é provável que a múmia não fosse descoberta tão cedo. Por meio das imagens, os pesquisadores perceberam que os ossos dos braços e pernas estavam curvados para além do limite natural do corpo – indicando que o indivíduo foi amarrado e “apertado” após a morte, como geralmente se faz no processo de mumificação. As amarras, é claro, já foram decompostas.
Além disso, os ossos e articulações permaneceram no lugar, outra evidência de que o corpo foi enterrado amarrado. Os ossos do pé, em particular, costumam se desprender no processo de decomposição, mas isso não ocorreu no esqueleto encontrado.
A última evidência de que o corpo foi mumificado artificialmente antes do enterro é que não há sinais de decomposição dos tecidos moles no solo. Isso significa que o corpo foi dissecado e os membros foram “encolhidos” pelas amarras após a morte do indivíduo. A foto abaixo mostra uma reconstrução da técnica.
Apesar da descoberta recente, o posto de múmia mais antiga do mundo pode não durar muito tempo. Há indícios de mumificações de mais de 10 mil anos em Israel, e de 30 mil anos em Belarus. No entanto, esses casos ainda devem passar por estudo e análises.
Esqueleto encontrado em Portugal pode pertencer à múmia mais antiga do mundo Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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