Cerca de 30% das mortes ocorridas no Estado de São Paulo têm como causa as doenças do aparelho circulatório, sendo que o infarto responde por 26% delas. Os dados ficam ainda mais alarmantes quando a gente se lembra de que essa é a unidade federativa mais populosa do país, com 46,6 milhões de pessoas – ou 22% dos brasileiros.
Em 2019, foram registradas 28 903 internações no Sistema Único de Saúde (SUS) por infarto, sendo que 12,4% do total de internados morreram.
Já um levantamento da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados) aponta que o percentual de mortes por ataque cardíaco é de 4,5% nos hospitais do grupo. Em um conjunto de hospitais norte-americanos, acompanhados pela Agency for Health Care Research and Quality, a taxa de óbitos por esse motivo é de 5,8%.
Esses dados denotam que um serviço de mais excelência, incluindo a rapidez no uso dos medicamentos adequados, pode reduzir os casos fatais.
Diante desse quadro, a SOCESP (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), em parceria com o COSEMS (Conselho de Secretários Municipais de Saúde) e a Secretaria Estadual de São Paulo, decidiu dar início ao Projeto Infarto, cujo objetivo é melhorar a qualidade da assistência na rede pública com base nas mais recentes diretrizes nacionais e internacionais.
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A iniciativa vem se desenvolvendo há dez anos para padronizar o socorro ao paciente infartado, definindo fluxos, métricas e validando protocolos de atendimento.
Na fase atual, o projeto contempla duas frentes: treinamento para médicos e enfermeiros dos serviços de emergência do Estado e também orientação para a população.
O ponto de partida para atender a um infartado é a correta interpretação do eletrocardiograma. Porém, nem sempre os serviços contam com um cardiologista de plantão. Por isso, o projeto contempla medidas como o Tele ECG, quando laudos de eletrocardiograma são realizados à distância por centros de especialidade para unidades de urgência da rede SUS.
Já para os leigos, a proposta é de atividades preventivas e de detecção precoce dos riscos de doença coronariana. Isso envolve a criação de um aplicativo que, mediante perguntas sobre a sintomatologia do quadro, dirá se a situação é compatível com infarto. Em caso positivo, a plataforma indicará o hospital público mais próximo por geolocalização.
Cenário do infarto
Um levantamento da SOCESP com base no banco de dados do SUS apontou que, entre os anos de 2008 e 2019, houve um aumento de 76,6% no número de internações por infarto nos hospitais públicos das cidades paulistas, mas com redução de 22,8% no total de óbitos.
Na separação por gênero, detectamos um aumento de 71,1% nas internações masculinas, com 19,4% menos óbitos. Enquanto isso, a internação de mulheres cresceu em 86,8%, sendo que as mortes diminuíram 28%.
O levantamento também aponta altas expressivas no número de internações por infarto nos hospitais da rede pública em São Paulo em todas as faixas etárias. Comparando os anos de 2008 e 2019, temos: entre 20 e 49 anos, ocorreram 37% hospitalizações a mais; entre 50 e 69 anos, a alta foi de 90%; e, acima dos 70 anos, houve um acréscimo de 76%.
Todas as idades mostram queda no percentual de mortes de internados. Porém, os óbitos ainda são bastante relevantes. Para ter ideia, em 2019, a cada quatro idosos com 70 anos ou mais infartados, um morreu nos hospitais do SUS de São Paulo.
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Quando o estudo foca nas cidades/regiões, nota-se que quase metade dos infartos ocorrem na Grande São Paulo: do total de 28 903 internações, em 2019, 14 256 foram nessa macrorregião.
Na Baixada Santista, chama a atenção o aumento das internações entre 2008 e 2019. É que ele ficou muito acima da média estadual: foi de 194% entre os anos.
Barretos aparece como a cidade que mais reduziu óbitos decorrentes das internações de infartados: uma diminuição de 40,3%. Enquanto isso, apesar de Ribeirão Preto ter registrado um número menor de internações, abaixo da média estadual, houve alta de 18,2% na relação internados x óbitos na comparação 2008-2019.
Vale lembrar que esse cenário preocupante não é exclusividade de São Paulo ou do país: as doenças cardiovasculares são um problema de saúde pública mundial, levando a mais de 18 milhões de óbitos/ano.
Mas, no Brasil, elas representam as principais causas de mortes. Para piorar, estima-se que até 2040 enfrentaremos um salto de 250% na incidência desses eventos, o que nos mostra que temos que arregaçar as mangas e agir. Porque infarto, infelizmente, não tem vacina: se trata com ação.
*Antonio Claudio do Amaral Baruzzi é cardiologista e coordenador do Projeto Infarto da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.
Projeto pretende reduzir número de mortes por infarto no SUS Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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