Estudos astronômicos que envolvem telescópios terrestres ou espaciais emitem, somados, 20 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2), o maior contribuinte do aquecimento global, por ano. É o que descobriu uma recente pesquisa francesa, publicada na Nature Astronomy na última segunda-feira (21). A quantidade de CO2 emitido é equivalente a de países inteiros, como Estônia, Líbano, Bolívia e Croácia.
Para chegar a esse número, a pesquisa considerou somente a construção e a manutenção da infraestrutura telescópios espaciais (como o Hubble e o James Webb) e terrestres, como o Square Kilometre Array, que será o maior radiotelescópio do mundo (e cuja construção começou em 2021). Não foram levados em conta outras atividades, como a energia gasta para manter supercomputadores e os escritórios de laboratórios observacionais nem viagens que cientistas que trabalham neles precisam fazer ocasionalmente.
A ideia do levantamento surgiu quando os pesquisadores pensaram em calcular a pegada de carbono do próprio instituto, o laboratório de astrofísica IRAP. “[Percebemos que] nenhum estudo tentou calcular as emissões de carbono devido à construção e operação de todos os telescópios e missões espaciais que os astrônomos usam para fazer observações”, disse à rádio NPR Annie Hughes, uma das autoras do estudo.
Os cientistas, então, reuniram dados de 46 missões espaciais e 39 observatórios terrestres. Além disso, eles pegaram o total de emissões de carbono e dividiram pelo número estimado de astrônomos com doutorado no mundo (30 mil). O resultado foi que a pegada de carbono de cada astrônomo é de 36 toneladas por ano – o mesmo que andar 200 mil quilômetros com um carro a gasolina.
Mudança pelo exemplo
Você pode estar pensando: “mas nem existem tantos astrônomos no mundo”. De fato: os 20 milhões de toneladas de CO2 calculados pelo estudo representam apenas 0,05% do total de emissões globais, que em 2020 chegou a 34,8 bilhões de toneladas de carbono.
Mas Hughes reforça a importância do estudo. “Os astrônomos precisam dar o exemplo para mitigar as mudanças climáticas”, diz. “Se nós, como cientistas, não reagimos aos relatórios e avisos de nossos colegas, é um pouco como seu pai dizendo que você não deve fumar, enquanto ele próprio está fumando um cigarro.”
Os pesquisadores torcem para que outros campos científicos se inspirem no estudo e montem relatórios globais de emissões de gases do efeito estufa. Eles pedem que agências espaciais e financiadores de pesquisas astronômicas façam uma avaliação ambiental de suas instalações e tornem esses dados públicos.
O estudo visa conscientizar a comunidade científica para encontrar soluções sustentáveis para suas operações – alguns observatórios, por exemplo, já funcionam com energia solar. Para os autores da pesquisa, esse objetivo precisa ser alcançado – nem que, para isso, diminua-se o ritmo de construção de telescópios cada vez maiores e mais sofisticados.
“Alguns de nossos colegas estão um pouco chocados com essa ideia”, disse à NPR Luigi Tibaldo, pesquisador do IRAP e um dos autores do estudo. “O que realmente pensamos é que essas opções devem estar na mesa. A emergência que estamos enfrentando é tão grande e claramente estamos desempenhando um papel nela com nosso trabalho.”
Pesquisas astronômicas emitem 20 milhões de toneladas de CO2 por ano Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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