quarta-feira, 23 de março de 2022

Pesquisas astronômicas emitem 20 milhões de toneladas de CO2 por ano

Estudos astronômicos que envolvem telescópios terrestres ou espaciais emitem, somados, 20 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2), o maior contribuinte do aquecimento global, por ano. É o que descobriu uma recente pesquisa francesa, publicada na Nature Astronomy na última segunda-feira (21). A quantidade de CO2 emitido é equivalente a de países inteiros, como Estônia, Líbano, Bolívia e Croácia.

Para chegar a esse número, a pesquisa considerou somente a construção e a manutenção da infraestrutura telescópios espaciais (como o Hubble e o James Webb) e terrestres, como o Square Kilometre Array, que será o maior radiotelescópio do mundo (e cuja construção começou em 2021). Não foram levados em conta outras atividades, como a energia gasta para manter supercomputadores e os escritórios de laboratórios observacionais nem viagens que cientistas que trabalham neles precisam fazer ocasionalmente.

A ideia do levantamento surgiu quando os pesquisadores pensaram em calcular a pegada de carbono do próprio instituto, o laboratório de astrofísica IRAP. “[Percebemos que] nenhum estudo tentou calcular as emissões de carbono devido à construção e operação de todos os telescópios e missões espaciais que os astrônomos usam para fazer observações”, disse à rádio NPR Annie Hughes, uma das autoras do estudo.

Os cientistas, então, reuniram dados de 46 missões espaciais e 39 observatórios terrestres. Além disso, eles pegaram o total de emissões de carbono e dividiram pelo número estimado de astrônomos com doutorado no mundo (30 mil). O resultado foi que a pegada de carbono de cada astrônomo é de 36 toneladas por ano – o mesmo que andar 200 mil quilômetros com um carro a gasolina.

Mudança pelo exemplo

Você pode estar pensando: “mas nem existem tantos astrônomos no mundo”. De fato: os 20 milhões de toneladas de CO2 calculados pelo estudo representam apenas 0,05% do total de emissões globais, que em 2020 chegou a 34,8 bilhões de toneladas de carbono.

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Mas Hughes reforça a importância do estudo. “Os astrônomos precisam dar o exemplo para mitigar as mudanças climáticas”, diz. “Se nós, como cientistas, não reagimos aos relatórios e avisos de nossos colegas, é um pouco como seu pai dizendo que você não deve fumar, enquanto ele próprio está fumando um cigarro.”

Os pesquisadores torcem para que outros campos científicos se inspirem no estudo e montem relatórios globais de emissões de gases do efeito estufa. Eles pedem que agências espaciais e financiadores de pesquisas astronômicas façam uma avaliação ambiental de suas instalações e tornem esses dados públicos.

O estudo visa conscientizar a comunidade científica para encontrar soluções sustentáveis para suas operações – alguns observatórios, por exemplo, já funcionam com energia solar. Para os autores da pesquisa, esse objetivo precisa ser alcançado – nem que, para isso, diminua-se o ritmo de construção de telescópios cada vez maiores e mais sofisticados.

“Alguns de nossos colegas estão um pouco chocados com essa ideia”, disse à NPR Luigi Tibaldo, pesquisador do IRAP e um dos autores do estudo. “O que realmente pensamos é que essas opções devem estar na mesa. A emergência que estamos enfrentando é tão grande e claramente estamos desempenhando um papel nela com nosso trabalho.”

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