Como já se sabe que a Covid-19 pode afetar a glicemia, sempre surgem dúvidas se ela aumentaria o risco de desenvolver diabetes ou de agravar o quadro de pacientes que já diagnosticados com essa doença.
A verdade é que estudos sobre a relação entre as duas enfermidades ainda estão em andamento, então há um grau de incerteza envolvendo o assunto. Mas, para entender melhor esse elo, falamos com o endocrinologista Augusto Santomauro, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Primeiro recado: as vacinas contra o coronavírus não têm relação com o diabetes. Por outro lado, a Covid-19 em si é considerada uma doença sistêmica, que afeta diferentes órgãos do corpo – não só o trato respiratório.
E o pâncreas também pode ser atacado durante a infecção. Para quem não sabe, essa estrutura tem, entre suas principais funções, a produção de insulina, um hormônio que ajuda a tirar a glicose de circulação. Logo, é possível que a agressão direta do vírus aumente a glicemia por prejudicar a fabricação de insulina.
Além disso, pesquisadores ingleses entendem ser possível que “a inflamação causada pelo coronavírus cause no corpo uma resistência à insulina, característica do diabetes tipo 2”. Nesse contexto, não é a falta de hormônio o problema, e sim seu funcionamento que fica prejudicado.
Isso não significa que toda vítima do coronavírus terá diabetes. “Segundos estudos sobre o assunto, podem desenvolver diabetes pós-Covid algumas pessoas que já têm propensão para desenvolvê-la”, explica Santomauro.
Essa tendência pode ser genética – quando há histórico da doença na família – ou por hábitos de vida. Uma pessoa com alimentação rica em gordura e açúcar e rotina sedentária, por exemplo, entra na lista.
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Casos leves de Covid podem disparar o diabetes?
Um estudo recente publicado na revista Nature sugere que, em alguns episódios, sim. Mas a presença do diabetes foi mais comum em quem já tinha tendência de apresentar excesso de glicose no sangue.
Na opinião de Santomauro, são os pacientes que tiveram Covid grave que merecem um olhar mais atento. “Se o indivíduo precisou ficar internado e recebeu oxigênio e medicação, é especialmente importante monitorar o açúcar no sangue”, esclarece o médico.
Essa avaliação pode ser feita com os métodos tradicionais que avaliam a glicemia. Saiba mais aqui.
E as crianças?
Ainda há dúvidas se o público infantil corre o mesmo risco de sofrer com diabetes após a infecção. Um levantamento do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA indicou que menores de 18 anos infectados pelo coronavírus teriam uma probabilidade adicional de desenvolvê-lo. Mas…
“Como o número de crianças que tiveram a forma grave da Covid é pequeno, não se sabe quais fatores explicariam esse fenômeno”, contrapõe Santomauro.
O jeito é ficar de olho, mas sem paranoia.
Uma reação adversa dos corticoides contra o coronavírus
Os corticoides se mostraram eficazes no controle de casos graves de Covid. Eles reduziram o número de óbitos, o tempo necessário no respirador e os dias de internação. “Mas esse tipo de remédio tem como efeito colateral possível a hiperglicemia”, aponta o médico. Ou seja, o próprio tratamento da doença favoreceria o diabetes.
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Pessoas com diabetes que pegam Covid podem ver a glicemia piorar?
Um aviso inicial sobre o tema: pacientes com diabetes tem uma probabilidade maior de desenvolver a forma grave da Covid. “Estudos comprovam que indivíduos com glicemia acima de 180 tiveram a pior evolução por Covid. Por isso insistimos em manter esse índice o mais controlado possível”, relata o endocrinologista.
Como se fosse pouco, essa turma ainda corre o risco de ver as próprias taxas de açúcar no sangue dispararem após a infecção pelo Sars-CoV-2. Explica-se: a tempestade inflamatória que às vezes é deflagrada pelo coronavírus não raro desregula a concentração de glicose no organismo. “Quem tem diabetes já convive com inflamações no corpo. A Covid intensifica o processo”, afirma Santomauro.
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Se ainda houver a necessidade de tomar corticoides, o risco de o diabetes se descontrolar sobe. Daí porque médicos comumente usam mais medicações para o controle da glicemia nesses casos. Conclusão: quando diabetes e Covid-19 se encontram, é imprescindível aumentar o monitoramento e seguir as recomendações médicas à risca.
O sistema de saúde britânico até criou um documento sobre como lidar com infectados pelo coronavírus que possuem diabetes. As primeiras medidas são de prevenção: tomar as doses recomendadas da vacina, usar máscara sempre que possível, evitar contato com pessoas doentes e manter a glicoseo mais controlada possível.
Covid aumenta risco de desenvolver diabetes ou de descontrole da doença? Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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