A telemedicina, alvo de discussão nos últimos anos principalmente por causa da pandemia de Covid-19, vai muito além do que poderíamos imaginar. Recentemente, ela chegou ao fronte de guerra, nas trincheiras da Ucrânia.
O ‘arsenal telemédico’ usado nas vítimas do conflito com a Rússia precisa apenas de internet para funcionar e um kit tecnológico que cabe na palma da mão. Médicos do maior hospital israelense, o Sheba Medical Center (em Tel Aviv), trabalham em conjunto com a United Hatzalah Israel, a maior organização independente de apoio voluntário e sem fins lucrativos do país, para prestar atendimento remoto a ucranianos em áreas de conflito.
O kit tecnológico, desenvolvido em Israel e denominado TytoCare, pode realizar uma série de exames a mais de 2 mil quilômetros de distância. Ele também já é utilizado por hospitais, planos de saúde e universidades de medicina no Brasil desde 2020 – inclusive como parte de projetos sociais em comunidades carentes e aldeias indígenas. Se a guerra não tem limites, a tecnologia e ajuda humanitária também não.
A nossa guerra interna
A população mundial vem envelhecendo e, no Brasil, seguimos essa tendência. Nossa pirâmide populacional está “engordando”: a estimativa é que, em 2060, um quarto das pessoas no país terá 65 anos ou mais, segundo o IBGE. Com 25% da população acima dos 65 anos, precisaremos de mais médicos, mais enfermeiros, mais fisioterapeutas, mais leitos, mais clínicas, mais hospitais, mais, mais e mais. A conta não irá fechar. E é aí que a tecnologia poderá desempenhar um papel crucial para otimizar recursos e ampliar a eficiência.
A Covid-19 nos mostrou o que significa o colapso da área de saúde: assistimos ao desespero de equipes para conseguir atender pacientes que lotavam os corredores dos hospitais e a aflição das famílias em busca de um leito de UTI ou mesmo um atendimento primário.
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Os exemplos mundiais que deram bons resultados no atendimento à saúde estão focados na ampliação da atenção primária, o chamado médico de família. Modelo esse que está ganhando cada vez mais força no Brasil. Nele, as linhas de cuidado ganham uma abordagem multidisciplinar e passam a tratar da saúde do paciente em um contexto amplo, que envolve desde o estilo de vida até o contexto socioeconômico do paciente.
Associado a tudo isso, a tecnologia ajudará a alavancar o trabalho dos médicos e dos profissionais de saúde, otimizando recursos independentemente da localidade geográfica. Ela auxiliará na detecção precoce de doenças por meio de inteligência artificial e triagem remota e automatizada. Isso, aliás, desafogará clínicas, laboratórios e hospitais de casos simples.
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Hoje já conseguimos ver o impacto que a tecnologia traz para o acesso à saúde em diversos contextos. O uso da telemedicina aumentou a eficiência dos profissionais, reduziu custos por não utilizar espaços físicos para receber todos os pacientes, otimizou o tempo ao evitar deslocamentos desnecessários e amplificou a capacidade de atendimento das estruturas existentes.
Temos diversos exemplos de teleatendimento a populações carentes que, antes, não tinham acesso ao atendimento médico. Sem barreiras geográficas e com a otimização dos recursos existentes, a telemedicina consegue levar a essas pessoas a atenção de que precisam. Dentro e fora de uma guerra.
*Anna Clara Rabha é Mestranda em Pediatria e Ciências aplicadas à Pediatria pela Unifesp, integrante dos Comitês de Saúde Digital e de Imunodeficiência da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia e médica da Tuinda Care, startup que tem como aceleradores os hospitais infantis Pequeno Príncipe (PR) e Sabará (SP)
A telemedicina na Guerra da Ucrânia (e nas nossas batalhas internas) Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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