terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Engasgo infantil? Saiba o que fazer diante desse acidente

O medo do engasgo infantil é frequente entre pais e cuidadores. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, a aspiração de corpo estranho é observada principalmente nas crianças do sexo masculino, na faixa etária de 1 a 3 anos.

Mais de 50% das aspirações ocorrem em crianças menores de 4 anos, e mais de 94% antes dos 7 anos de idade.

Um estudo realizado entre 2009 e 2019 e apresentado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) mostrou que, no Brasil, ocorreram 2 148 notificações de óbitos de crianças entre 0 a 9 anos por engasgo. Dessas mortes, 72% eram bebês menores de 1 ano, e 21,6% crianças de 1 a 4 anos.

Mas o que os pais e educadores podem fazer para evitar esse tipo de acidente na infância?

Conversamos com a coordenadora do programa de Aerodigestivo do Sabará Hospital Infantil, Saramira Bohadana, para falar um pouco sobre o assunto.

+ Leia também: Como saber se a criança está apresentando o desenvolvimento adequado?

O que é a manobra de Heimlich?

A manobra de Heimlich é uma técnica que consiste na tração abdominal em que a vítima é abraçada por trás ao redor do abdome, promovendo um aumento da pressão intratorácica, com o objetivo de expelir o corpo estranho aspirado.

Em menores de 1 ano, a manobra deve ser adaptada para percussões nas costas e compressões no peito.

São técnicas que podem ser ensinadas ao público leigo e devem ser conhecidas por quem habitualmente cuida de crianças!

<span class="hidden">–</span>Arte: Valeska Medeiros de Morais - Sabará Hospital Infantil/Divulgação

Qual é o momento de procurar um pronto-socorro?

Se a criança não está respirando, não emite som e se estiver ficando roxa, leve-a imediatamente ao pronto-socorro.

Mesmo que a criança apresente melhora, caso ainda exista suspeita de obstrução das vias aéreas por algum objeto ou alimento, é importante procurar um pronto socorro para uma avaliação.

Dependendo da situação, a criança realizará exames de endoscospia digestiva e, se houver necessidade, o objeto será retirado da árvore respiratória por meio do procedimento de broncoscopia.

+ Leia também: Introdução alimentar: como ter sucesso

O que os pais nunca devem fazer em situações de engasgo?

Caso os pais não saibam fazer as manobras de desengasgo, devem ligar para o 192 para pedir ajuda.

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Nunca devem sacudir a criança muito menos tentar retirar o produto de engasgo com as mãos, porque pode acabar empurrando-o mais para dentro, dificultando sua remoção.

Quais são os sintomas que a criança apresenta se estiver de fato engasgada?

Tosse, espirro, ânsia de vômito e choro durante a alimentação, dificuldade ao respirar ou estar ofegante; lábios azulados, palidez ou vermelhidão na face; não conseguir falar.

+ Leia também: Pneumonia infantil requer atenção

Crianças em situações complexas são mais suscetíveis ao engasgo?

Sim. São mais suscetíveis ao engasgo porque podem ter dificuldade de deglutição, desnutrição e problemas pulmonares graves – que dificultam a manobra de Heimlich.

Essas crianças são, em geral, mais propensas à aspiração.

Os pequenos com condições complexas ainda têm o comum agravante de alterações cognitivas e necessitam de supervisionamento em tempo integral.

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Quais são os objetos mais comuns que causam esse tipo de acidente?

Pilhas, baterias e ímãs que podem estar nos brinquedos. Esses são mais perigosos também, pois podem soltar componentes corrosivos e lesar o nosso organismo.

Grãos como arroz, feijão, milho, pipoca, amendoim, além de pedaços de fruta escorregadias (como manga ou banana), pequenos brinquedos ou peças soltas (como moedas e botões) também são motivos frequentes de engasgos.

A ingestão de líquidos quando a criança está deitada deve ser evitada, pois pode ocorrer engasgo.

Quais os riscos de um engasgo com baterias?

Os acidentes com baterias podem perfurar o esôfago. A lesão no esôfago inicia-se 15 minutos após a ingestão e pode levar à perfuração por necrose do tecido, devido à alcalinização do meio.

Um estudo realizado nos Estados Unidos evidenciou que a irrigação com mel no tecido lesado promovia a neutralização do PH, evitando a necrose e perfuração do esôfago.

Então, sugere-se a ingestão de 10 ml de mel a cada 10 minutos logo após o acidente. Repita a oferta até chegar ao pronto-socorro.

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Vírus Marburg: entenda por que ele está na mira da OMS

No início de fevereiro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) confirmou um surto do vírus Marburg na Guiné Equatorial. O último boletim, de 23 de fevereiro, constatou nove mortes, quatro casos prováveis e outros quatro suspeitos. Mais 34 pessoas estão em acompanhamento, pois tiveram contato com os doentes.

Notícias como essa despertam o medo de uma nova pandemia, porém o risco de esse vírus se espalhar da mesma forma que o coronavírus é baixo, segundo especialistas.

A tendência é observarmos surtos regionais, já que os bloqueios de casos suspeitos costumam ser eficientes. De qualquer forma, a OMS está atenta.

“A maior estrutura de testes está no Senegal, ou seja, fora do país em que se identificou o surto. Então, as atualizações sobre a situação levam tempo. Isso é o que mais preocupa os agentes de saúde, porque essa demora pode significar que há mais casos não reportados”, informa o virologista Edison Luiz Durigon, professor do ICB-USP.

Entenda de onde veio o Marburg e quais os riscos que ele oferece.

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O que é o vírus Marburg e onde ele surgiu?

Esse agente infeccioso pertence à família dos filovírus, a mesma do ebola. Ele causa a doença chamada de febre hemorrágica de Marburg ou, simplesmente, febre de Marburg.

O vírus foi descoberto em um acidente de laboratório na cidade alemã de Marburg, em 1967, por isso ganhou esse nome. Sete cientistas foram infectados e morreram após manipular células do fígado de macacos trazidos de Uganda.

Na época, houve surto em Frankfurt, outra cidade alemã, resultando em 29 casos naquele país. O vírus chegou ainda à antiga Iugoslávia, hoje Sérvia, com dois infectados, que sobreviveram.

+ Leia também: De varíola dos macacos a Covid-19: vivemos a era das pandemias?

Depois disso, o vírus já provocou surtos no Congo e em Uganda, e casos isolados no Quênia e na África do Sul. Angola registrou o pior deles, em 2005, quando foram registrados 374 casos, e 329 mortes – representando uma letalidade de 88%.

“Esse número varia, mas os menores índices de mortes estão entre 24% e 33%, que são considerados bastante altos”, afirma Carlos Magno Fortaleza, infectologista e presidente da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI).

Quais as diferenças entre o Marburg e o ebola?

Os dois são, digamos, primos. “Eles são chamados de filovírus pela aparência em forma de filete”, explica o virologista Paulo Eduardo Brandão, professor da USP e colunista de VEJA SAÚDE.

Os dois causam doenças hemorrágicas com sintomas e letalidade similares, sendo que o ebola é um pouco mais mortal e rápido em sua ação.

O ebola foi descoberto depois do marburg, em 1976. Ele tem esse nome porque o primeiro caso surgiu próximo ao rio de mesmo nome, que fica no nordeste do Congo.

Os dois vírus têm como origem os morcegos. Sabe-se que o marburg, especificamente, vem de uma espécie chamada Rousettus aegyptiacus, comum na África, na Arábia e na Turquia. Ele pode adoecer mamíferos, como macacos e porcos e, nós, os seres humanos.

Transmissão: por que há surtos locais e baixo risco de pandemia?

Após os primeiros casos em humanos, o Marburg não depende mais só dos morcegos infectados para se espalhar: ele também pode pular de pessoa para pessoa.

“Nesse quesito, ele é mais criativo do que o coronavírus. A transmissão pode acontecer a partir de qualquer fluido corporal, como o sangue, por se tratar de uma doença hemorrágica, e também por meio de tosse, espirro e objetos contaminados”, descreve Brandão.

O que ajuda a evitar que ele se espalhe rápido é o fato de os sintomas surgirem por volta do segundo dia da infecção. Com isso, o indivíduo adoece rapidamente e já é isolado.

O tempo de incubação pode chegar a dez dias, mas isso é raro. “Uma pessoa assintomática tem a probabilidade de transmitir o vírus, mas é mais comum que isso ocorra quando os sintomas estão no seu pico”, pondera o virologista Durigon.

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+ Leia também: Aquecimento global pode “despertar” vírus capazes de causar doenças

Na África, há surtos maiores porque o sistema de saúde não é tão eficiente e existem costumes que dão oportunidade para o vírus se espalhar. “Em algumas regiões, há contato direto com os mortos durante funerais”, exemplifica Fortaleza. O principal costume é lavar o familiar falecido antes do enterro.

Sintomas e diagnóstico

Os primeiros sinais são semelhantes aos de outras doenças hemorrágicas mais comuns por aqui, como leptospirose, a dengue, a malária e a febre amarela. Esses sinais iniciam de forma abrupta:

  • Febre alta
  • Dor de cabeça intensa
  • Mal-estar intenso
  • Dores musculares

A doença pode ser confirmada por meio de exames de sangue, testes de antígeno ou RT-PCR.

Por volta do terceiro dia, também é possível observar:

  • Diarreia intensa
  • Dor abdominal
  • Cólicas
  • Náuseas e vômitos

Segundo informações da OMS, muitos pacientes desenvolvem manifestações hemorrágicas graves entre 5 e 7 dias após a infecção, e os casos fatais tendem a apresentar algum tipo de sangramento, geralmente em várias áreas.

Ao afetar o sistema nervoso central, o Marburg pode provocar confusão, irritabilidade e agressividade. A morte acontece mais frequentemente entre o oitavo e nono dias após o início dos sintomas.

Tratamento

Não há um tratamento que neutralize a ação do vírus. A sobrevivência depende de alguns cuidados para aliviar os sintomas e brecar as hemorragias.

Hidratação e transfusão de sangue são algumas medidas bem-vindas. É importante reduzir a febre e manter a pressão arterial controlada.

Prevenção

No Brasil, não há a espécie de morcego que pode carregar o vírus Marburg. Por isso, o risco de pegar a doença diretamente desse animal só existe entre quem fizer uma viagem até os países que já registraram surtos.

“Em alguns países africanos, existe o costume de consumir carne de morcego, mas o contato direto com o animal já é suficiente para contrair o vírus, porque ele é expelido pelas fezes e pela urina”, explica Durigon.

Mas, de novo, cabe dizer que um indivíduo contaminado pode passar a doença adiante para outras pessoas. Por isso, embora ainda não exista motivo para pânico por aqui, precisamos aproveitar esses surtos para refletir mais sobre a estrutura de vigilância atual no Brasil.

“Seria importante termos laboratórios e enfermarias de nível 4 [máxima proteção] para que os profissionais de saúde que tenham contato com um  caso suspeito não adoeçam”, afirma o virologista.

Como os sintomas são repentinos, o doente corre para o hospital, fazendo com que os profissionais de saúde sejam um grupo de risco importante para a doença.

Vacina contra o Marburg

Existe uma vacina contra o vírus ebola, e há pesquisas semelhantes para produzir uma contra o Marburg. Um imunizante desses está sendo conduzido nos Estados Unidos, e  os primeiros resultados já foram divulgados.

A fórmula é a de uma vacina que utiliza um vetor viral não-replicante (que não causa infecção) de adenovírus de chimpanzé (semelhante à da farmacêutica Astrazeneca contra o coronavírus).

+ Leia também: Qual a diferença entre as vacinas contra a Covid-19?

Ela foi testada em humanos saudáveis nos Estados Unidos e teve resultados positivos quanto à segurança e a resposta de anticorpos. São passos importantes, mas agora é preciso ter mais testes na África, especificamente nas regiões de risco.

“Como a vacina contra o ebola teve resultados animadores em países da África, a tendência é que ocorra o mesmo com esse imunizante. Com esses últimos surtos, espera-se que esses estudos ganhem prioridade”, afirma Durigon.

 

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Livro ensina a dar um rumo às divagações

Cena 1: você está lendo um texto e uma palavra evoca um acontecimento do passado que o faz sofrer, desencadeando uma teia de imagens e sensações desagradáveis.

Cena 2: você está lendo um texto e, do nada, se lembra de que precisa comprar os ingredientes para aquela receita que pretende fazer no fim de semana.

Cena 3: você está lendo um texto e, sem saber por quê, lhe ocorre uma ideia que nada tem a ver com o conteúdo que está à sua frente.

Em todas essas cenas, você foi tirado da leitura e conduzido, pelo seu cérebro, a um fluxo de lembranças, planos ou pensamentos. O texto? Ficou ali esquecido.

Eis a essência da divagação, um processo que naturalmente toma conta dos nossos neurônios e, embora possa semear boas ideias, não raro vira motivo de sofrimento, ansiedade ou falta de foco.

É esse fenômeno mental, criado pela rede de associações entre pensamentos e memórias, que o neurocientista israelense Moshe Bar disseca em A Arte da Divagação (Objetiva).

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No livro, além de expor o mecanismo nos bastidores, o professor traz conselhos do que se pode fazer para tirar melhor proveito dessa capacidade inata que rende tanto soluções geniais quanto armadilhas emocionais.

A Arte da Divagação (Objetiva)

capa livro

O que trava e destrava o cérebro

Divagar tem um lado bom e outro ruim. Como melhorar o controle sobre isso?

Trava: pensar demais sobre o futuro, nutrindo a ansiedade, ou ruminar sobre o passado são exemplos de situações que nos deixam enredados em divagações, muitas vezes contraprodutivas. É difícil domar esse fluxo, mas convém tentar em nome do próprio bem-estar.

Destrava: após anos de estudos, o cientista Moshe Bar aconselha a meditação (sobretudo do tipo mindfulness) a quem quer acalmar o fluxo mental: a ideia é deixar os pensamentos irem e virem, sem se prender a eles. Com o tempo, a divagação tende a ficar menos caótica.

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Paciente com doença rara enfrenta desafios em busca do diagnóstico precoce

A investigação de uma doença passa por várias etapas. O ponto de partida é quando o paciente busca atendimento médico em razão de sintomas incômodos, como dores e outros desconfortos que afetam seu bem-estar. Mas imagine uma pessoa que convive com uma doença rara. A busca pelo diagnóstico pode levar anos.

Há inúmeros fatores por trás dessa demora: a não especificidades de sintomas, o desconhecimento sobre o tema, a ausência ou falta de acesso a métodos de diagnósticos, entre outros. Esse atraso pode resultar em diversas sequelas, tanto físicas quanto emocionais.

Para encurtar essa jornada do paciente raro, existe um esforço mundial de médicos e pesquisadores.

+ Leia também: Como podemos ajudar quem tem uma doença rara

Uma doença é considerada rara quando afeta uma pequena parcela da população. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), é aquela que atinge até 65 pessoas a cada 100 mil indivíduos.

Na maioria das vezes, são quadros de caráter genético – significa que pode acometer inúmeras gerações da família e a pessoa vai conviver com a doença durante toda a vida.

Ao contrário do que se imagina, uma doença rara não começa a se manifestar necessariamente na infância: ela pode ter início somente na vida adulta.

No Brasil, estima-se que 13 milhões de pessoas convivam com doenças raras. Em São Paulo, o Hospital Nove de Julho, da Dasa, possui uma Unidade de Doenças Raras e Imunidade, formado por médicos de diversas especialidades.

Uma das iniciativas da equipe é justamente atuar com pesquisa. Em artigo recente, divulgado pelos médicos da Unidade, foi observado um atraso médio de mais de 10 anos para o diagnóstico de uma doença rara.

Um caminho e tanto

A jornada do paciente com doença rara é longa. O grupo de pesquisadores constatou que, antes do diagnóstico definitivo, a maioria dos pacientes (52%) foi atendida por pelos menos três especialistas, entre eles clínico geral, nefrologista e cardiologista.

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Além disso, esses indivíduos necessitam de inúmeros exames para terem, enfim, uma conclusão do caso. Por esse motivo, é tão importante ter acesso a um centro especializado, que concentre a equipe de profissionais em apenas um lugar, facilitando ainda o acolhimento desse paciente.

+ Leia também: Epidermólise Bolhosa: luta das crianças-borboleta por uma vida mais digna

Cabe destacar que, dentro do universo das doenças raras, há aquelas que são consideradas muito raras. É o caso da Amilodoise Sistêmica, que atinge menos de 15 mil pessoas no Brasil, e é responsável por provocar o acúmulo de proteína amiloide no coração, nos rins, no fígado e outros órgãos – esse quadro foi tema de artigo publicado pelos especialistas do Hospital Nove de Julho.

A doença tem como sintomas comuns fadiga, inchaço, fraqueza, falta de ar, dormência e formigamento, ou dor nas mãos ou nos pés etc. Por conta disso, a investigação costuma ser desafiadora e os pacientes vivenciam uma longa jornada e atraso na detecção e início do tratamento adequado.

Avanços

Uma das ajudas da ciência foi a realização do exame genético, que revolucionou o diagnóstico de todas as doenças raras, uma vez que, como comentei, a imensa maioria delas (80%) tem origem genética.

Contudo, uma grande parcela da população ainda permanece sem um exame que comprove a doença.

A medicina e a ciência ainda podem contribuir (e muito!) para encurtar o caminho dos pacientes com doenças raras até um diagnóstico final.

Algumas recomendações dos pesquisadores para facilitar esse processo são: educação médica, ampliação das ferramentas de diagnóstico, maior acesso a terapias e criação de mais unidades de referência para a investigação e tratamento de doenças raras.

+ Leia também: PAF: uma luz sobre a doença rara

*Leonardo Oliveira Mendonça é médico imunologista e alergista, especialista em doenças autoinflamatórias e síndromes imunodesregulatórias, e coordenador do Centro de Doenças Raras e Imunidades do Hospital Nove de Julho.

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Doenças raras: novos exames podem trazer diagnóstico e tratamento precoces

Imagine uma paciente que passou boa parte da vida, desde os 6 meses até os 50 anos de idade, sofrendo com sintomas como febre, dor abdominal intensa, diarreia, colite e desconfortos articulares, tendo várias crises por ano e precisando constantemente recorrer ao pronto atendimento.

Depois de ser tratada rotineiramente com corticoide e antibióticos, além de internações e cirurgias, que, a longo prazo, deixaram sequelas, em 2016 a paciente foi internada no Hospital Nove de Julho, em São Paulo, pertencente à Dasa, maior rede de saúde integrada do Brasil. No local, a equipe do imunologista dr. Leonardo Oliveira Mendonça, coordenador do Centro de Doenças Raras da instituição, percebeu que havia algo de errado. “Começamos uma investigação que levou cinco anos para comprovar a suspeita de mutação genética”, relata o especialista.

Leonardo Oliveira Mendonça, coordenador do Centro de Doenças Raras no Hospital Nove de Julho –Dasa/Divulgação

Foi descoberto que a paciente sofria de uma doença rara, com duas mutações no gene NLRC4: a comunidade médica já conhecia casos com uma única mutação nesse gene, mas não se sabia que ela poderia causar a doença. Hoje, a paciente é a única no mundo comprovadamente portadora da condição autoinflamatória associada à forma recessiva do gene. Com o diagnóstico, feito em 2021, vieram o início do tratamento e, finalmente, o término das crises. O estudo, liderado pelo dr. Mendonça, foi conduzido por uma equipe com profissionais de países como Brasil, Itália, Alemanha e Austrália.

Infelizmente, esse não é um caso isolado. Apesar de os avanços da genômica contribuírem para o diagnóstico cada vez mais precoce das doenças raras, os pacientes podem passar por uma verdadeira saga para encontrar o diagnóstico certeiro, que inclui uma média de sete médicos e vários anos, às vezes décadas, para descobrir a enfermidade.

Por isso, os avanços nesse segmento devem ser comemorados. Referência em alta complexidade, o Nove de Julho é o primeiro hospital privado no Brasil a ter uma ala dedicada a pacientes com doenças raras. São dois andares, um para pacientes adultos e outro para a pediatria, com equipes multidisciplinares especializadas para atender às diferentes necessidades dos pacientes.

“Eles requerem uma atenção completa, observação clínica diferenciada, um olhar compenetrado para entender a complexidade da doença. Ter alas para acompanhamento desses pacientes, desde a entrada no hospital até a alta, é imprescindível para a recuperação. Além de termos criado uma Comissão Técnica de Biossegurança, que facilita a avaliação e a liberação de terapias avançadas, como a terapia gênica”, ressalta o imunologista.

Importância de se falar sobre doenças raras

Desde 2008, em 28 de fevereiro é celebrado o Dia Mundial das Doenças Raras. A data foi criada pela Organização Europeia de Doenças Raras (Eurordis) com o objetivo de incrementar os debates sobre a existência, as pesquisas e os tratamentos disponíveis para essas condições, proporcionando mais conhecimento sobre o tema e dando apoio aos pacientes e familiares.1

De acordo com o Ministério da Saúde, são consideradas doenças raras aquelas que afetam até 65 pessoas em cada grupo de 100 000 indivíduos. Estima-se que existam entre 6 000 e 8 000 tipos dessas enfermidades em todo o mundo, que impactam cerca de 13 milhões de brasileiros. Geralmente, elas são crônicas, progressivas e incapacitantes, podendo apresentar uma ampla diversidade de sintomas que dificultam o diagnóstico, causando um elevado grau de sofrimento físico e psicológico.2

Diante desse novo cenário, a dra. Natasha Slhessarenko, diretora médica do Alta Diagnósticos, em São Paulo, marca de medicina diagnóstica também pertencente à Dasa, reforça que há boas notícias e avanços: a América Latina tem caminhado a passos largos em inovações na área da genética, no sequenciamento de DNA e no desenvolvimento de vários tipos de exames genômicos.

De acordo com ela, aos poucos, o custo-benefício dessa medicina personalizada vai sendo percebido e valorizado, exatamente por proporcionar um tempo mais curto de investigação, bem como evitar hospitalizações e tratamentos equivocados.

Investigação após o parto

E a investigação pode começar, inclusive, logo após o nascimento. A realização de exames de triagem neonatal – o famoso teste do pezinho – é cada vez mais importante, já que o rastreio de doenças feito pelo exame está cada vez mais ampliado. Uma novidade recente é o BabyGenes, teste genômico que analisa 420 genes para, assim, acrescentar 390 doenças ao painel de detecção tradicional e é complementar ao teste do pezinho tradicional. O teste já está disponível na Dasa e, no futuro, espera-se que esses testes genéticos sejam incorporados à triagem neonatal para todos os recém-nascidos.

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“A genética é uma área da medicina fundamental para o diagnóstico dessas condições, uma vez que cerca de 80% delas têm causa genética. A maior parte se manifesta nos primeiros cinco anos de vida, muitas são progressivas e há casos nos quais o tratamento previne ou diminui a progressão”, explica o dr. Roberto Giugliani, head de doenças raras da Dasa Genômica, braço de genômica da Dasa.

Roberto Giugliani, head de doenças raras da Dasa Genômica, braço de genômica da DasaDasa/Divulgação

Segundo o especialista, atualmente, o teste do pezinho padrão inclui apenas sete doenças e deve chegar a cerca de 60 nos próximos anos. Os exames utilizam diferentes tecnologias: enquanto o teste convencional faz a análise bioquímica de algumas substâncias que estão em falta ou em excesso no sangue do bebê, o BabyGenes utiliza o mesmo sangue para analisar centenas de genes que são responsáveis por enfermidades que têm tratamento, mas são diagnosticadas mais tarde, quando a terapia já não é mais tão efetiva, afirma o dr. Giugliani.

Para encurtar essa jornada de forma assertiva, é fundamental que os médicos ampliem seu conhecimento sobre as doenças raras e sobre as possibilidades oferecidas pela genômica para solicitar os testes adequados para a investigação diagnóstica. “Nós, geneticistas médicos, estamos engajados nos estudos das doenças raras, mas ainda somos poucos: é uma especialidade relativamente nova, que conta com pouco mais de 300 especialistas no Brasil. É importante o engajamento de outras especialidades para acelerar o diagnóstico e contribuir para o seu manejo, melhorando a qualidade de vida dos pacientes e de suas famílias”, afirma.

“Diversos médicos geneticistas e de outras especialidades estão disponíveis na Dasa para discussão de casos e para indicar o exame mais recomendado para cada caso, bem como para ajudar na interpretação dos resultados dos testes genéticos”, complementa a dra. Natasha.

Inovação em testes genéticos

Além do BabyGenes, há outros exames que são recomendados em casos de pacientes com sintomas, como o dos “microarrays”, que permite detectar pequenas alterações nos cromossomos; os painéis NGS, que analisam simultaneamente diversos genes relacionados a um fenótipo definido; e o Exoma, que faz uma pesquisa mais profunda e analisa todos os genes identificados nas regiões codificantes do DNA. Eles também estão disponíveis nos laboratórios da Dasa.

“Este é, definitivamente, o ponto-chave: a importância da busca do diagnóstico. Ainda que exista tratamento para apenas 5% a 10% das doenças raras, com o diagnóstico correto podemos interromper ou retardar a progressão de uma doença, orientar os familiares e prevenir novos casos. Hoje em dia, fazemos até mesmo a coleta de exames em casa, de forma mais confortável. É a medicina do futuro que vai chegando e ocupando o seu espaço”, conclui a dra. Natasha.

<span class="hidden">–</span>Dasa/Divulgação

Novo espaço para os raros em Porto Alegre

Espaço especializado voltado aos pacientes com doenças raras e aos seus familiares, a Casa dos Raros iniciará suas atividades em breve na capital do Rio Grande do Sul. Idealizado pelo dr. Roberto Giugliani, junto ao presidente da Casa Hunter, Antoine Daher, o prédio construído em Porto Alegre contará com a parceria da Dasa nas áreas de medicina diagnóstica, por meio das marcas Exame e Dasa Genômica, e de pesquisa clínica. “Estou muito feliz em realizar esse sonho ao lado de profissionais e empresas tão renomadas e dedicadas a essa causa, à qual também venho dedicando a minha carreira. É um novo e importante momento na minha longa jornada ao lado dos raros”, comemora o dr. Giugliani.

A sede recebeu, nesta terça-feira (28), famílias e associações de raros, profissionais de saúde, autoridades e patrocinadores para uma visita guiada pelas instalações desse novo centro de referência para os pacientes com doenças raras no país.

Para o diretor de genômica e de pesquisa clínica Latam da Dasa, Gustavo Riedel, estar presente na Casa dos Raros é de suma importância para a empresa. “Vamos colaborar para o diagnóstico precoce dos pacientes com exames genômicos de última geração e para a busca de novos tratamentos para as mais diversas doenças raras, por meio da pesquisa clínica. É uma excelente notícia para todos, principalmente para os pacientes raros e seus familiares”, afirma.

Referências:

  1. Ministério da Saúde. Biblioteca Virtual em Saúde. Dia Mundial e Dia Nacional das Doenças Raras – último dia do mês de fevereiro. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/dia-mundial-e-dia-nacional-das-doencas-raras-ultimo-dia-do-mes-de-fevereiro/. Acesso em: 12 fev 2023.
  2. Ministério da Saúde. Doenças Raras. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/d/doencas-raras. Acesso em: 12 fev 2023.
  3. Ministério da Saúde. Biblioteca Virtual em Saúde. Teste do Pezinho. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/teste-do-pezinho/. Acesso em: 12 fev 2023.
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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Tecnologia detecta agrotóxico em tomates orgânicos

Cada vez mais gente aposta em comida orgânica. Só que, hoje, não existe uma análise aprofundada para garantir que os alimentos são realmente livres de pesticidas.

Com isso em mente, cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram uma plataforma capaz de rastrear resíduos químicos em vegetais.

Na sequência, eles adquiriram e avaliaram tomates ditos orgânicos. Resultado: cerca de 30% das amostras tinham traços de defensivos agrícolas.

“Ficamos surpresos. Esses tomates não poderiam ser vendidos como orgânicos”, afirma o farmacêutico Rodrigo Catharino, orientador da investigação.

Para ele, a nova tecnologia pode dar mais segurança aos órgãos reguladores e, claro, aos compradores desses alimentos.

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+ Leia também: Pesquisa identifica resíduos de pesticidas em papinhas infantis

Por dentro da plataforma

Invenção da Unicamp se baseia em inteligência artificial

  • Hora de aprender
    Com base no alimento orgânico de verdade, os cientistas ensinam o que a máquina deve buscar nas amostras investigadas. É a tal da inteligência artificial.
  • A aplicação
    O sistema mapeia, em minutos, todas as moléculas coletadas, identificando o que aumentou ou diminuiu em comparação ao alimento “original”.
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Do vegetal para o animal

De acordo com Catharino, a plataforma é fácil de usar e poderia ajudar a certificar outros tipos de itens orgânicos, como carnes.

O professor da Unicamp explica que, quando o animal sofre, substâncias chamadas interleucinas e outros sinalizadores químicos são produzidos — e o sistema conseguiria identificá-los.

Só que mais testes precisam ser tocados para confirmar o papel da inovação para além dos cultivos agrícolas.

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Quando a gordura se acumula no fígado − e em outros órgãos

Você tem excesso de gordura no fígado? Então pode ter também excesso de gordura em outros órgãos!

Talvez você já conheça o termo “esteatose hepática”, que faz referência ao depósito de gordura no fígado. Essa condição acomete cerca de 30% da população mundial e 80% das pessoas com diabetes. Está intimamente ligada (mas não somente) ao ganho de peso, especialmente à barriga.

A doença hepática gordurosa não alcoólica, outro nome científico do quadro, é uma das causas de fibrose e cirrose, podendo levar o órgão à falência. Ela é diagnosticada com a ajuda de exames de sangue e do ultrassom de abdômen, recursos nada exorbitantes e disponíveis em boa parte do território brasileiro.

O fígado é um dos locais em que mais facilmente detectamos o excesso de gordura ectópica, aquela que fica fora do tecido adiposo (as tais células de gordura). Mas os especialistas estão percebendo que quem tem gordura no fígado costuma ter um acúmulo de gordura anormal em outros órgãos vitais, como o coração e os rins.

+ LEIA TAMBÉM: O papel da dieta contra a gordura no fígado

Esse depósito gorduroso não está isento de riscos à saúde. Mas o fato é que existem obstáculos para identificar e dosar sua presença ao redor desses órgãos.

O primeiro: esse é um tema ainda pouco aprofundado entre a classe médica. Há dificuldades para estabelecer os limites normais e patológicos de gordura nessas regiões do corpo.

Segundo ponto: exames para detectar gordura no coração e nos rins não são fáceis de realizar nem se encontram disponíveis na maioria das cidades. Eles exigem pessoal capacitado e softwares específicos nos aparelhos de tomografia e ressonância.

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Mas é um assunto que não dá para jogar debaixo do tapete. O excesso de gordura na região do coração pode colaborar para o entupimento das artérias que irrigam o músculo cardíaco, promovendo infarto, arritmia ou insuficiência cardíaca.

O acúmulo gorduroso nos rins, por sua vez, pode ocasionar uma pressão física sobre esse par de órgãos, contribuindo para a insuficiência renal ou mesmo o surgimento da hipertensão arterial − a pressão é controlada por substâncias produzidas pelos rins.

+ LEIA TAMBÉM: O que está mudando no tratamento do diabetes

E, pasmem, o excesso de gordura ectópica pode aparecer e comprometer até a área do pescoço e da língua, favorecendo a apneia do sono, condição associada a roncos e paradas temporárias na respiração enquanto a pessoa dorme.

Por fim, o depósito de gordura pode se encontrar até no pâncreas e reduzir a capacidade desse órgão fabricar insulina, o que se torna mais um fator para o surgimento do diabetes nas muitas pessoas com propensão à doença.

Mas tem boa notícia nessa história. Um dos mecanismos pelos quais a cirurgia bariátrica e os novos medicamentos para obesidade diminuem o risco de problemas cardíacos e outras complicações é justamente pela redução do volume de gordura entre as vísceras.

Da mesma forma, um estilo de vida saudável e o tratamento do excesso de peso como um todo podem ajudar a combater (e prevenir) o depósito de gordura em locais em que ela não deveria ser encontrada além da conta. Isso vale para o fígado, mas também para muitos outros órgãos nobres.

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Quando a gordura se acumula no fígado − e em outros órgãos Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br

Microsoft usa ChatGPT para controlar robôs; Google cria sistema de IA para fábricas

Bot de conversação conseguiu comandar braço robótico e pilotar drone; Google desenvolveu algoritmo Robotics Transformer 1, baseado em 130 mil ações de robôs reais 

O ChatGPT não é bom apenas em conversa: também sabe escrever pedaços de softwares. E robôs são controlados por software. Seria possível juntar as duas coisas – e colocar o ChatGPT para comandar robôs? Foi a ideia de cientistas da Microsoft Research, que utilizaram o bot para comandar um braço mecânico e pilotar um drone. Eles usaram o ChatGPT “normal”, o mesmo que você pode acessar. 

O segredo está nos comandos, ou prompts. Os cientistas dizem ao algoritmo o que ele tem de fazer (montar o logo da Microsoft usando bloquinhos, por exemplo), apresentam as variáveis que deverá usar –  como grab(), release(), get_position(object) e move_to(position), na tarefa do braço robótico – e especificam como ele deverá responder (na linguagem de programação Python, por exemplo). 

O ChatGPT gera uma resposta em código, que então é inserida no braço robótico, drone ou outro dispositivo. Veja um exemplo no vídeo abaixo: 

Outro exemplo, em que o ChatGPT comandou um drone:

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Em ambos os casos, bem como nos demais exemplos publicados pela Microsoft Research, o ChatGPT não faz as coisas sozinho: um humano precisa pegar o código Python gerado por ele e inserir na interface do robô ou drone. Mas isso é um detalhe mínimo: seria trivial, usando a API (interface de código) fornecida pela OpenAI, a criadora do ChatGPT, automatizar o processo.  

Segundo a Microsoft (que é dona de parte da OpenAI, a criadora do ChatGPT), a ideia não é eliminar a ação humana – e sim tornar mais fácil o uso de dispositivos cuja operação requer código. 

Mas o Google pretende ir além. Criou um modelo de inteligência artificial, o Robotics Transformer 1, que usa uma rede neural do tipo Transformer (tecnologia que é a base do ChatGPT, e foi desenvolvida em 2017 pelo Google) para analisar, estruturar e controlar as ações de robôs industriais autônomos. 

Para treinar o RT-1, o Google gravou as ações de uma frota de 13 robôs (produzidos por sua subsidiária Everyday Robots), que executaram 130 mil tarefas, de 700 tipos diferentes, ao longo de 17 meses. O algoritmo observou as tarefas e aprendeu a reproduzi-las, com até 90% de precisão. 

<span class="hidden">–</span>Google/Reprodução

A ideia é que, no futuro, o RT-1 (que o Google liberou no formato open source) seja usado para construir e ampliar linhas de montagem robóticas, sem que as máquinas precisem ser manualmente programadas, uma a uma, por mãos humanas.

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Doenças raras podem ser mais comuns do que se imagina

Desde 2008, comemora-se o Dia Mundial das Doenças Raras em 29 de fevereiro, exatamente porque é uma data “rara”. Nos anos não bissextos, como em 2023, essa data é celebrada em 28 de fevereiro, mas mantém o objetivo: conscientizar sobre a existência desse diverso grupo de doenças.

O FDA (Food and Drug Administration) foi o primeiro órgão a reconhecer, em 1983, o grupo de doenças raras (na época, “doenças órfãs”, sem terapêutica destinada a elas) a partir do “Ato das drogas órfãs”, que visava facilitar o desenvolvimento de medicamentos para tais doenças.

Hoje, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica como rara qualquer doença que acometa até 65 pessoas a cada 100 mil indivíduos. Mas esse conceito ainda não é consenso. A União Europeia e a NORD (National Organization for Rare Disorders), por exemplo, consideram a proporção de 50 casos para cada 100 mil, diferente da OMS.

Cabe destacar também que as classificações das doenças baseadas em números podem variar ao longo do tempo, com o avanço da medicina.

+ Leia também: Receitas para quem tem doença rara

Um exemplo é a doença celíaca (ou intolerância ao glúten): há algumas décadas ela era considerada rara e com manifestações graves. Entretanto, com o surgimento de exames mais acurados, o diagnóstico foi potencializado e a doença se tornou “comum”.

Prevalência mundial

Baseados no Orphanet, um banco de dados europeu, pesquisadores estimaram, em 2020, que até 5,9% da população mundial (ou 446 milhões de pessoas) tenha alguma das mais de 7 mil doenças consideradas raras.

Uma vez que 72% desse total é de origem genética, grande parte delas é exclusiva da faixa etária até 12 anos de idade.

A herança genética também ajuda a explicar por que algumas são mais evidentes em pequenas etnias com alta taxa de consanguinidade (como exemplo, a doença de Gaucher, em judeus asquenaze).

Use a caixa de busca ou clique no índice para encontrar o verbete desejado:

A situação no Brasil

Extrapolando os dados europeus no Brasil, a estimativa é de até 12,2 milhões de pessoas com alguma doença rara por aqui.

Por essa razão, em 2014, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras, criando as bases para a formação da Rede Brasileira de Doenças Raras.

Embora os dados na área sejam ainda incipientes, o grupo publicou, em 2022, a primeira estimativa epidemiológica de 13 doenças raras, baseada no DATASUS, apontando cerca de 55 mil indivíduos.

Numericamente, fica claro o desafio a percorrer para amparar outras milhões de pessoas.

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Praticamente todas as áreas da medicina possuem quadros representantes dentro das doenças raras, mostrando a importância do acompanhamento multidisciplinar desses pacientes.

+ Leia também: Como podemos ajudar quem tem uma doença rara

A Reumatologia é uma especialidade única nesse sentido, uma vez que a maior parte das doenças que atende podem ser consideradas raras.

Há enfermidades com exames diagnósticos direcionados (por exemplo, doença de Lyme) e outras cujo diagnóstico é baseado exclusivamente em dados clínicos (como a síndrome de Schnitzler).

Outras são de causa monogênica (causadas pela presença de um gene alterado, como a osteogênese imperfeita) versus poligênicas (causadas por múltiplos genes) em um contexto ambiental propício (como o lúpus eritematoso sistêmico).

Há ainda exemplos com descrição médica recente (como a doença relacionada à IgG4) comparados a outras descritas há várias décadas (por exemplo, dermatopolimiosite).

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Raras dentro das raras

Recentemente, vem ganhando espaço um subgrupo composto por doenças raríssimas com poucos casos relatados.

São as doenças imunorreguladoras primárias, sendo cada uma nomeada de acordo com a alteração molecular identificada por métodos modernos de diagnóstico genético.

Esse grupo compreende, atualmente, 154 doenças, com uma média de oito novas síndromes descritas por ano nos últimos 10 anos. Um verdadeiro desafio diagnóstico para qualquer médico!

Além da dificuldade de identificação pelos médicos, há outros complicadores na jornada desses pacientes: acesso aos exames, geralmente realizados apenas em centros de referência; custo elevado para diagnóstico e tratamento, nem sempre contemplados pelo serviço público de saúde ou disponíveis em território nacional; e carência de profissionais especializados na área.

Em termos de saúde pública, é válida a discussão de como equalizar a conta entre oferecer serviços de qualidade para as doenças comuns e destinar recursos às pessoas com doenças raras.

O desafio é continuarmos com as doenças raras, mas não órfãs. E é exatamente essa a conscientização que o dia 28 de fevereiro busca nos trazer.

*Sandro Perazzio é reumatologista, membro da Sociedade Paulista de Reumatologia, professor afiliado da Disciplina de Reumatologia – Universidade Federal de São Paulo, médico assistente-Doutor do Setor de Imunologia do Laboratório Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e coordenador da Comissão de Doenças Raras da Sociedade Brasileira de Reumatologia

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domingo, 26 de fevereiro de 2023

Diagnóstico genético pode favorecer o tratamento de doenças raras

O dia mais raro do calendário, 29 de fevereiro, é também marcado pelo Dia Mundial e Nacional das Doenças Raras. A data foi criada em 2008 pela Organização Europeia de Doenças Raras (Eurordis) e tem o objetivo de conscientizar sobre essas doenças e apoiar os pacientes e seus familiares.

No Brasil, as doenças são consideradas raras quando afetam 65 a cada 100 mil pessoas. Com isso, são cerca de 13 milhões de brasileiros e 300 milhões de pessoas no mundo vivendo com uma doença rara.

O número de portadores pode ser ainda maior, uma vez que o diagnóstico assertivo ainda é um grande desafio.

Existem mais de 6 mil doenças raras e elas manifestam múltiplos sinais e sintomas, que podem variar até mesmo entre pacientes com a mesma condição.

Assim, seu diagnóstico é complexo, demanda visitas a diversos especialistas e leva, em média, de 2 a 4 anos para ser concluído, podendo se estender por até 10 anos.

+ Leia também: Receitas para quem tem doença rara

Essa demora contribui para a progressão dos sintomas e pode levar a consequências graves. Afinal, a falta de diagnóstico distancia os pacientes de doenças raras de uma possibilidade de tratamento.

É importante destacar que cada uma dessas doenças é rara, mas, juntas, elas representam um número relevante de condições e pacientes.

Doenças raras podem ter origem infecciosa, autoimune, ambiental, genética ou ainda não ter motivo conhecido.

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A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que 80% delas têm causa genética, seja por conta de alterações genéticas herdadas ou por novas mutações, em que a pessoa é a primeira na família a ser afetada.

Sendo assim, um exame genético pode ajudar a chegar ao diagnóstico de forma mais rápida e precisa.

Além disso, os avanços na área da genômica também abriram a possibilidade de prescrição de tratamentos mais efetivos: isso porque os exames genéticos identificam alterações no DNA associadas às doenças raras, fornecendo respostas precisas sobre a causa genética.

Assim, possibilitam, em alguns casos, tratamentos personalizados, já que diferentes mutações podem causar diferentes manifestações clínicas.

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Portanto, um diagnóstico correto e precoce, como o diagnóstico genético, é essencial para que o tratamento, quando disponível, seja rapidamente iniciado, garantindo mais qualidade de vida.

Apesar de não existir cura para muitas dessas doenças, a cada ano o número de medicações e terapias em desenvolvimento aumenta.Ainda que muitos avanços tenham sido alcançados, algumas doenças raras ainda são desconhecidas ou passam despercebidas.

É imperativo que existam informações de confiança para a conscientização sobre o assunto e exames precisos disponíveis a todos os pacientes com doenças raras e seus familiares. A doença pode ser rara, mas o diagnóstico não!

*David Schlesinger é médico, doutor em genética pela USP e CEO da Mendelics (laboratório brasileiro especializado em diagnóstico genético) e do meuDNA.

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sábado, 25 de fevereiro de 2023

Talher eletrônico para quem tem Parkinson

Em seu trabalho de conclusão de curso em engenharia elétrica pelo Centro Universitário de Brasília (CEUB), Davi Mogrovejo desenvolveu um talher de baixo custo para indivíduos diagnosticados com Parkinson.

Como se sabe, uma das principais manifestações da doença são os tremores. Pois o talher tem a capacidade de se ajustar e impedir a queda da comida.

Hoje, esse tipo de dispositivo tem um preço salgado — por volta de 3 mil reais. O protótipo criado por Mogrovejo, no entanto, custaria só o valor do material. O objetivo é torná-lo acessível a muito mais gente com o distúrbio nervoso.


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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Montanha na lua é batizada em homenagem a Melba Roy Mounton; conheça a cientista

A União Astronômica Internacional (IAU) anunciou a aprovação de um novo nome para uma montanha na Lua. A Mons Mouton, uma montanha de 6 mil metros de altura próxima ao polo sul do satélite, ganhou o nome da matemática americana Melba Roy Mouton.

“Melba Mouton foi uma de nossas líderes pioneiras na Nasa”, afirma Sandra Connelly, administradora adjunta interina de ciência na sede da Nasa em Washington, D.C. “Ela não apenas ajudou a Nasa a assumir a liderança na exploração do desconhecido no ar e no espaço, mas também traçou um caminho para outras mulheres e pessoas de cor seguirem carreiras e liderarem a ciência de ponta na Nasa”.

Mouton entrou para a Nasa em 1959, com 30 anos de idade. Como matemática chefe do recém-criado Centro de Voos Espaciais Goddard, ela supervisionou uma equipe de rastreamento dos satélites Echo 1 e 2, lançados em 1960 e 1964, respectivamente.

Alguns anos depois, em 1961, Mouton era a programadora-chefe responsável pela Seção de Sistemas de Programas da Divisão de Análise de Missão e Trajetória – a equipe que codificava programas de computador usados ​​para calcular localizações e trajetórias de espaçonaves, dando à Nasa a capacidade de rastrear espaçonaves em órbita.

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Antes de se aposentar em 1973, depois de 14 anos na Nasa, Mouton ocupou o  cargo de chefe-assistente de programas de pesquisa da Divisão de Trajetória e Geodinâmica em Goddard. Em agradecimento aos seus serviços e realizações, que contribuíram para o sucesso da missão Apollo 11 em 1969, ela recebeu o Apollo Achievement Award.

Mouton faleceu em 1990, com 61 anos, devido a um câncer no cérebro. Para honrar suas contribuições e seu legado, foi proposto batizar uma grande montanha lunar com seu nome. 

Mons Mouton, localizado perto do polo sul da lua, é uma montanha imponente de cerca de 6 mil metros de altura com um topo plano de cerca de 5 mil quilômetros quadrados – o Distrito Federal, para comparação, tem pouco menos de 5,8 mil. A região é também um dos 13 locais candidatos a receber o pouso da futura missão Artemis 3 da Nasa. O projeto Artemis visa enviar astronautas à Lua pela primeira vez desde 1972, incluindo a primeira mulher e pessoa não-branca visitarão o satélite.

Segundo a IAU, seu tema para nomear montanhas lunares – chamadas de “mons” – dá preferência para “cientistas que fizeram contribuições importantes ou fundamentais para seus campos”. A homenagem reconhece a vida de Mouton, suas realizações como cientista da computação e suas contribuições para as missões da Nasa.

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Casos de herpes-zóster subiram 35% após pandemia de Covid, diz estudo

Os casos de herpes-zóster subiram 35% após o início da pandemia de coronavírus, segundo um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Montes Claros (MG). O dado corrobora a teoria de que a Covid-19 pode aumentar o risco do quadro, que é desencadeado pelo mesmo vírus da catapora e provoca lesões doloridas e coceira.

Para chegar a esse número, foram comparados os diagnósticos de zóster feitos entre março e agosto de 2020, e no mesmo período em 2017 e 2019, antes da pandemia.

O estudo brasileiro, que usou dados do Sistema Único de Saúde (SUS), teve a intenção de demonstrar a alta dos casos no Brasil, visto que levantamentos semelhantes já identificaram o aumento na incidência de herpes-zóster em outras partes do mundo.

No entanto, ninguém consegue comprovar cientificamente a relação entre as duas doenças.

+ Leia também: A ameaça do herpes-zóster

Entre as possíveis explicações, está o fato de o vírus varicela-zóster, causador da infecção, se manifestar quando a imunidade sofre abalos de qualquer tipo.

“O que se imagina é que o coronavírus se instala, faz uma bagunça no organismo e o varicela tira proveito disso para se reativar”, explica João Prats, infectologista do Beneficência Portuguesa – BP.

A presença do coronavírus faz com que o sistema imune gaste energia para se livrar dele, mesmo em casos não considerados graves, o que daria esse espaço ao zóster.

“Isso ocorre em outros momentos, como depois de uma cirurgia, e é mais comum entre paciente oncológicos ou que convivem com o diabetes tipo 2, que têm problemas no sistema imune”, lembra Prats.

Em busca de dados que saiam do campo das hipóteses, alguns pesquisadores afirmam ter encontrado anticorpos contra o vírus varicela zóster, causador da doença, em pessoas com Covid longa (quando há sintomas que duram pelo menos dois meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo).

“Só que há uma fragilidade nesses estudos: não basta encontrar anticorpos, mesmo que eles pareçam recentes. É preciso detectar o vírus varicela ativo para estabelecer essa relação direta”, afirma o médico do BP.

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O que fazer para evitar o herpes-zóster?

Cuidar da imunidade e ter uma vida saudável é uma das chaves para evitar a reativação desse vírus. Tomar a vacina também é importante, ainda mais para quem está acima dos 50 anos.

A preocupação com o zóster é que ele pode levar a dores crônicas e aumentar o risco de doenças cardiovasculares, entre outras repercussões no organismo.

“O risco do zóster é que o vírus se instala no nervo e o danifica para sempre. Isso pode não ter consequências, mas há casos em que as dores são fortes e não vão embora”, pontua o médico do BP.

Quem for surpreendido pela infecção deve fazer o tratamento de forma rigorosa. “Temos boas opções, com medicamentos disponíveis no SUS, como o antiviral aciclovir, mas a adesão é difícil, já que é preciso tomar cinco comprimidos diários”, pontua Prats. Há opções mais simples na farmácia, mas a um custo maior.

Quem pode tomar a vacina?

duas opções de vacina contra herpes-zóster, ambas disponíveis apenas na rede privada. A Shingrix  — mais recente, indicada para idosos e imunossuprimidos — e a Zostavax, indicada a um público mais geral.

Entre 18 e 49 anos de idade, é preciso ter indicação médica para poder receber o imunizante.

“Quem está acima dessa idade pode e deve tomar, já que a indicação está na bula, e esse público é mais suscetível à doença independentemente de ter sido infectado pela Covid-19”, explica Gustavo Campana, vice-presidente médico do Grupo Alliar de Medicina Diagnóstica.

Falando em Covid-19, o Sars-CoV-2 segue circulando, mesmo em uma fase mais “tranquila” da pandemia. Por isso, Campana entende que os grupos mais vulneráveis a quadros graves devem avaliar com seus médicos a possibilidade de investir no imunizante contra o zóster, para evitar mais essa possível complicação.

+ Leia também: Herpes-zóster: veja as causas e como é feito o tratamento dessa infecção

Quem já teve Covid e apresentou zóster pode receber o imunizante para evitar que hajam outros episódios. “Há um protocolo a seguir, não se pode receber a vacina se o vírus estiver ativo ou as feridas ainda estiverem em cicatrização”, alerta Campana.

De qualquer forma, o melhor é consultar um especialista e entender a melhor forma de se proteger contra a doença. Aliás, também é importante estar protegido contra a própria Covid-19, visto que os imunizantes comprovadamente evitam casos graves, mortes e a incidência da própria Covid longa.

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Enquete: você já fez tratamento com remédios para perder peso?

No Brasil, mais da metade da população se encontra acima do peso e 22% estão com obesidade propriamente dita. Trata-se de uma condição de incidência crescente.

E. nos últimos tempos, novos remédios para resolver essa condições têm chegado ao país. De olho nisso, queremos saber:

 

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5 livros para refletir sobre saúde mental e se introduzir na Cultura Psi

O cuidado com a saúde mental nunca foi tão urgente como nos últimos anos. No entanto, ainda existem muitos tabus e preconceitos, além de muito desconhecimento sobre o tema.

É por isso que insisto tanto no fortalecimento de uma Cultura Psi, ou seja, uma cultura em que os assuntos do nosso mundo interno são expostos sem melindre, podendo ser discutidos em nossa sociedade com naturalidade e recebendo todo o respeito e acolhimento que o nosso bem-estar psíquico merece.

Nesse sentido, não é incomum que pessoas interessadas me procurem pedindo indicações de leitura sobre o tema. Então resolvi fazer uma seleção de cinco livros de introdução à Cultura Psi.

São obras que certamente agradarão tanto leitores familiarizados com esse mundo quanto aqueles que não possuem formação específica na área, mas se interessam em desvendar os segredos da mente humana. Eis a lista:

1. Manuscrito inédito de 1931, de Sigmund Freud

Uma joia encontrada por acaso, em um canto empoeirado de uma livraria italiana, pelo psicanalista brasileiro Alexandre Socha. Esse texto do pai da Psicanálise, até então inédito, foi publicado em 2017 pela editora brasileira Blucher, em uma edição bilingue.

Trata-se de um dos melhores livros introdutórios à psicanálise, escrito em linguagem acessível pelo próprio Freud que, assim como o nome desta coluna, esforçou-se por utilizar uma linguagem simplificada sem ser simplória.

Seu objetivo era alcançar o público leigo americano e comunicar alguns conceitos fundamentais, ainda que sofisticados, da psicanálise. Leitura aprazível, rápida e profunda, que conserva a conhecida genialidade da escrita freudiana.

Manuscrito Inédito de 1931 (Blucher)

capa do livro

2. A incrível história de Von Meduna e a filha do Sol do Equador, de Edmar Oliveira

A história da psiquiatria contada a partir do estado do Piauí, em um texto estruturado como um romance. Publicado em 2011, torna-se urgente hoje por várias razões.

Porque desmistifica a loucura e apresenta seu lado humano; porque ensina a história da psiquiatria e explica como essa história fabricou estigmas e preconceitos; porque evidencia a importância da Reforma Psiquiátrica brasileira.

Mas, sobretudo, porque serve de alerta contra a ameaça do retorno da lógica manicomial – iatrogênica, desumana e excludente – que reaparece hoje em dia travestida na inocente alcunha de comunidade terapêutica.

A Incrível História de von Meduna e a Filha do Sol do Equador (Oficina da Palavra)

capa livro

+ LEIA TAMBÉM: Outros artigos do blog Relações Simplificadas

3. A burrice do demônio, de Hélio Pellegrino

Ainda que seja uma coletânea bem circunscrita historicamente, reunindo 59 artigos escritos entre 1968 e 1988, os textos não perdem a sua atualidade.

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Ao ler o livro, vemos que a descoberta freudiana de que o inconsciente tende a atualizar o passado no presente também é verdade coletivamente. Fica evidente que o disparatado flerte com o autoritarismo que ameaça a nossa democracia hoje em dia repete um antigo vício brasileiro.

A obra é, assim, um convite à reflexão crítica da sociedade a partir da capacidade do “poeta da psicanálise” de revelar com precisão aspectos do funcionamento profundo do nosso psiquismo através de imagens e alegorias, refletindo sobre suas manifestações nas relações cotidianas, na arte, na cultura e na política.

A Burrice do Demônio (Rocco)

capa do livro

4. O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, de Oliver Sacks

Conhecido como um “cientista romântico”, Oliver Sacks, falecido em 2015, oferece uma aproximação dos fenômenos neurológicos através de contos clínicos curtos e envolventes.

Os textos transitam entre as histórias pessoais de seus pacientes e certos aspectos incomuns de comportamento, oferecendo ricas elaborações e explicações acerca das patologias cerebrais.

Seus livros explicam, de maneiro instigante, a complexidade do funcionamento de nossa máquina encefálica por meio de uma linguagem clara e simples, possibilitando uma experiência de leitura leve e fluida.

O Homem que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu (Companhia das Letras)

capa livro

5. A loucura do trabalho, de Christophe Dejours

Esta indicação é voltada especialmente aos profissionais que atuam em empresas e precisam administrar equipes, e a quem atua nos departamentos de Recursos Humanos.

O livro mostra que o mundo do trabalho nem sempre foi estruturado como é hoje e, evidentemente, não existem razões para que se mantenha como está.

Fruto de uma extensiva pesquisa, revela as estratégias defensivas inconscientes dos trabalhadores contra os sofrimentos psíquicos que o trabalho produz, assim como a importância de olhar para a ansiedade, a exploração do sofrimento e do medo do trabalhador.

É possível, ainda, observar como a atividade laboral pode ser organizadora do nosso mundo interno e oferecer perspectivas de crescimento pessoal, mas para isso é preciso adaptar o trabalho ao ser humano e não o ser humano ao trabalho.

A Loucura do Trabalho: Estudo de Psicopatologia do Trabalho (Cortez)

CAPA LIVRO

Espero que você possa aproveitar e desfrutar dessas boas leituras. E, se quiser me contar o que achou, escreva para francisco@relacoessimplificadas.com.br.

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