quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

De botox a lifting: desvende os procedimentos estéticos

Botox, lifting, colágeno, ácido hialurônico… Nunca se quis saber tanto sobre esses termos e os procedimentos a que fazem referência como nos dias de hoje. Em 2020, o Google já registrava um crescimento de 540% nas buscas pela expressão “harmonização facial” no Brasil.

Mas se engana quem acha que a moda agora é transformar as feições do rosto. Apesar das influências das redes sociais na procura de um padrão ideal, ganha cada vez mais espaço o realce da beleza natural. As pesquisas na internet por “pele” já ultrapassaram aquelas por “maquiagem”, por exemplo, e as técnicas não cirúrgicas que melhoram os traços originais se popularizaram nos consultórios médicos.

Essa é uma demanda em ascensão: de acordo com o censo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, em 2014 os tratamentos não invasivos representavam apenas 17% dos procedimentos realizados pelos cirurgiões; em 2016, eles passaram a ocupar 47,5% da agenda dos especialistas — um crescimento de 390%. Em 2018, metade dos procedimentos na área já não eram cirúrgicos.

Segundo relatório da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, mais de 600 mil aplicações de produtos injetáveis foram feitas por cirurgiões no Brasil em 2020. Isso sem contar o uso de tecnologias como lasers e o percentual de procedimentos realizados por dermatologistas.

“Muita gente não quer mais se submeter a cirurgias, a algo que vai exigir um pós-operatório e uma longa recuperação”, avalia a médica Ligia Novais, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). “As pessoas querem resultados mais imediatos e investir em melhoras pontuais. E boa parte delas tem medo de intervenções mais invasivas.”

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Nesse cenário, a tendência em alta é o que os experts chamam de manejo do envelhecimento. O objetivo não é mais fazer um procedimento quando as rugas se instalarem lá na frente, mas tratar o rosto com métodos mais leves desde cedo, capazes de prevenir o aparecimento das marcas da idade agora e no futuro.

No entanto, o crescimento vertiginoso na procura por essas soluções e a divulgação dos resultados pelas mídias colocam algumas questões: elas são puramente estéticas ou também envolvem a saúde da pele? Todo mundo deveria passar por elas?

“Antes de tudo, é preciso analisar se o paciente tem indicação e qual o benefício daquilo para ele. São intervenções mais ligadas a estética, ninguém vai adoecer se não fizer um procedimento”, responde a dermatologista Lilia Guadanhim, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A especialista continua: “Eu sou particularmente fã desses tratamentos, pois fazem bem à autoestima e à saúde mental das pessoas, permitindo que entrem numa espiral positiva. Elas investem num Botox e depois se sentem mais estimuladas a comer melhor e fazer exercícios. No fim, se cuidam mais e os resultados perduram”.

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Mas claro que existem ressalvas. “Infelizmente, há uma banalização enorme dos procedimentos estéticos, e bastante gente os enxerga como uma receita de bolo”, opina a dermatologista Maria Eduarda Pires, membro da SBD.

“Não é porque uma pessoa se beneficiou com algum tratamento que vai ser assim para todo mundo. A mídia e as redes sociais influenciam muito, e é comum pacientes chegarem querendo fazer algum procedimento porque viram que uma influenciadora fez. Mas aí é papel do especialista dizer se aquele tratamento se aplica ou não para o caso”, completa.

Aliás, a consulta a profissionais treinados, que realmente estudaram para indicar e realizar esses procedimentos, é um ponto de atenção. Como alerta uma campanha recente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), não dá para se submeter a uma intervenção dessas com qualquer um, sem o mínimo de formação adequada.

A seguir, VEJA SAÚDE traz um beabá dos procedimentos estéticos mais procurados e explica quando faz sentido recorrer a eles.

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Procedimentos para melhorar a qualidade da pele

Com essa finalidade, entram em ação procedimentos que procuram deixar a pele mais uniforme, eliminando ou minimizando manchas, cicatrizes, marcas de acne, vermelhidão, entre outros sinais que podem incomodar

<em>Clique na imagem para ampliar e aproximar!</em>Ilustração: Malena Flores/SAÚDE é Vital

PEELING

O nome vem do verbo em inglês to peel — literalmente, “descamar”. Ele estimula a renovação das células da pele por meio da indução da descamação.

Com isso, tende a melhorar a textura e podar manchas, cicatrizes, rugas e linhas de expressão.

O peeling pode ser superficial, de nível intermediário ou profundo. A SBD divide os procedimentos em dois tipos: químico, quando se usam substâncias como os ácidos salicílico, glicólico e retinoico para descamar a pele; e físico, quando o processo é mecânico e feito com aparelhos.

Mais recentemente, voltou à tona o peeling com fenol. Mas cabem alertas: esse composto pode ser tóxico ao coração e causar arritmias, então só deve ser feito com o paciente sob monitoramento cardíaco. Além disso, a intervenção é mais agressiva (o rosto chega a ficar em carne viva) e é preciso bastante cuidado para evitar manchas. O resultado completo só vem depois de um ano.

MICROAGULHAMENTO

O método contempla mínimas perfurações na pele com pequenas agulhas visando estimular a fabricação de colágeno e fibras naturais, o que deixa a textura mais harmônica.

O procedimento pode ser feito com rolinhos, canetas ou até carimbos. Os mais modernos associam radiofrequência às agulhas: assim, além de cutucarem fisicamente a pele, elas aquecem o local, o que pode potencializar os efeitos no longo prazo.

Essa é uma intervenção totalmente operador-dependente: o resultado está atrelado à força e à maneira com que as agulhinhas são utilizadas.

Danos colaterais como arranhões podem acontecer se o profissional errar a mão, assim como manchas, quando o uso da radiofrequência é inadequado. Hoje o microagulhamento pode ser feito em várias clínicas de estética, mas vale pesquisar os profissionais.

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LASERS

É um termo genérico para uma ferramenta à base de luz que pode tratar quase tudo em dermatologia.

Os lasers lançam no rosto uma radiação eletromagnética, e, através do que se chama de fototermólise seletiva, atingem um alvo específico — pode ser a melanina (pigmento natural), a hemoglobina (proteína no sangue) ou a água (que compõe o tecido).

No primeiro caso, o laser é indicado para apagar ou suavizar hiperpigmentação e manchas da idade ou do melasma; no segundo, para condições relacionadas à circulação, como vermelhidão e varizes; no terceiro, a ideia é estimular a produção de colágeno, proteína que ajuda a sustentar a pele.

Há uma infinidade de modelos de laser, e o resultado depende de fatores como parâmetros usados e número de aplicações e sessões. A marca da
tecnologia importa menos que a expertise do médico.

LUZES DE LED

A ledterapia atua por fotomodulação, ou seja, a exposição de luz na pele que é capaz de induzir um processo fotoquímico.

Dependendo do comprimento de onda (que origina as cores), o LED pode ter várias ações na cútis. As cores com mais estudo e garantia de resultados são o LED vermelho, que possui atividade anti-inflamatória e ajuda na regeneração de células, e o LED azul, que é antibacteriano e pode auxiliar no tratamento da acne.

Outras cores presentes em alguns procedimentos são o LED amarelo, prescrito para rosácea e dermatite, e o LED verde, que evita a pigmentação excessiva por trás de manchas.

Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica, as luzes de LED são boas opções para a regeneração cutânea após outros procedimentos, como laser ou luz intensa pulsada.

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Procedimentos para combater a flacidez

A queda de colágeno com a idade faz a pele perder sustentação e ficar menos viçosa. Daí também surgem linhas de expressão, como o famigerado bigode chinês. Mas há um elenco de tratamentos que buscam retardar esses efeitos

Clique na imagem para ampliar e aproximar!Ilustração: Malena Flores/SAÚDE é Vital

BIOESTIMULADORES DE COLÁGENO

Os queridinhos do momento: nada mais são que substâncias injetáveis (geralmente é o ácido polilático, a hidroxiapatita de cálcio ou a policaprolactona) que causam uma inflamação na pele e estimulam o organismo a produzir colágeno, mesmo quando ele já não o faz mais naturalmente.

Os efeitos não são imediatos: o pico de colágeno novo só é percebido de três a quatro meses após o procedimento. A quantidade de sessões necessárias e os resultados finais variam caso a caso.

Se for feita em peles jovens, para prevenção, uma aplicação pode durar até dois anos. Peles mais maduras costumam pedir três sessões anuais. Lembrando que essas são recomendações gerais: cada paciente deve ser avaliado e aconselhado por um dermatologista.

ULTRASSOM MICROFOCADO

Outro favorito por oferecer algo além do bioestímulo para a fabricação de colágeno: dar aquela levantada mais imediata na pele.

Essa tecnologia emite ondas que aquecem as camadas profundas da pele (derme ou fáscia muscular, tecido que recobre o músculo), criando pontos de coagulação e contração na região. Esses pontinhos provocam uma retração no tecido, como uma tração para cima mesmo.

Resultado: a pele já sai da sessão mais firme, e com um estímulo para produzir colágeno no longo prazo. Estudos mostram que combinar o bioestímulo com o ultrassom na mesma sessão potencializa os ganhos, pois eles atuam em camadas diferentes.

Para além do efeito de rejuvenescimento, o procedimento pode ser indicado para atingir e destruir células de gordura localizada, como as da papada debaixo do pescoço.

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LIFTING COM FIOS

No processo de envelhecimento, o organismo vai reabsorvendo osso e gordura e parando de produzir colágeno. Vem daí a flacidez na pele e aquela sensação de “derretimento” no rosto. Por que não levantar tudo?

O conceito dos fios de lifting é bem intuitivo: pegar o tecido que está caindo e amarrá-lo para cima. Na história da dermatologia, já tivemos fios de ouro, o russo, o silhouette e o mint, mas a versão em alta são os de PDO (polidioxanona), que são completamente absorvíveis e acabam instigando a fabricação natural de colágeno.

Há alguns poréns: a tração provocada pelos fios cede, por isso os profissionais não usam a técnica isoladamente, preferindo os fios para reparos finais. Pessoas com rosto muito cheio tendem a perder o efeito do procedimento mais rápido.

 

E as cirurgias?

São procedimentos mais invasivos (são cirurgias, ora!) e, em certos casos, só operações feitas em hospital resolvem a flacidez e outras marcas da idade. Por vezes, são as melhores opções inclusive em termos de custo-benefício. É preciso ter em mente que nenhum procedimento estético feito em consultório tem o efeito de uma cirurgia. Os tratamentos pouco invasivos provocam melhoras e podem até postergar a indicação de uma cirurgia em si, mas, quando já existem problemas ou demandas mais acentuadas, os experts recomendam a realização de lifting cirúrgico (que retira o excesso de pele e reposiciona estruturas faciais), blefaroplastia (que corrige pálpebra) ou rinoplastia (no nariz). Nesses casos, é comum dermatologistas encaminharem pacientes a cirurgiões plásticos.

 

Procedimentos para prevenir ou suavizar rugas

Esses tratamentos podem evitar a formação das marcas da idade, e, quando elas já estão lá, corrigem. Aqui estão os mais clássicos, que também passam por inovações e podem ser combinados

Clique na imagem para ampliar e aproximar!Ilustração: Malena Flores/SAÚDE é Vital

TOXINA BOTULÍNICA

Originalmente produzida pela bactéria Clostridium Botulinum, a substância impede a liberação de um neurotransmissor, que participa da comunicação entre os neurônios e os músculos. Isso bloqueia a ordem para a contração muscular e tira de cena a ruga.

O Botox é indicado especialmente para as linhas incômodas na testa, os pés de galinha, marcas no pescoço ou mesmo aquelas que aparecem quando a pessoa sorri ou franze o nariz.

Por outro lado, é pouquíssimo utilizado em regiões como o meio do rosto: não faz sentido aplicá-lo para melhorar o sulco nasogeniano, onde se forma o bigode chinês, porque essas linhas não aparecem devido à ação muscular.

A aplicação de toxina botulínica é considerada o procedimento estético mais popular no planeta hoje, mas a fama não prescinde de alguns cuidados básicos.

O profissional precisa entender a anatomia facial, o padrão de contração no rosto, qual a dose adequada, com que profundidade será administrada, entre outras variáveis que garantem um bom resultado.

A parceria com o médico também comporta uma curva de aprendizado, em que o especialista passa a compreender pontos e doses mais benéficos ao paciente, e esse passa a ficar satisfeito com texturas e contornos mais bonitos e naturais. No fundo, tem a ver com a tão falada individualização do tratamento.

Para além das rugas, o uso da toxina botulínica pode ser uma opção terapêutica contra cefaleia, bruxismo, hiperidrose, paralisia facial e estrabismo.

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PREENCHIMENTO COM ÁCIDO HIALURÔNICO

Até poucos anos atrás, “preenchimento” era sinônimo de “enchimento”: usavam-se substâncias como ácido hialurônico para tapar buraco, ou seja, preencher um bigode chinês ou uma olheira funda.

Mas isso era tratar a consequência, não a causa, o que acabava originando muito volume e um efeito artificial no rosto das pessoas. Por isso, o boom do ácido hialurônico veio com uma descoberta recente: a de que ele pode devolver a estrutura original ao rosto.

Hoje a substância não só preenche linhas como simula os contornos de osso e gordura, dependendo da indicação do paciente. A técnica tem baixo risco de provocar reações alérgicas — afinal, esse ácido também é produzido pelo nosso corpo — e alto grau de sucesso.

Basicamente, ele pode ser empregado em quatro categorias de intervenção: aperfeiçoar detalhes, como volume dos lábios ou redução de olheiras; melhorar a sustentação e a elasticidade da pele, atenuando marcas do envelhecimento; corrigir questões anatômicas, como um queixo muito para dentro; ou alterar características do rosto para ficarem mais próximas a um padrão desejado, como é feito nas harmonizações faciais.

Independentemente da opção escolhida, é preciso ficar claro que uma boa compreensão da anatomia do rosto e do processo de envelhecimento da pele é crucial para a técnica ser bem aplicada.

E quantidade não é sinônimo de qualidade: desconfie de profissionais que se gabam dos volumes usados nos pacientes. Prefira sempre médicos com especialização na área e cheque suas credenciais antes.

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