Somente em 2022, o câncer afetou 437 883 brasileiros, considerando todas as variações de tumores diagnosticados na rede pública. Dados assim chamam a atenção das autoridades sobre a necessidade de melhorar políticas públicas já aprovadas que permitam o acesso dos pacientes aos melhores cuidados – e rapidamente.
Os números justificam essa urgência: o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que, até 2025, teremos, anualmente, 704 mil pessoas acometidas pela doença – isso apenas no Brasil. No âmbito global, o retrospecto recente mostra que tumores malignos como os de traqueia, brônquios e pulmões estiveram entre as seis maiores causas de mortalidade no mundo entre os anos de 2000 e 2019, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O câncer afeta a todos. Mesmo quem não tem a doença, certamente conhece ou tem na família alguém que foi acometido por ela.
Os dados do Inca trazem uma questão importante: as desigualdades sociais e demográficas relacionadas à qualidade de vida e o acesso à saúde nas regiões brasileiras.
O câncer de colo do útero ilustra bem esse contexto: na região Sudeste, ele aparece em quinto na lista dos mais comuns, enquanto nas regiões Norte e Nordeste, surge em segundo lugar. Essa variação pode ser evitada, principalmente, com a vacina contra o HPV, que faz parte do Programa Nacional de Imunizações desde 2014.
Isso não significa, no entanto, que a aplicação da vacina seja algo simples em todas as regiões do país, especialmente as que carecem de logística mais complexa. Também não há plena compreensão do tema por pessoas de baixa escolaridade ou pouca instrução.
O cenário pode ser melhor compreendido ao lembrarmos que os 130 municípios com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil são justamente das regiões Norte e Nordeste.
Portanto, quando falamos de cuidados mais justos, não significa simplesmente fornecer recursos iguais a todos. Os tratamentos oncológicos, atualmente, são altamente individualizados, e cada desafio exige uma solução diferente.
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Nesse sentido, igualdade é dar o necessário para que todos fiquem no mesmo patamar, tornando realidade o direito de um tratamento de câncer adequado, onde todos tenham a mesma oportunidade de desfrutar da vida mais saudável possível.
É preciso que haja mobilização de esforços que contribuam para o combate e a prevenção do câncer no Brasil, tarefa que envolve atuações coletivas e individuais.
No âmbito coletivo, é necessário que governos de todas as esferas se dediquem à conscientização da população (especialmente àquelas das regiões mais carentes) sobre os fatores e comportamentos que acentuam o risco de desenvolvimento de tumores malignos.
Além disso, também é papel do poder público direcionar investimentos à área de saúde que fortaleça tanto a rede de centros de diagnóstico e tratamento da doença em si, quanto a infraestrutura de outros serviços públicos que facilitam o acesso da população à saúde, como o transporte.
No plano individual, cabe a cada pessoa instruída sobre o tema a adoção de condutas preventivas – alguns cânceres, como o de pele não melanoma, que encabeça o ranking dos cânceres mais prevalentes no Brasil, pode ser evitado com uso de protetor solar, por exemplo, e a identificação precoce da doença pressupõe altas chances de cura.
Como cuidados principais contra a doença, podemos destacar a manutenção de uma alimentação saudável, a prática contínua de atividade física, a rejeição ao fumo e às bebidas alcoólicas, a proteção da pele contra a exposição aos raios solares e, claro, consultas regulares com profissionais da saúde.
*Maira Caleffi é mastologista, fundadora e presidente voluntária da FEMAMA e chefe do Serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento (RS)
Câncer: políticas públicas devem garantir acesso igualitário a tratamentos Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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