terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Pesquisadores decifram cartas perdidas de Mary, Rainha da Escócia

Mary Stuart assumiu o trono da Escócia em 1542 e lá ficou até 1567, quando uma rebelião obrigou que ela abdicasse do trono e fugisse para a Inglaterra – onde reinava Elizabeth I, prima de Mary. O problema é que antigas pretensões de Mary ao trono inglês haviam despertado a hostilidade da rainha inglesa. Então, em vez de um refúgio, Mary chegou lá e encontrou 18 anos de prisão. A ex-rainha escocesa foi executada em 1587, quando foi descoberta uma conspiração para assassinar Elizabeth e colocar Mary em seu lugar.

Ao longo desses anos em cativeiro, a ex-rainha dos escoceses escreveu milhares de cartas para embaixadores, funcionários do governo, colegas monarcas e, mais tarde, conspiradores, com o objetivo de se libertar da prisão que considerava injusta. Mas Mary continuava sendo uma prisioneira: havia, claro, um punhado de pessoas de olho no que ela fazia. Por isso, muitos de seus textos eram criptografados – o que fez historiadores dos últimos séculos acreditarem que jamais teriam acesso ao conteúdo de tais cartas.

Mas elas não estão perdidas: um trio de pesquisadores acaba de decifrar o código de Mary. Como escrevem em um artigo publicado na revista Cryptologia, eles decidiram examinar textos codificados do acervo da Biblioteca Nacional da França num esforço para localizar, digitalizar, transcrever, decifrar e analisar cifras históricas. Mais tarde veio a surpresa: as páginas escolhidas para o estudo eram 57 cartas criptografadas de Mary, a maioria delas enviadas entre 1578 e 1584 para Michel de Castelnau – um embaixador e diplomata francês na Inglaterra, que apoiava a rainha escocesa.

Os pesquisadores transcreveram os documentos para fazer com que os 150 mil símbolos fossem legíveis por um computador. A máquina passou a substituí-los por letras, números ou palavras repetidamente. Nesse processo de tentativa e erro, o algoritmo conseguiu decifrar 30% do texto. A equipe teve que decodificar o restante por conta própria, num processo parecido à resolução de palavras cruzadas. 

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Os papéis com símbolos misteriosos não ofereciam pistas sobre o remetente, os destinatários ou sobre quando foram escritos. Mas conforme os pesquisadores trabalhavam nos textos, surgiam menções a um cativeiro, indicações de que o autor era uma mulher e referências a Francis Walsingham – o espião de Elizabeth I. Assim descobriram que as cartas eram de Mary.

Um “H” alongado, por exemplo, representava o conde de Shrewsbury, um nobre inglês que serviu como guardião da rainha durante seu tempo em cativeiro.Lasry et al. / Cryptologia, 2023/Divulgação
Palavras e nomes comumente usados nas cartas eram representados por apenas um símbolo.Lasry et al. / Cryptologia, 2023/Divulgação

Ela usou um código em que cada letra do alfabeto pode ser representada de maneiras diferentes. Palavras e pessoas comumente citadas também têm seu próprio símbolo (veja nas figuras acima). As cartas contêm, principalmente, reclamações de Mary sobre sua saúde precária, condições de prisão e negociações mal sucedidas com sua prima, a rainha Elizabeth I, para sua libertação. Ela também expressa sua angústia ao saber do sequestro de seu filho Jaime (futuro rei Jaime I da Inglaterra) em 1582 e conta que tem a sensação de que eles foram abandonados por seus aliados franceses.

Foram decifradas 50 mil palavras no total – e esta é considerada a descoberta mais significativa sobre Mary em um século. Mas os pesquisadores afirmam que fizeram apenas uma interpretação inicial das cartas. “Uma análise mais profunda dos historiadores pode resultar em uma melhor compreensão dos anos de cativeiro de Mary”, afirma George Lasry, cientista da computação e criptógrafo que liderou o estudo, em comunicado.

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