Quando a psiquiatra me disse as palavras “transtorno bipolar”, tinha tudo para meu mundo desabar. Mas, ao contrário, o diagnóstico me acalmou. Nunca haviam me respondido à pergunta que não saía da minha cabeça: “O que tem de errado comigo?”
Minha primeira crise foi na escola. Nervosa durante uma prova difícil, saí correndo e me abriguei no último espacinho do banheiro feminino. O que eu não sabia é que essa mesma cena se repetiria várias vezes na minha vida.
Era o dia da festa de aniversário de 1 ano do meu filho. Dessa vez, me encolhi no canto do box do chuveiro e decidi que dali não sairia. Enfrentar o mundo fora daquele cubículo seria insuportável. Aflita, minha mãe bateu insistentemente na porta trancada. Até que eu cedi.
Como se eu fosse uma boneca de pano, ela me deu banho, me vestiu e me carregou até a festa. Com meu filho no colo, cantei parabéns e tirei fotos sorrindo. A força de uma mãe não é explicada pela medicina. No final, voltei resignada para a cama.
Ao contrário do que se pensa, a depressão não é só tristeza. A depressão é desânimo, falta de prazer, angústia, culpa, medo e um desespero silencioso.
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Mas minha vida não foi feita só de sofrimento. Numa depressão resistente, um psiquiatra aumentou vertiginosamente as doses dos antidepressivos. Ao sair do buraco, o bipolar passa do ponto e alcança os céus. De repente, aquele mesmo banheiro virou palco de cantorias eufóricas. O espelho passou a refletir roupas estampadas e lábios vermelhos.
Onde quer que eu estivesse, dançava freneticamente como uma boneca com pilhas novas. Essa excitação toda tinha um nome: mania. A mania é o polo elevado do transtorno bipolar. Junto ao excesso de energia, vêm a autoconfiança, a autoestima, o otimismo e a falta absoluta de sono.
Só que, nesse estado, acabamos nos descolando da realidade. Com a certeza de que eu tinha superpoderes, atravessei ruas de olhos fechados. Por conta da compulsão por compras, tentei adquirir todos os apartamentos do meu prédio. Tive ideias geniais, que iam conquistar o mundo. Quem discordava virava alvo de irritabilidade e agressividade.
Por muito tempo, busquei a estabilidade. Não foi fácil. Mas a combinação adequada dos remédios, terapia e hábitos saudáveis me levaram a ela.
Foi difícil carregar o diagnóstico. Demorei um tempo para contar ao meu namorado, com medo de que ele me deixasse. Felizmente, virou meu marido.
Ouvi muitas vezes chamarem alguém de bipolar como uma pessoa tomada pela loucura. Em mania, podemos mesmo enlouquecer, mas, quando tratados, somos tão normais quanto alguém com diabetes e a glicemia controlada.
Lidar com o preconceito me motivou a lutar contra ele e ajudar pessoas que, como eu, passam por isso. Tomei coragem de tirar a minha bipolaridade do armário através de um livro, Bipolar, Sim. Louca, Só Quando Eu Quero (Matrix Editora). Nele conto a minha experiência de forma leve e divertida e realizo o sonho de me tornar escritora.
Hoje descobri que a bipolaridade não nos define e que podemos ser o que a gente quiser. Basta acreditar.
* Bia Garbato é escritora e publicitária, autora de Bipolar, Sim. Louca, Só Quando Eu Quero (Matrix Editora)
“Como superei a bipolaridade e decidi lutar contra o preconceito” Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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