Junho Vermelho é o mês de conscientização para a doação de sangue. Falar do assunto é chamar a atenção para os estoques dos hemocentros, que costumam sofrer uma queda expressiva durante o inverno e as férias escolares.
A data também mostra para a sociedade que um gesto simples e rápido pode transparecer o verdadeiro amor ao próximo. E para mim tem um significado ainda mais valioso: estar vivo.
Quando criança, após enfrentar uma longa jornada, fui diagnosticado com talassemia, um tipo raro de anemia hereditária.
A doença é transmitida de pais para filhos e faz parte de um grupo de doenças do sangue chamadas hemoglobinopatias – doenças da hemoblogina, um tipo de glóbulo vermelho, célula que transporta oxigênio ao corpo.
Ela pode ser dividida em dois tipos principais: a talassemia beta, a mais comum, e a talassemia alfa. O que as diferencia são as regiões do código genético afetados. Na primeira, o cromossomo 11 está alterado; na segunda, o cromossomo 16.
Eu faço parte do grupo da talassemia beta, que ainda pode ser dividida em três subtipos, de acordo com a gravidade da doença. A minha é a talassemia maior, ou seja, a mais crítica, por causar alterações nas questões clínicas e qualidade de vida.
Como parte principal do tratamento, estão as transfusões de sangue periódicas, geralmente a cada 20 dias, por toda a vida. A partir da transfusão, nos são fornecidas hemoglobinas saudáveis. Sem isso, não sobrevivemos.
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O efeito da transfusão de sangue
Como mencionei, a talassemia tem como principal característica a produção reduzida ou ausente de hemoglobina (o glóbulo vermelho) normal.
Então, quando recebemos o sangue, o objetivo principal é aumentar essa contagem com células saudáveis, necessárias para o funcionamento do organismo.
As transfusões aliviam ainda sintomas que atrapalham a qualidade de vida. A talassemia maior pode causar fadiga, fraqueza e falta de ar, devido à redução da capacidade de transporte de oxigênio pelo corpo.
Para evitar isso, é fundamental que os pacientes possam receber o sangue no momento adequado.
A importância das doações
Para que minha vida e a de centenas de outras pessoas com talassemia continue existindo, precisamos que nossa sociedade doe sangue.
No Brasil, o número de doadores está abaixo dos 2% da população, porcentagem definida pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) como ideal, e ainda mais longe dos 5% indicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
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Neste Junho Vermelho, a Associação Brasileira de Talassemia (Abrasta), na qual sou presidente, e a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) lançam, juntas, a campanha DOE SANGUE E SALVE VIDAS! Um dia, você também pode precisar. Sua atitude reflete em todos.
Nosso objetivo é alertar a população de que, assim como nós, qualquer pessoa pode precisar de uma transfusão de sangue. Seja porque desenvolveu um câncer, porque sofreu um acidente, porque vai realizar uma cirurgia ou por muitos outros motivos.
Como doar sangue
É muito simples. Os requisitos básicos são:
- Estar em boas condições de saúde
- Ter entre 16 e 69 anos, desde que a primeira doação tenha sido feita até 60 anos (menores de 18 anos precisam de autorização)
- Pesar no mínimo 50kg
- Estar descansado
- Estar alimentado
- Apresentar documento original com foto recente, que permita a identificação do candidato, emitido por órgão oficial
Quem teve Covid-19 pode doar sangue depois de 30 dias da cura.
Já indivíduos que tiveram hepatite depois dos 11 anos e pessoas que têm doenças transmitidas pelo sangue – como hepatites B e C, HIV, doença de Chagas e infecções pelos vírus HTLV 1 e 2 – não podem doar.
Também estão impedidos quem tem malária ou utiliza drogas ilícitas.
Para pessoas que têm tatuagem, maquiagem definitiva e micropigmentação, o prazo para a doação é de após 6 meses, desde que os procedimentos tenham sido feitos em estabelecimento seguro e adequado.
O mesmo vale para os piercings. Contudo, se este foi realizado na região da boca ou genital, o tempo é de 12 meses após sua colocação.
Doe sangue! Hoje, eu preciso de você. Mas, um dia, você também pode precisar de mim.
*Eduardo Fróes, paciente de talassemia maior e Presidente da Associação Brasileira de Talassemia (Abrasta)
Doação de sangue salva vidas. E sou prova disso! Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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