quinta-feira, 15 de junho de 2023

Peeling de fenol: mitos e verdades

Já faz alguns anos que viraliza na internet (e até em correntes de WhatsApp) vídeos de pessoas que tiveram o rosto transformado depois de se submeterem a um peeling de fenol.

E transformado não é exagero: vários destes conteúdos mostram mulheres e homens maduros parecendo que rejuvenescerem décadas após o procedimento.

Por incrível que pareça, não é fake news. De fato, o procedimento pode trazer ótimos resultados. Só que, para chegar a eles, é preciso contar com profissionais muito especializados e passar por uma recuperação bastante longa e cuidadosa. Não à toa, o peeling de fenol bem feito costuma custar caro.

Tamanho burburinho gera dúvidas. Qual é a indicação do peeling de fenol? Quem não pode fazer de jeito nenhum? Quais são os riscos? Existe peeling de fenol light? Esclareça suas dúvidas nesta reportagem.

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Antes de tudo: o que é o peeling?

O peeling é um dos procedimentos estéticos mais antigos que existe. Em manuscritos do Egito antigo, assim como na Grécia e Roma, já há menções de descamações induzidas para melhoramento da pele.

E ele nada mais é que isso mesmo: forçar uma descamação para que haja uma intensa renovação celular. O nome vem do verbo em inglês to peel — literalmente, “descamar”.

“Ele é indicado para melhora de textura, manchas, cicatrizes, rugas e linhas de expressão”, esclarece a médica Lilia Guadanhim, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

A SBD divide esses procedimentos em dois tipos: químico, quando se usam substâncias como os ácidos como salicílico, glicólico e retinóico para descamar a pele; e físico, quando o processo é mecânico e feito com aparelhos.

Dependendo da camada da pele alcançada pelo peeling, ele também pode ser classificado como muito superficial, superficial, médio ou profundo.

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A primeira categoria remove a camada de células mortas que recobre a pele através de uma esfoliação leve. Nesse grupo estão inclusos os famosos peeling de cristal e a microdermoabrasão.

Já a segunda categoria, superficial, envolve o uso de um ácido, como o ácido retinóico. Na formulação adequada, o produto causa uma descamação da pele para além da parte externa, chegando em camadas mais profunda da epiderme (a mais superficial da pele).

Os peelings médios combinam cerca de dois ácidos, e causam bastante descamação e vermelhidão, pois já atingem a superfície da derme, camada que fica abaixo da epiderme.

Agora, peelings profundos são bem mais sérios: eles já atingem a derme reticular, segunda camada da derme, provocando uma intensa produção do colágeno e multiplicação celular, praticamente renovando todo o tecido profundo e visível.

Ou seja: surge uma nova pele. E é aqui que se enquadra o peeling de fenol.

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O que é o peeling de fenol?

O fenol (C6H5OH), nome popular do ácido fênico ou ácido carbólico, é um composto que, em contato com a pele, induz a quebra das proteínas da epiderme, coagulação e produção de colágeno.

Os primeiros registros do uso do fenol para peeling foram feitos pelo médico alemão Paul G. Unna, um dos pais da dermatologia, ainda no século XIX.

Porém sua maior difusão só veio após a Primeira Guerra Mundial, quando a substância foi usada para tratar profundas cicatrizes faciais decorrentes do conflito.

Só décadas depois, em 1962, no entanto, veio o pulo do gato: após mais de 10 anos de pesquisa, os médicos Thomas Baker e Howard Gordon lançaram a fórmula Baker-Gordon, que misturou uma solução de fenol diluída em água, óleo de Cróton e sabão líquido, criando uma substância mais estável e com grande capacidade de penetração na pele.

Era o nascimento do peeling de fenol, que prometia provocar um rejuvenescimento de até 20 anos.

Mas, há um porém, e é a razão principal para o fenol não ser ainda mais popular: ele é uma substância altamente tóxica ao coração, rim e fígado. Seu mau uso pode provocar arritmia, infarto, falência de rins e intoxicação hepática séria.

Por isso, a fórmula original de Baker-Gordon só é aplicada em centro cirúrgico, com monitoramento cardíaco. “O que o torna tóxico é a penetração muito rápida”, esclarece Fabiana. “Após aplicar, a quantidade de produto que cai na corrente sanguínea é muito alta, por isso você precisa de todo um monitoramento geral do organismo”, pondera.

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Além disso, a substância pode causar hipo e hipercromias (diferença de coloração na cicatrização) e a regeneração da pele às vezes demora.

Se antes os riscos eram maiores e a recuperação envolvia até o uso de uma máscara de esparadrapos no pós-operatório, hoje a técnica e a fórmula evoluíram para se tornarem menos agressivas. E, feito por mãos experientes em peles bem envelhecidas, ele pode gerar resultados bastante expressivos.

Alguns estudos afirmam até que o resultado de um bom peeling de fenol não é alcançado por nenhum outro peeling ou mesmo tecnologia. Mas isso não é consenso na literatura, principalmente por conta dos cuidados e riscos do procedimento.

Agora sim, vamos aos mitos e verdades.

“Peeling de fenol profundo só é feito em centro cirúrgico”

Mito.

A fórmula de Baker-Gordon ainda é usada por alguns especialistas, que preferem, sim, atuar no centro cirúrgico. Mas o chamado fenol modificado surgiu para otimizar o procedimento.

“A diferença do fenol modificado é que ele tem uma penetração mais leve, devagar, controlada, porém com todos os benefícios do fenol clássico. E isso o torna possível de fazer dentro do consultório”, explica Fabiana.

“Por conta da aplicação lenta, no meu consultório a sessão demora em média 8 horas se for o rosto inteiro”, esclarece a dermatologista.

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O fenol modificado pode ser comprado por especialistas em farmácias de manipulação, mas é preciso ficar bem atento à fórmula. Por isso, um profissional experiente, que conheça todas as nuances, é essencial para um bom resultado.

“Eu sempre explicava para os meus alunos: escolha uma fórmula que você gosta, que venha de uma fonte confiável, e se especialize nela. Não é todo dermatologista que trabalha com fenol porque ele exige muito, e os profissionais temem intercorrências, o que está certo”, pondera Fabiana.

Ou seja: muita atenção com o profissional que vende peeling de fenol. Apenas médicos dermatologistas (ou cirurgiões plásticos) que se especializaram no procedimento estão aptos para fazer de forma segura.

“Existem muitas contraindicações para o peeling de fenol”

Verdade.

A começar pelo básico: qualquer questão cardíaca, renal ou hepática já impossibilita o procedimento. Mesmo uma arritmia leve, ou qualquer pequena alteração nesses órgãos.

Pessoas com doenças autoimunes, como lúpus, artrite reumatóide; ou crônicas, como diabetes, hipertensão, não devem fazer.

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Peles mais escuras também são uma questão: o fenol tem um efeito clareador, então pode causar um desconforto a mudança de tom após o procedimento.

Ele é mais indicado para peles claras, mas como no Brasil temos uma boa mistura de tons de pele, vale averiguar a indicação com um médico especializado.

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Lembrando que ele é um procedimento indicado para peles maduras ou com alterações mais graves, que já não se beneficiariam de procedimentos menos invasivos.

“O peeling de fenol dói”

Parcialmente verdade.

Claro, como é um processo demorado, o paciente precisa estar bem nutrido e preparado para passar por aquilo.

Geralmente ele já toma analgésico antes, pois o fenol causa uma ardência inicial ao ser aplicado, mas não é para a pessoa sentir muita dor.

Após 6 horas, quando há máxima absorção, também pode haver pico de desconforto, mas é preciso ficar atento se é algo excessivo. Nos primeiros dias, é possível sentir incômodo para comer e realizar movimentos com os lábios.

“Após 24 horas, se o paciente estiver com dor, é sinal de complicação, o médico deve averiguar o que está errado”, alerta Fabiana.

“O resultado demora a aparecer”

Verdade.

As pessoas não são mais esparadrapadas como antes, mas é preciso regenerar toda a pele, e isso exige um tempo.

Após o procedimento, é normal o paciente inchar e a pele ficar com uma crosta marrom, semelhante a uma queimadura, descamando e repuxando bastante.

Os cuidados no pós variam da indicação do profissional: alguns recomendam o uso de uma máscara oclusiva específica, feita com produtos que secam na pele por alguns dias (como se fosse uma máscara cosmética, que você aplica pastosa e depois retira inteirinha depois de uns minutos).

Outros preferem cremes, ou até mesmo nada.

Mas uma regra é inalterável: na primeira semana, o paciente não deve se expor ao sol de jeito nenhum. A melhor recomendação é não sair de casa.

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Por conta do desconforto, a dieta nesse início deve ser leve, sem alimentos muito duros ou difíceis de mastigar. Também não é indicado usar canudos, para não estimular rugas na região da boca.

Após uma semana, a pele fica bem vermelha, o que é normal. E toda a evolução da regeneração precisa ser acompanhada de perto pelo médico, para evitar manchas ou qualquer resultado diferente do esperado.

“A gente brinca que o paciente casa com o médico por um período. É preciso um contato muito próximo, até porque os produtos indicados para o pós dependem da cicatrização de cada pessoa”, afirma Fabiana.

Normalmente, um mês depois a pele já costuma estar com um aspecto bem agradável. Mas, isso varia de caso a caso, e pode demorar mais.

Como o estímulo para a produção de colágeno leva um tempo para se concretizar, o resultado final mesmo aparece depois de quatro meses.

“Peeling de fenol profundo só pode ser feito no rosto”

Verdade. 

Alerta importante, pois há vídeos na internet de pessoas que aplicaram o fenol em áreas como pescoço, ou até mesmo no braço, e tiveram resultados desastrosos.

E isso acontece por uma razão básica: a pele do rosto é diferente da do corpo.

“A regeneração da pele, a reepitelização, depende de folículos pilossebáceos. No nosso rosto, temos milhares de poros, de folículos, mas isso não ocorre em outras regiões. No pescoço, por exemplo, temos três vezes menos, o que atrapalha a capacidade de regeneração. Peeling de fenol é somente pro rosto”, explica a dermatologista.

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“Esse procedimento rejuvenesce 20 anos”

Verdade, com ressalvas.

Há relatos de pessoas que fizeram o peeling de fenol e não tiveram os resultados que queriam, e isso pode ocorrer por diversos fatores: indicação errada para o problema, fórmula do produto inadequada, profissional não especializado, etc.

São muitas variáveis. O fenol só é um aliado nas mãos certas, essencial lembrar sempre disso.

Existe “fenol light”

Verdade. 

Fazer o procedimento utilizando fenol clássico ou modificado no rosto inteiro é, sim, invasivo e agressivo. Fato.

Mas hoje o fenol nem sempre é usado no rosto inteiro. Muitos especialistas trabalham com aplicação localizada, apenas em algumas áreas mais marcadas, como a região dos olhos, por exemplo. Essa modalidade envolve um pós bem menos incômodo.

Além disso, hoje existe mesmo o fenol light. Ele é uma versão bem mais leve do fenol modificado, que penetra menos e não traz o mesmo resultado, mas também consegue boa indução de produção de colágeno. A recuperação é mais rápida e ele não deixa o aspecto amarronzado na pele.

Pode também ser usado associado a tecnologias como lasers, para aprimorar sua ação.

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“O peeling de fenol é caro como uma cirurgia”

Mito.

Fenol é caro: utilizando uma boa fórmula e com um bom profissional, o procedimento pode custar de 10 a 30 mil reais, dependendo da área, da indicação, do caso.

Entretanto, uma boa cirurgia de lifting facial para o rosto inteiro custa em média 50 mil reais.

E os dois nem sempre chegam ao mesmo resultado. Se estiver pensando em fazer, é importante consultar médicos especialistas para saber qual procedimento é o mais indicado para o seu caso.

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Peeling de fenol: mitos e verdades Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br

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