A dengue é uma doença infecciosa bastante comum no Brasil, transmitida principalmente por um mosquito chamado Aedes aegypti. Existem quatro sorotipos virais e, quando uma pessoa adquire infecção por um sorotipo, cria imunidade pela vida toda apenas contra aquele sorotipo, correndo o risco de desenvolver um quadro mais grave de dengue se contrair os demais tipos do vírus.
Apesar dos esforços da sociedade e do poder público para evitar a proliferação do mosquito, justamente o ano de 2022 foi o pior da história brasileira nesse sentido. Foram registrados 1.450.270 casos prováveis da doença e 1.016 mortes, número que pode ser ainda maior, haja vista a possível subnotificação.
A verdade nua e crua é que, enquanto lutamos contra as doenças crônicas como diabetes, câncer, hipertensão, colesterol alto, obesidade, insuficiência cardíaca e renal e Alzheimer, enfrentamos também o desafio de controlar infecções prevalentes e potencialmente letais como a dengue.
A conexão entre dengue e diabetes
Há uma conexão entre problemas crônicos de saúde e a moléstia disseminada pelo mosquito que pouca gente conhece. Em um compilado de 143 estudos englobando mais de 13 mil pacientes, pesquisadores investigaram quem seriam as pessoas com maior risco de desenvolver as formas graves de dengue, que normalmente exigem hospitalização.
Descobriram que, fora os indivíduos que pegam dengue pela segunda vez (de outro subtipo viral), estão mais sujeitos ao perigo aqueles com diabetes e insuficiência renal crônica.
Esse achado não pode ser menosprezado inclusive porque não dispomos hoje de um tratamento específico contra essa infecção. O que temos são medidas de suporte, como hidratação, internação e prescrição de analgésicos e antitérmicos para controlar a evolução do quadro e os sintomas.
Quase toda a semana recebo telefonema de pacientes meus, com diabetes, descrevendo que adquiriram dengue e que estão com a glicose totalmente descontrolada devido à infecção. Usualmente, tenho de recalibrar as doses dos medicamentos e da insulina nessas pessoas. Por vezes, é difícil domar a glicemia.
Isso me preocupa. A dengue não só representa uma ameaça em si como promove essa descompensação do diabetes, elevando o risco de cetoacidose e outras complicações que demandam internação, não raro até em UTI.
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Que venha a vacina!
Pelo cenário exposto, não vejo a hora de termos uma vacina contra a dengue acessível. Felizmente, isso está próximo da realidade. Em março de 2023, a Anvisa aprovou um novo imunizante no país.
Desenvolvida pela farmacêutica Takeda, a vacina é composta de vírus vivos atenuados dos quatro sorotipos de dengue, conferindo imunidade a quem já teve e a quem não teve a doença. O produto tem aplicação subcutânea em duas doses, com intervalo de três meses.
A vacina, voltada a indivíduos de 4 a 60 anos, já está sendo negociada com o governo federal. E cabe aos órgãos técnicos determinar se os custos serão compensados pelos benefícios de longo prazo de sua incorporação.
Após o esquema vacinal de duas doses, a prevenção de casos sintomáticos chega a 80%. Já a prevenção de internações hospitalares foi de 90% depois de um ano e meio. Ventos sopram a favor do imunizante.
Acredito que todos os médicos, a despeito da especialidade, devam abordar mais o tema da vacinação nas consultas. Não, o assunto não pode ficar restrito a pediatras e infectologistas. Precisamos, todos nós, ajudar o paciente a checar a caderneta vacinal e estimulá-lo a mantê-la atualizada. Estudos demonstram que esse ato simples eleva o engajamento dos cidadãos nos programas de imunização.
A perspectiva é de que a vacina para dengue chegue às clínicas privadas até julho de 2023. Ainda não sabemos quando estará disponível no SUS. Torço para que isso aconteça. Tanto para quem tem como para quem não tem diabetes.
Quem corre maior risco com a dengue — e o que esperar da nova vacina? Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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