Há séculos, o homem reconhece a importância de procurar e acessar os sinais vitais, pistas que refletem o estado de saúde de um indivíduo. Temperatura corporal, ritmo de batimentos cardíacos e pressão arterial são alguns deles — e os checamos em casa, no consultório e no hospital.
Numa era de avanços tecnológicos, em que edição genética, robótica, uso de sensores e inteligência artificial já são realidade, a busca por sinais vitais não seria deixada de lado. Nessa jornada, cientistas brasileiros têm uma contribuição relevante.
Na última década, eles comprovaram que o crânio humano pulsa, derrubando uma doutrina de 200 anos que afirmava que essa estrutura óssea era inexpansível. Depois, ao lado de empreendedores, desenvolveram um jeito de captar e medir as ondas emitidas pelo pulsar do crânio de uma forma não invasiva.
Essa conquista fez ruir uma antiga barreira de acesso ao monitoramento da pressão e da complacência intracranianas, até então restrito a métodos invasivos — que dependem de um furo no crânio — ou indiretos. O dispositivo médico que nasceu dessa história já rendeu 130 estudos em centros de pesquisa pelo mundo e mais de 60 publicações científicas.
Aprovado pelas agências regulatórias do Brasil e dos Estados Unidos, hoje ele torna possível acompanhar, de forma não invasiva, a pressão e a complacência intracranianas dentro de clínicas e hospitais. E os dados que fornece fazem a diferença no manejo e na reabilitação dos pacientes, pois entregam à equipe médica uma importante informação neurológica.
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Atualmente, a tecnologia é usada para identificar o aumento da pressão intracraniana, auxiliar no ajuste da pressão arterial em pacientes sedados para manutenção de fluxo sanguíneo cerebral, diagnosticar hidrocefalias e lidar com outras situações que podem repercutir no cérebro, caso de quadros hepáticos críticos.
Ter esses dados à mão, de forma fácil e rápida, permite aos profissionais agir com mais assertividade e segurança para salvar pessoas. Não só: o acesso a esse sinal vital poderá ajudar a entender e a controlar outras condições que, a rigor, não teriam relação direta com a caixa craniana. Esse avanço é apenas o início de uma jornada de incorporação de um novo sinal vital na prática clínica.
Também é preciso qualificar e quantificar sua contribuição para os desfechos esperados e sua respectiva viabilidade econômica. Esse segundo aspecto é mais desafiador, pois o modelo fee for service (pagamento pelo serviço) desorganizou o entendimento do que é efetivo e tem uma relação custo/benefício adequada na assistência médica — e isso tem a ver com modelos mentais antagônicos entre provedores e pagadores que, ainda assim, tentam buscar uma sustentabilidade financeira.
No entanto, todo mundo concorda com a necessidade de colocar o paciente no centro, e a tecnologia não só pode ajudar em seu restabelecimento como a mensurar, direcionar e agilizar intervenções, melhorando resultados. Essa é uma discussão urgente.
Enquanto isso, seguimos na fronteira da medicina, colocando o Brasil no mapa da inovação pela descoberta de uma nova forma de acessar um sinal vital.
* Plinio Targa é engenheiro e CEO da brain4care, startup nacional que criou uma forma não invasiva de medir a pressão intracraniana
O crânio pulsa: a busca de um novo sinal vital Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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