terça-feira, 20 de junho de 2023

Quais são os sintomas da febre maculosa? Saiba como evoluem e qual o risco

Marcada por febre alta e manchas por todo o corpo, a febre maculosa é uma doença transmitida pela picada de carrapatos-estrela infectados por bactérias chamadas riquétsias.

Na última semana, a enfermidade ganhou destaque nos noticiários após a identificação de um surto de casos envolvendo pessoas que participaram de eventos na Fazenda Santa Margarida, em Campinas.

Os visitantes teriam sido picados por carrapatos no local e apresentaram sintomas de febre maculosa nos dias seguintes. Ao todo, quatro mortes pela doença relacionadas aos eventos no interior de São Paulo foram confirmadas até a publicação desta matéria.

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Apesar da potencial gravidade, a febre maculosa pode ser facilmente prevenida e é tratável, desde que identificada no tempo certo. A seguir, entenda como ela se manifesta, a quais sinais prestar atenção e como evitar a infecção.

Sintomas da febre maculosa

A partir do momento que uma pessoa é picada pelo carrapato infectado, há um período de dois a 14 dias para que a bactéria se prolifere no organismo e comecem os sintomas. 

“Na maior parte dos casos, eles surgem na primeira semana”, afirma Gerson Salvador, infectologista do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP).

Em geral, os primeiros sinais são febre alta, dor de cabeça e dor muscular. 

Por ter sintomas iniciais semelhantes aos de outras doenças, como a dengue, o diagnóstico correto pode ser prejudicado, atrasando o início do tratamento adequado.

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Depois, aparecem os exantemas, nome genérico para manchas avermelhadas que surgem na pele, geralmente por conta de uma infecção, que somem quando pressionadas. É essa marca que dá nome à febre maculosa (macula, do latim, significa mancha).

“Na evolução da doença, existem também manifestações hemorrágicas, que são as mais graves”, acrescenta Salvador. “Nesses casos, os sinais que surgem são as petéquias, manchas de sangue debaixo da epiderme, a camada mais superficial da pele, que não desaparecem quando comprimidas.”

Além de hemorragias externas e internas, essas alterações sanguíneas também podem resultar na gangrena de extremidades de membros e da ponta de nariz e orelha.

O agravamento do quadro pode ainda levar à disfunção de diversos órgãos, como fígado, baço e rins. Também são comuns as queixas gastrointestinais, incluindo vômitos e dor abdominal.

“Em alguns casos, ocorrem quadros neurológicos, como meningites e meningoencefalites com manifestações de alta gravidade”, cita o infectologista baiano.

Diferentes espécies, quadros distintos

No Brasil, há duas espécies de bactérias riquétsias responsáveis pela febre maculosa — e cada uma provoca quadros diferentes nos pacientes.

A Rickettsia rickettsii, que pode ser encontrada na região Sudeste e no norte do Paraná, causa formas mais graves da doença, com alta letalidade. Ela que está por trás do surto em Campinas. 

Já a Rickettsia parkeri está associada a casos mais brandos. É mais comum nos estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia e Ceará, em regiões de Mata Atlântica.

“Ela causa uma ferida no local da inoculação [onde a pessoa foi picada pelo carrapato], além de febre com linfonodos, dor muscular e dor de cabeça”, lista Gerson Salvador. “Mas, via de regra, não são casos que evoluem para formas graves.”

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Transmissão da febre maculosa

Uma das explicações para todo esse estrago está na forma como as bactérias Rickettsia infectam as células humanas. Uma vez inoculadas no nosso corpo, elas podem chegar à circulação sanguínea.

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No sangue, o micro-organismo se espalha pelo corpo e chega a infectar células do endotélio como é chamado o tecido que reveste internamente os vasos sanguíneos, as veias e as artérias.

Assim, as riquétsias causam os danos que podem levar ao aparecimento de manchas e hemorragias.

Diagnóstico e tratamento

Além do fato dos primeiros sintomas serem parecidos com os de outras doenças, como dengue e febre amarela, a febre maculosa pode demorar a ser diagnosticada porque os exames para sua detecção não estão disponíveis na maioria das unidades de saúde.

Em geral, apenas os laboratórios referência em saúde pública possuem as tecnologias necessárias para flagrar a infecção. 

“Um dos métodos, por exemplo, deve ser processado a partir do sexto dia [de sintomas] e requer duas amostras para a confirmação do caso”, exemplifica Salvador.

Acontece, no entanto, que não se pode aguardar a confirmação do diagnóstico para começar o tratamento porque, quanto mais rápido ele começa, maiores as chances de cura.

A apresentação de febre alta, dor muscular, dor de cabeça e marcas de picada por carrapato na última quinzena já configuram o caso como suspeito para febre maculosa.

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Se o paciente não apresentar sinais de picada, mas vive ou frequentou lugares com maior risco da doença, a febre maculosa também deve ser considerada como possível diagnóstico.

Observando esse quadro, os médicos já começam o tratamento, que é feito com antibióticos como a doxiciclina ou o cloranfenicol. O tempo faz diferença.

“Quando a pessoa já apresenta um quadro de maior gravidade, com múltiplas disfunções, a letalidade é muito alta e as chances do tratamento ser eficaz diminuem”, lamenta o imunologista.

Prevenção

A medida mais eficaz para prevenir a febre maculosa é evitar lugares onde há transmissão conhecida ou provável. São as regiões de mata ou campos próximos de rios, onde vivem capivaras e outros animais que podem apresentar carrapatos infectados.

Usar roupas compridas e botas em ambientes como esses também ajuda. Em zonas de risco, recomenda-se ainda observar a cada duas ou quatro horas se não há parasitas presos ao corpo.

Caso algum carrapato seja encontrado, não arranque-o com mão ou esprema. “Retire-o com uma pinça fazendo um movimento rotacional, assim as chances de infecção diminuem”, ensina Salvador.

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Segundo o imunologista, iniciativas públicas de combate à febre maculosa também são importantes — soluções que não tratem apenas da saúde, mas também do meio ambiente.

“A transmissão de febre maculosa no Brasil se dá principalmente em regiões de Mata Atlântica, bioma que foi devastado pelo desmatamento. Com menos florestas, já um maior contato entre humanos e animais silvestres e, consequentemente, maior risco de doenças transmitidas por eles”, conclui Gerson Salvador.

Existe vacina contra febre maculosa?

Ainda não há vacinas contra a febre maculosa, mas diversos grupos de estudo ao redor do mundo estão pesquisando formas de desenvolvê-las.

Pesquisadores da USP, por exemplo, apontam que uma proteína do carrapato-estrela pode ser alvo para futuros imunizantes. O estudo foi publicado em março no periódico Parasites & Vectors

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