A Gestalt-terapia foi criada em 1951 por três psicoterapeutas, Perls, Hefferline e Goodman, com a publicação do livro Gestalt Therapy: Excitment and Growth in the Human Personality, título que já antecipa um dos objetivos da abordagem, restaurar os processos de crescimento e desenvolvimento humanos.
Trata-se de uma abordagem psicoterápica fenomenológica que visa conhecer a experiência do paciente tal como ela é percebida e compreendida pela pessoa, sem interpretações ou hipóteses, sem avaliações e julgamentos.
O acesso à experiência do paciente é dado através do que em Gestalt-terapia chamamos de awareness, que poderia ser traduzido por ‘ter consciência de’ ou ‘ter presente’.
Essa corrente da psicoterapia é também influenciada pelo existencialismo, que enfatiza questões como responsabilidade, individualidade e subjetividade.
O ser humano é livre e liberdade significa escolher (a não escolha é uma escolha), sendo que esse ato é limitado à situação. Sartre, um filósofo existencialista, diz que “o importante não é o que nos fazem, mas sim o que fazemos com o que nos fazem”.
A abordagem gestáltica tem uma visão holística de homem, o qual é considerado como uma totalidade indivisível, não havendo a dualidade entre mente e corpo.
Uma outra influência é a Psicologia da Gestalt, que estudou primordialmente os fenômenos da percepção, os quais são influenciados por fatores internos.
Postula-se também que não percebemos as coisas através da soma de suas partes, mas percebemos uma totalidade, uma Gestalt, que é constituída por figura e fundo, sendo que figura é aquilo que se destaca, o foco de nossa percepção, e fundo, todo o resto.
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Uma parte significativa de nosso sofrimento e de nossas dificuldades emocionais tem a ver com as Gestalten abertas ou situações inacabadas, às quais buscamos resolver a fim de nos livrarmos da tensão que ocupa muito de nossa energia.
Visando atender nossas necessidades de acordo com nossas possibilidades e as possibilidades do meio, fazemos um ajustamento criativo que implica na capacidade de atender nossas necessidades de acordo simultaneamente com nossas possibilidades e as do meio.
No processo terapêutico em Gestalt-terapia, buscamos resgatar os processos de desenvolvimento e crescimento utilizando as possibilidades e potencialidades do paciente a quem acolhemos e compreendemos com respeito, aceitação e validação de sua experiencia e de sua singularidade existencial.
Trabalhamos fundamentalmente com contato: o processo através do qual uma figura de interesse sobressai de um fundo ou contexto do campo do organismo e do ambiente. Por meio do contato, ocorrem mudanças na pessoa e nas experiências que ela tem do mundo.
O self é concebido como um sistema de contatos, sendo responsável pelos ajustamentos criativos na fronteira de contato.
A Gestalt-terapia trabalha no aqui-e-agora, sendo que o passado se faz presente no presente através de lembranças e recordações e o futuro através de planos, projetos etc. Nesta abordagem, vamos além das palavras e prestamos atenção também à corporeidade do paciente.
Na medida em que há awareness, contato e suporte, é possível ao paciente responsabilizar-se pelos próprios sentimentos, sensações e ações, o que lhe propiciará fazer escolhas e ajustamentos criativos mais adequados às necessidades e possibilidades de sua vida.
* Lilian Meyer Frazão é psicóloga, mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP) e docente do Departamento de Gestalt-terapia do Instituto Sedes Sapientiae, além de co-organizadora da coleção Gestalt-terapia: fundamentos e práticas (Summus Editorial)
Entre a figura e o fundo: o que é Gestalt-terapia? Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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