terça-feira, 6 de abril de 2021

ECMO: o que é isso e qual seu papel na Covid-19?

Nas últimas semanas, estamos vivendo uma explosão de casos de Covid-19, com números de internações e óbitos atingindo patamares impensáveis. Essa nova onda traz diferenças em relação à de 2020: pacientes mais jovens, comprometimento hepático mais frequente, casos adicionais de tromboses (com coágulos tanto nas pernas quanto nos pulmões).

Em resumo, temos casos mais graves ocupando mais leitos de UTI, e necessitando cada vez mais de recursos tecnológicos para superar a famosa “tempestade inflamatória” da Covid-19. E nesses estágios mais críticos da doença que pode entrar a ECMO (Membrana de Oxigenação Extra Corpórea), que também ganhou destaque após ser usada no tratamento do humorista Paulo Gustavo.

Vou tentar explicar como funciona a Oxigenioterapia nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em geral e os passos até se chegar ao uso da ECMO.

Pelo quadro infeccioso e inflamatório causado por uma pneumonia viral, os alvéolos pulmonares e os espaços entre eles (o interstício) ficam ocupados por células e substancias inflamatórias. Isso prejudica uma das principais funções do pulmão: eliminar o gás carbônico e permitir a passagem do oxigênio para o sangue.

Essa situação faz com que fiquemos com hipoxemia (baixa de oxigênio no sangue). Hoje, todos conseguem medir em casa a saturação de oxigênio no sangue através dos populares oxímetros.

Diante de uma hipoxemia, começamos a repor o oxigênio primeiro com um cateter nasal. É o famoso “caninho no nariz”, que aumenta a sua oferta na tentativa de normalizar seus níveis. Paralelamente, são instituídos os tratamentos clínicos necessários para combater a inflamação e a infecção.

Quando mesmo assim não conseguimos suprir a necessidade de oxigênio, utilizamos recursos da fisioterapia respiratória, como máscaras e aparelhos que “jogam” ar para dentro dos pulmões por pressão (a ventilação não invasiva).

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Podemos ainda intercalar ou usar continuamente um Cateter Nasal de Alto Fluxo, um recurso de alta tecnologia que apresenta bons resultados. É como se fosse aquele “caninho no nariz”, mas com um tamanho maior e com fluxo e pressão elevados de oxigênio.

Caso ainda assim as concentrações de oxigênio se mantenham baixas — ou o paciente apresente fadiga muscular excessiva para respirar —, partimos para os famosos respiradores ou ventiladores. Aqui, nós passamos um tubo na traqueia (intubação), obviamente com o paciente sedado, e, através dele, ligamos um respirador que introduzirá nos pulmões um ar com concentrações de oxigênio que vão de 25 a 100%. Enquanto isso, continua o tratamento medicamentoso para combater a infecção, a inflamação e possíveis trombos, dando tempo à recuperação do corpo.

Se nem assim tivermos sucesso, podemos partir para a ECMO. Ela consiste na retirada do sangue através de uma veia para uma bomba e por uma membrana artificial, que faz a função do pulmão. A técnica ajuda a eliminar o gás carbônico e a oxigenar o sangue, que então é devolvido para o organismo.

Podemos fazer isso por algumas semanas, lembrando que o paciente ainda está usando o respirador, até que consigamos vencer a doença que causou todo o estrago. Ao notarmos uma evolução, vamos reduzindo a necessidade da ECMO, depois do respirador e daí por diante, fazendo o caminho inverso do que acabei de descrever. Até que chegamos na desejada hora de liberar nosso paciente, amigo ou familiar de volta para casa.

Que fique claro: não é só a Covid-19 que causa esse rebuliço e, eventualmente, exige a ECMO. Outras infecções respiratórias, cirurgias e várias doenças pulmonares e cardiológicas também podem causar a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).

O que descrevi aqui de maneira simplificada é um caminho para a vida, e não um final de vida! Recursos existem e devem ser usados sempre de forma adequada. Não podemos ficar sem oxigênio!

Afinal, respirar é preciso.

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