segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Abelhas piratas e vespas assassinas: conheça os insetos bizarros do Pantanal

Texto de autoria de Rodrigo Aranda, do Instituto de Ciências Exatas e Naturais da Universidade Federal de Rondonópolis.

Quem tem um pouco mais de idade deve se lembrar da personagem Juma Marruá virando onça na novela “Pantanal”, exibida em 1990. Os mais novos terão a oportunidade de conhecê-la na regravação da novela, que deve ser lançada em 2022. Desde então, a onça se tornou símbolo do Pantanal Brasileiro.

Outras espécies nativas poderiam inspirar vilões do remake da novela. Não estamos falando de mamíferos, e sim de insetos.

Por muito tempo, as vespas e abelhas passavam despercebidas pelos turistas que visitam o Pantanal e até pela ciência. Até alguns anos atrás, mesmo um cientista que estuda esses animais não saberia responder ao certo quantas espécies são encontradas no bioma.

Aos poucos esse cenário começa a mudar. Uma das contribuições recentes é o trabalho de pós-doutorado “Efeito da intensidade e duração das cheias na estruturação da comunidade de Abelhas (Apoidea) e Vespas (Vespoidea) no Pantanal”, financiado pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect).

A pesquisa, que foi publicada no periódico Journal of Insect Conservation em 2018, tinha o objetivo principal de compreender como as abelhas e vespas estavam distribuídas ao longo de toda a planície de inundação do Pantanal e como o ciclo das águas afeta as espécies. 

Mas, primeiro, era preciso conhecer a fauna e saber de quantas espécies estamos falando. O trabalho de campo encontrou 107 espécies de abelhas, entre solitárias e sociais. Com base nesse número, é possível estimar a existência de 150 espécies na região.

Já para as vespas, que são “parentes” das abelhas, foram registradas 202 espécies, podendo existir mais de 350. Isso não inclui as famílias de vespas parasitóides, que não foram foco do estudo.

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A biodiversidade desconhecida (e bizarra) do Pantanal

Entre as abelhas e vespas coletadas, diversas espécies foram registros inéditos para o Pantanal ou para os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Diversos trabalhos publicados relataram novas ocorrências das espécies nos últimos anos, conforme elas eram confirmadas. É o caso das abelhas cleptoparasitas Ctenioschelus goryi (Romand, 1840) Mesocheira bicolor (Fabricius, 1804), Hopliphora velutina (Lepeletier & Serville, 1825 e Thalestria spinosa (Fabricius, 1804).

Thalestria spinosaRodrigo Aranda/Divulgação

As abelhas cleptoparasitas agem como piratas. Elas invadem os ninhos de outras espécies para roubar a comida (geralmente pólen) que foi coletada para alimentar as larvas. Ou seja, ela elimina o esforço que teria ao ir atrás de comida sozinha.

Já as espécies parasitas – também chamadas de parasitóides – colocam seus ovos em ninhos onde uma larva de abelha já está se desenvolvendo. Assim, a larva da invasora se alimenta da que está se desenvolvendo, sendo assim, predadora de outras larvas.

Com as vespas não é muito diferente. Algumas têm comportamentos dignos de filme de terror. É o caso de uma pequena vespa da família Pompilidae a Epipompilus aztecus (Cresson, 1869), conhecida como caça-aranhas. Ela paralisa o aracnídeo com seu veneno e deposita seus ovos no corpo da vítima. Quando a larva se desenvolve, ela devora a aranha.

A coleção de vespas bizarras continua. A Ammophila hevans (Menke, 2004), da família Sphecidae, são vespas conhecidas por caçar lagartas de borboletas e mariposas para alimentar suas crias. Já a espécie Scolia rufiventris (Fabricius, 1804) da família Scoliidae, caça larvas de besouros que se alimentam de madeira morta para alimentar suas proles.

Ammophila hevansRodrigo Aranda/Divulgação

Esses dados mostram quanta biodiversidade ainda desconhecida podemos estar perdendo em decorrência dos grandes incêndios recorrentes no Pantanal. Sem contar os serviços ecossistêmicos que essas espécies promovem, como a polinização das espécies nativas de plantas. A redução da população de abelhas pode acarretar em diminuição da produção de frutos, sementes e desestabilizar todo o ecossistema pantaneiro.

Quem sabe a nova novela ajude a despertar o interesse por mais estudos sobre o Pantanal – uma região riquíssima –, que está longe de ser só o habitat das belíssimas onças.

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