Você já deve ter ouvido falar em uma “ilha” de lixo que existe no oceano Pacífico. A chamada Grande Porção de Lixo (um nome apropriado, convenhamos) se espalha por cerca de 1,6 milhão de quilômetros (maior que o estado do Amazonas) e, na verdade está mais para uma sopa de detritos: são 79 mil toneladas de lixo, reunido pela corrente marítima.
Desse total, a maioria é plástico, proveniente de navios e das costas americana e asiática. E há uma grande variedade: desde grandes objetos (como material de pesca) a minúsculos pedaços, conhecidos como microplásticos, que surgem à medida que o material se fragmenta.
Não é difícil imaginar o estrago que isso pode fazer nos ecossistemas marinhos. A concentração de plástico pode impedir que algas e plânctons, por exemplo, recebam luz solar suficiente, prejudicando cadeias alimentares inteiras num efeito dominó. Outro impacto é a “pesca fantasma”, que acontece quando animais ficam presos em redes de pesca abandonadas.
Mas os impactos da sopa de lixo no meio ambiente podem ser ainda mais abrangentes do que se pensava. Alguns cientistas perceberam que espécies costeiras estão começando a viver nesse habitat plástico – o que pode ameaçar ecossistemas marinhos e terrestres. É o que sugere um novo estudo, publicado na revista Nature Communications.
Os cientistas já sabem que espécies que vivem no litoral podem pegar carona em “jangadas” e se transportar pelo oceano numa aventura conhecida como rafting. Isso acontece por meio de sementes, troncos ou algas, por exemplo. São jangadas biodegradáveis, que tornam o rafting um processo transitório.
Mas a presença em grande escala de plástico no meio ambiente significa uma mudança de paradigma. Jangadas como boias e garrafas são permanentes: espécies que pegam carona fazem do plástico seu lar a longo prazo e transitam distâncias ainda maiores no oceano.
“Agora existe habitat adequado no oceano aberto e organismos costeiros podem sobreviver no mar por anos e se reproduzir, levando a comunidades costeiras autossustentáveis em alto mar”, escrevem os pesquisadores do novo estudo.
Entre os organismos que estão protagonizando esse novo cenário estão espécies de cracas, caranguejos, anêmonas, hidróides e anfípodes. Eles compõem o que os cientistas chamaram de “comunidades neopelágicas” – “neo” significa “novo”, e “pelágico” se refere ao ambiente das águas oceânicas abertas.
Qual o problema? Esses animais podem passar a competir (por comida, por exemplo) com muitos organismos que vivem em camadas superficiais da água (e compõem o grupo conhecido como nêuston).
Outra questão identificada no estudo é que a existência dessas novas comunidades no oceano aberto pode funcionar como um trampolim: espécies costeiras de determinada região podem pegar carona num plástico qualquer, reproduzir-se, sobreviver na “jangada” por tempo considerável e acabar desembarcando em um novo habitat.
Dessa forma, muitos ambientes costeiros (de centros urbanos a áreas protegidas) podem se tornar mais suscetíveis a espécies invasoras, que potencialmente bagunçam a dinâmica do ecossistema local e ameaçam plantas e animais nativos. E como as correntes marítimas do Pacífico não são as únicas a concentrar lixo, esse pode virar um problema de escala global.
Os pesquisadores apontam que ainda há muito a descobrir e compreender sobre essas novas comunidades e sua dinâmica, mas algo é certo: existe a “necessidade urgente de abordar os diversos e crescentes efeitos da poluição de plástico na terra e no mar”.
Animais passaram a viver na “ilha” de lixo que flutua no Pacífico, indica estudo Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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