Nunca se falou tanto em longevidade. Essa é uma grande conquista dos nossos tempos, mas que veio acompanhada de inúmeros desafios. Estamos vivendo mais, ao mesmo tempo em que as doenças do envelhecimento nunca foram tão prevalentes no Brasil e no restante do mundo.
Em nosso país, ainda temos jovens em abundância, ao mesmo tempo que ganhamos uma população idosa cada vez mais proeminente. Isso só reforça a necessidade de investimentos na promoção da saúde.
O conhecimento, o direito de participar das decisões em âmbito coletivo e a inclusão dos idosos são temas urgentes na agenda do envelhecimento saudável.
Para alcançarmos tal objetivo, um conjunto de fatores precisa ser levado em consideração. Investir na saúde de quem está envelhecendo, ou já envelheceu, é essencial para que o Brasil possa continuar a ser sustentável e produtivo em vários aspectos.
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Nesse contexto, além dos problemas de saúde mais frequentes, é preciso direcionar um olhar especial para doenças pouco debatidas e que fazem parte dos desafios do envelhecimento.
A mielofibrose é uma delas. Esse é um tipo raro de câncer no sangue que acomete principalmente pessoas após os 50 anos de idade. O diagnóstico é complexo e os sintomas podem ser confundidos com condições de menor gravidade, caso de fraqueza, fadiga, emagrecimento e perda do apetite.
O aumento do baço e do fígado, acompanhado de dor ou presença de um volume abaixo das costelas, também liga o sinal de alerta.
Dentro da gama de tratamentos, hoje se sabe que o transplante halogênico é o único capaz de curar a mielofibrose primária, porém, muitos pacientes acabam não sendo elegíveis por conta dos riscos ligados ao procedimento, além da dificuldade de encontrar doadores compatíveis.
A boa notícia é que já existe um medicamento oral capaz de devolver qualidade de vida a esses pacientes. No entanto, ainda não está disponível no SUS, evidenciando as inequidades entre o sistema público e privado.
As diversas barreiras atuais para o diagnóstico e o tratamento da mielofibrose mostram que é urgente darmos mais atenção a essa doença, principalmente quando pensamos no SUS, sistema que atende mais de 75% da população.
Outro nicho que tem a ver com o envelhecimento e exige o olhar dos formuladores de políticas públicas é o das doenças da retina, tecido que fica no fundo dos olhos e é essencial para a captação das imagens.
No Brasil, temos cerca de 1,5 milhão de cegos, parte deles em função de problemas na retina. Um estudo recente publicado na plataforma Springer revela que os impactos da perda de produtividade ao longo da vida em pessoas com deficiência visual somam mais de 10 milhões de reais, o que afeta a sustentabilidade do sistema de saúde.
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O envelhecimento populacional, junto às mudanças no estilo de vida, vem aumentando consideravelmente o número de indivíduos com degeneração macular relacionada à idade, glaucoma e retinopatia diabética, que são consideradas causas importantes de deficiência visual severa e cegueira.
Por isso, além de estimular o diagnóstico e a adesão ao tratamento, se faz necessária uma mobilização social em torno das necessidades não atendidas de pacientes com doenças oftalmológicas, lembrando que a imensa maioria depende exclusivamente do SUS.
A atenção com a saúde ocular, assim como a detecção precoce e o tratamento do câncer, precisa estar contemplada nas políticas públicas para a população idosa.
Somente por meio da colaboração de diversos setores da sociedade poderemos garantir o bem-estar e a autonomia desse público, que tem o direito de viver plenamente essa fase da vida.
* Angela Sousa é presidente da Retina Brasil; Renato Tavares é médico hematologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG)
Políticas públicas para um envelhecimento com mais qualidade Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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