Diante da natureza ainda incurável do câncer de mama avançado, médicos e pesquisadores têm o desafio de desenvolver novas abordagens para a doença.
A imunoterapia, por exemplo, tem se apresentado como um vasto campo com múltiplas possibilidades de mecanismos de ação para novas drogas. O uso das vacinas também desponta no horizonte como uma alternativa que poderá ser aplicada já nos próximos anos.
Vale lembrar que, no mundo todo, o câncer de mama lidera entre as doenças que mais afetam as mulheres. Apenas em 2018, 2,1 milhões de novos casos foram diagnosticados ao redor do globo. O diagnóstico incluiu tumores localmente avançados/inoperáveis e metastáticos (que se espalharam para outros órgãos).
Os locais de metástase mais comuns para doenças malignas da mama são os ossos (67% dos casos), o fígado (40,8%) e as cadeias de linfonodos axilares (30% – 50%).
A literatura médica internacional ainda engatinha nas pesquisas sobre os estágios mais avançados desse tipo de tumor. No entanto, um dos estudos mais recentes estimou uma incidência de 160 000 novos casos da doença metastática nos EUA em 2017.
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Especialistas acreditam que a incidência de câncer de mama avançado é muito maior em países de rendas média e baixa, devido ao diagnóstico tardio – resultante da deficiência dos sistemas de saúde e da falta de programas de rastreio bem estabelecidos.
A situação é bastante preocupante. Para ter uma ideia, 25% das pacientes apresentam taxa de sobrevida de cinco anos. Mesmo em países desenvolvidos, as opções de tratamento ainda são muito limitadas.
Novidades na área
As diretrizes de 2020 da European Society of Medical Oncology para o tratamento do câncer avançado trouxeram métodos tradicionais, que tiveram poucos impactos nas taxas de sobrevivência dos pacientes.
Por outro lado, pesquisas com novas abordagens, como a imunoterapia, têm se apresentado como uma das áreas mais promissoras no tratamento desses casos.
Uma possibilidade emergente para a imunoterapia de câncer de mama avançado é o tratamento com células T, que consiste na coleta dessas células de defesa específicas diretamente da corrente sanguínea do paciente. Em seguida, há uma expansão dessas unidades in vitro e uma reinfusão do material no indivíduo.
Para ficar mais fácil de entender, seria como retirar alguns soldados de defesa do corpo da pessoa e devolver um batalhão.
Uma terapia emergente semelhante consiste em coletar células T de indivíduos saudáveis e alterá-las geneticamente para que reconheçam moléculas presentes no tumor com mais destreza. Assim, ao serem reintroduzias no organismo, elas atacariam o inimigo com mais facilidade. Esse procedimento é conhecido como CAR-T.
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Este tratamento está bem estabelecido para doenças hematológicas, como linfócitos crônicos e agudos de leucemia, mas é muito novo no tratamento de doenças como o câncer de mama avançado.
Em 2018, durante estudo com células T modificadas, inseridas em camundongos in vivo, pesquisadores notaram a redução (e, eventualmente, a eliminação) do tumor em todos os camundongos em até quatro semanas.
Em outro ensaio clínico, as células T foram programadas para atacar especificamente o c-Met, um receptor do fator de crescimento que é frequentemente amplificado em células desse câncer e está associado à progressão agressiva do tumor.
A análise dos tecidos mostrou que as células CAR-T causaram necrose tumoral e aumentaram a infiltração de células inflamatórias no tumor.
Os resultados desses trabalhos são promissores, e exigem uma investigação mais aprofundada sobre a terapia CAR-T para câncer de mama avançado da comunidade internacional de pesquisa. Afinal, os experimentos ainda são limitados e a maioria está focada em animais.
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Expectativa em torno de vacinas
Esforços adicionais para aumentar a resposta imunológica aos tumores de câncer de mama avançado estão também no campo das terapias com vacinas.
Um dos estudos mais promissores foi um ensaio clínico de Fase III, em que pacientes com câncer de mama avançado receberam uma vacina após se submeterem a tratamentos convencionais.
Em 15 anos, a taxa de recorrência da doença entre pacientes vacinados foi de 12,5%, contra 60% em pacientes que receberam o tratamento convencional e uma vacina placebo.
Em outra pesquisa, com uma segunda vacina, pacientes que tomaram o imunizante tiveram, em cinco anos, uma sobrevida livre da doença 14 pontos percentuais maior em comparação com quem recebeu placebo.
Como se vê, há perspectivas animadoras na abordagem contra o câncer de mama avançado. Mas é preciso seguir trabalhando duro, já que a doença não espera.
* Ramon Andrade de Mello é médico oncologista, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Uninove e da Escola de Medicina da Universidade do Algarve, em Portugal.
O potencial da imunoterapia e das vacinas contra o câncer de mama Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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