O enfrentamento do câncer é tão complexo quanto desafiador. Felizmente, a cada ano surgem importantes avanços no controle das diversas formas da doença, promissores recursos e alternativas terapêuticas para enfrentar tumores de difícil manejo.
No entanto, nos últimos dois anos, houve um impacto importante nessa trajetória otimista. A Covid-19 abriu um flanco de vulnerabilidades, com atrasos em diagnósticos e interrupções no acompanhamento e no tratamento de pacientes.
Todo esse contexto e seus desdobramentos foram temas de discussões no XXII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica, realizado pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), agora em novembro de 2021.
A presidente da entidade de 2019 a 2021 e coordenadora da Comissão Executiva do evento, Clarissa Mathias, reforçou a importância da atualização científica para os mais de 3 mil participantes. “Diante dos desafios do controle do câncer durante e após a pandemia, precisaremos mais do que nunca de tudo o que a ciência pode oferecer para o desenvolvimento do cuidado oncológico”, enfatizou.
Um dos destaques do congresso foi o debate sobre o Consórcio Nacional de Covid-19 em Pacientes com Câncer, o ONCOVID-19, estudo inédito iniciado pela própria SBOC em março de 2020 que teve por objetivo ampliar a compreensão sobre quais tipos de câncer ou tratamentos poderiam favorecer complicações em casos de contágio pelo Sars-CoV-2, além de avaliar e propor medidas estratégicas e protocolos para lidar com isso.
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A pesquisa compilou informações vindas de todas as regiões do país sobre as infecções pelo coronavírus de acordo com o tumor e os resultados do tratamento. Oncologistas de 39 instituições reportaram 1 446 casos ao projeto. Nas próximas etapas, serão feitas análises multivariadas para identificação de fatores de risco que levem ao desenvolvimento de formas graves de Covid-19 em pacientes oncológicos.
Outros trabalhos apresentados no evento podem ser acessados no periódico médico Brazilian Journal of Oncology (BJO).
Uma das missões da SBOC é contribuir para o acesso a serviços oncológicos e evitar falhas na distribuição de medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS). O empenho é grande também para defender o pleito de que novas drogas e tecnologias cheguem não apenas à rede privada, mas alcancem os pacientes que dependem do serviço público.
Nesse sentido, a entidade conduziu um processo que, após anos, levou à incorporação de um tratamento revolucionário aos pacientes com melanoma na rede pública em 2020, a imunoterapia.
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Outra vitória, que também contou com participação ativa da SBOC, foi a incorporação dos medicamentos inibidores de CDK (abemaciclibe, palbociclibe e ribocicilibe) ao SUS para pacientes com câncer de mama metastático, aprovada recentemente pelo Ministério da Saúde. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que, até o fim deste ano, o Brasil registre mais de 66 mil casos de tumores mamários.
Mas houve também retrocesso, e ele não passou batido pelo congresso da SBOC. Em julho, um veto presidencial barrou o projeto de lei que tornaria obrigatória a cobertura pelos planos de saúde da quimioterapia oral administrada em casa.
Seguimos, assim, nosso compromisso com a saúde brasileira para prover todo tipo de informação técnica ao Congresso Nacional e ao governo a fim de que os pacientes recebam o melhor tratamento possível.
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Outra tendência marcante que não podia deixar de comentar são as ações para aumentar a participação das mulheres na área da oncologia, especialmente em posições de liderança, tema também discutido pela SBOC.
Apesar da crescente presença feminina na medicina, a ascensão de médicas às funções de liderança no mercado encontra barreiras, de acordo com um levantamento conduzido pelo Comitê de Lideranças Femininas da SBOC.
Nossa agenda (e a do congresso da SBOC) tem, em sua essência, o compromisso de refletir os anseios da sociedade, compartilhar os novos conhecimentos científicos e os avanços na prevenção, no diagnóstico e no tratamento do câncer, assim como encorajar um trabalho multidisciplinar, o acesso aos cuidados e o aprimoramento de políticos públicas. Especialmente no pós-pandemia.
* Angélica Nogueira é oncologista, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e foi presidente da Comissão Científica do XXII Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica
Os avanços contra o câncer e os desafios da doença no pós-pandemia Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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