Sem dose de reforço, proteção contra Covid grave cai de 93% para 70%, e vacina reduz em apenas 33% o risco de pegar a nova variante; veja resultados do primeiro grande estudo sobre a Ômicron, que avaliou 211 mil pessoas
Os dados foram compilados e divulgados pelo Discovery, que é o maior plano de saúde da África do Sul, com 3,7 milhões de clientes. O estudo foi realizado entre os dias 15 de novembro e 7 de dezembro, e avaliou 211 mil adultos que testaram positivo para Covid-19. 41% desses indivíduos estavam imunizados com duas doses da vacina Pfizer.
Dos 211 mil infectados, 78 mil tinham a variante Ômicron. A primeira conclusão foi que a vacina da Pfizer, que oferecia 93% de proteção contra hospitalização por Covid, perdeu um pouco de força contra a Ômicron – agora, sua eficácia média é de 70%. Ela varia conforme a faixa etária: começa em 92%, para o público entre 18 e 29 anos, e vai caindo até chegar a 59% nas pessoas acima de 70 anos. Veja no gráfico:
É uma queda significativa, e que inspira cautela: como a Ômicron se espalha bem mais facilmente do que a Delta, ela tem potencial para infectar grandes contingentes de pessoas – que, dada a menor eficácia da vacina contra hospitalização, podem vir a sobrecarregar o sistema de saúde. Importante: o estudo avaliou pessoas que haviam recebido duas doses da vacina Pfizer. Ele não considera o efeito da terceira dose (booster).
O estudo também mediu a efetividade da vacina apenas contra a infecção por Ômicron – que é quando a pessoa pega o vírus, mas não desenvolve Covid grave. Nesse quesito, a vacina foi bem mal: reduziu em apenas 33% o risco de contrair a nova variante (comparando o grupo vacinado com o não vacinado).
Outro ponto relevante está na queda de proteção com o tempo. Duas a quatro semanas após receber a segunda dose da vacina Pfizer, a proteção contra infecção por Ômicron é de 56%. Mas, com a queda natural nos níveis de anticorpos, ela declina rapidamente – três a quatro meses após a vacinação, a proteção cai para apenas 25%.
Isso deixa claro que a vacinação com duas doses não é suficiente para conter o avanço da Ômicron: será necessário recorrer também à dose de reforço (que eleva os níveis de anticorpos, dificultando o contágio e a propagação do vírus) e reforçar as medidas não-farmacológicas, como distanciamento e uso de máscaras.
A Ômicron também mostrou boa capacidade de reinfecção. O estudo analisou dados de pessoas que haviam contraído outras variantes antes da Ômicron, e constatou o seguinte: se você já teve Delta, o “efeito protetor” gerado por essa infecção reduz em 59% a chance de pegar Ômicron. Ou seja, continua existindo 41% de risco relativo.
Esse tipo de número não pode ser levado ao pé da letra, pois há outros fatores determinantes no contágio pelo Sars-CoV-2 – como tempo de exposição, quantidade de vírions inalados e reação imunológica individual. O que ele permite concluir, com segurança, é que quem já teve Covid não fica invulnerável à nova variante.
Por outro lado, embora a vacina seja menos eficaz contra a Ômicron, a nova variante de fato tem provocado sintomas mais leves. O estudo sul-africano revelou que o risco de hospitalização por Ômicron tem se mostrado um pouco menor do que com as variantes anteriores (20% a menos do que com a Delta, por exemplo). Veja no gráfico:
Isso não significa, necessariamente, que o vírus em si seja mais brando. O risco menor de internação pode ser consequência da vacinação, ainda que precária (só 25% da população sul-africana receberam duas doses da vacina) e menos eficaz, e resultado da imunidade parcial adquirida por quem já pegou outras variantes.
Há uma exceção: crianças, entre as quais o risco de internação por Ômicron é 20% maior do que antes. Mas esse número pode estar superestimado. Após um pico inicial, em que as crianças de 0 a 5 anos chegaram a representar 14% dos internados com a nova variante em Gauteng, província sul-africana onde a Ômicron foi descoberta, a fatia caiu para 7%.
Você deve estar se perguntando: e as mortes? Qual foi a taxa de letalidade, até agora, entre os internados com Ômicron? Essa informação o estudo não tem. O que ele tem é o seguinte: a taxa de “mortes adicionais”, ou seja, quantas pessoas a mais morreram, na África do Sul, em comparação com a média histórica pré-pandemia.
Veja no gráfico abaixo. Há dois picos de mortes, em janeiro e julho de 2021, quando ocorreram as duas grandes ondas de coronavírus no país. A partir daí, as “mortes adicionais” semanais oscilam entre 800 e 1500. O último dado é de 28 de novembro, quando a Ômicron ainda era incipiente (ela foi identificada no dia 25), e mostra uma elevação considerável, para 2.076 mortes semanais.
É um sinal de alta; mas bem inicial. Seria interessante ver os dados das semanas posteriores – que ainda não foram divulgados. Na prática, há uma grande incerteza envolvendo o número de mortos por Ômicron na África do Sul. Ontem a médica Glenda Gray, presidente do South African Medical Research Council e uma das autoras de um estudo que está sendo feito pela Johnson & Johnson sobre a Ômicron no país, disse que o levantamento não encontrou nenhum caso de óbito causado pela nova variante. Faz só três semanas que a Ômicron foi identificada, e ainda é cedo para calcular com segurança seu grau de letalidade.
Durante a apresentação do Discovery, os médicos do plano afirmaram que têm visto casos mais leves, que costumam se resolver em três dias, e que a maioria dos pacientes graves é formada por não vacinados. Trata-se de “evidências anedotais”, ou seja, relatos pessoais; não certezas estatísticas.
Resumindo: a Ômicron reduz a efetividade das vacinas (vale lembrar: o estudo só considerou duas doses, sem booster) e tem potencial para se espalhar exponencialmente; o risco de internação é um pouco menor do que com outras variantes, e a letalidade ainda é uma incógnita, com sinais conflitantes.
Vacina da Pfizer tem 70% de efetividade contra hospitalização por Ômicron, indicam primeiros dados da África do Sul Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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