A inflamação aguda é uma resposta protetora do organismo, cuja função é eliminar a causa inicial da lesão e iniciar o reparo do tecido.
A dor faz parte desse processo, pois boa parte dos mediadores inflamatórios conhecidos gera essa reação que nos causa desconforto. A própria dor, por sua vez, promove a liberação de mais substâncias inflamatórias na corrente sanguínea.
Resumidamente, a dor alimenta a inflamação, e vice-versa.
Em contraste com a inflamação aguda, a inflamação crônica é um processo constante e, muitas vezes, prejudicial, estando presente em uma série de doenças, como periodontite, aterosclerose, artrite reumatoide e até câncer.
A inflamação crônica também desempenha um papel crucial na dor crônica.
Lesões traumáticas, obesidade, doenças degenerativas e autoimunes são exemplos de condições por trás de uma resposta inflamatória persistente. Nela, o sistema imunológico é ativado, liberando mais moléculas inflamatórias e sensibilizando de maneira contínua os receptores celulares da dor.
Tal circunstância pode resultar na ativação perene das vias do sistema nervoso que transmitem os impulsos dolorosos, levando a uma perpetuação da dor. A repercussão inflamatória desempenha papel crítico na cronificação nesse contexto.
As pesquisas sobre a dor nas últimas décadas estabeleceram que a plasticidade neuronal é um mecanismo-chave para o desenvolvimento e manutenção da dor crônica. Sabemos que a sensibilização periférica é essencial para o desenvolvimento da dor crônica e transição da dor aguda para a crônica.
A sensibilização central (ou seja, respostas aprimoradas dos circuitos de dor na medula espinhal e no cérebro) regula a cronicidade da dor, causa a disseminação da dor para além do local da lesão e influencia os aspectos emocionais e afetivos da dor.
As interações entre inflamação e dor são bidirecionais. Ou seja, os neurônios sensoriais não apenas respondem aos sinais imunológicos, mas também modulam diretamente a inflamação. A redução da inflamação, e o processo mediado pelo sistema imune, é, assim, uma forma de controlar a dor.
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O elo com a obesidade
O indivíduo com excesso de peso e gordura está mais suscetível à inflamação crônica de baixo grau em todo o corpo, mediada por células do sistema imune chamadas macrófagos.
Para trazer novas perspectivas ao tratamento da dor crônica, é de suma importância compreender os mecanismos de ativação e polarização destas células e o controle inflamatório.
A gordura visceral é uma fonte da inflamação sistêmica, produzindo moléculas de ação pró ou anti-inflamatória. Sabemos hoje que as células de gordura também interagem com unidades do sistema imunológico, contribuindo para a manutenção ou desativação de processos inflamatórios.
Nesse sentido, a perda de peso não só concorre para minimizar desgastes físicos mas também para controle de células e substâncias pró-inflamatórias a que o organismo está sujeito no contexto da obesidade e de doenças associadas a ela, como o diabetes.
Compreender essa relação entre dor crônica e inflamação é essencial para o tratamento adequado. Abordagens terapêuticas que visam reduzir a inflamação, assim como orientações sobre estilo de vida (alimentação, gestão de sono e estresse, emagrecimento, exercícios físicos etc.), costumam ser fundamentais para conter esse processo e as dores atreladas a ele.
* Amelie Falconi é médica intervencionista em dor e professora de medicina da Faculdade Sinpain e do Einstein, além de coordenadora do Comitê de Medicina Integrativa e Dor Crônica da Sociedade Brasileira do Estudo da Dor (Sbed)
O ovo ou a galinha? A complexa relação entre inflamação e dor crônica Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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