domingo, 7 de agosto de 2022

A medicina e os cuidados com a saúde andam com pressa demais?

Inúmeros são os avanços na medicina, alguns deles muito céleres, caso das vacinas desenvolvidas em tão pouco tempo contra a Covid-19. Ao analisarmos o progresso no setor de saúde, há uma vasta lista de vitórias, que levaram mais ou menos anos para gerar frutos, entre elas as ações para redução da mortalidade infantil e a criação de tecnologias de alta precisão e terapias personalizadas que transformaram doenças antes fatais em condições crônicas.

Todos esses aspectos nos trazem o benefício de um aumento na expectativa de vida, conforme aponta a Divisão de População da Organização das Nações Unidas (ONU). No entanto, neste mundo em que as coisas acontecem cada vez mais rápido, uma insatisfação se faz presente entre médicos e pacientes, a pressa.

Os tempos corridos afetam todas as esferas da rotina, inclusive o momento de encontro entre médico e paciente. Este precisa falar de suas queixas com clareza para que uma boa investigação seja conduzida; aquele precisa de tempo para ouvir e examinar quem está do outro lado. Todos desejamos uma prática assistencial empática, justa e respeitosa.

Há três componentes inerentes à empatia: o afetivo, o cognitivo e o reguladores de emoções. O afetivo baseia-se na compreensão de estados emocionais. O cognitivo refere-se à capacidade de deliberar sobre os estados mentais.E a regulação das emoções modula o grau das nossas respostas aos outros.

Todos esses fatores estão presentes em uma relação médico-paciente saudável e devem fazer parte de uma consulta. Entender quem está à sua frente, praticando uma escuta empática, é algo essencial, uma vez que não somos apenas seres racionais, mas indivíduos com emoções, medos e dores.

Mas como promover uma escuta empática nestes tempos em que a vida digital e a troca de mensagens pelo celular tornaram quase zero a interação necessária a uma boa conversa?

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Carl Rogers, psicólogo americano que concebeu a Teoria Centrada na Pessoa, afirmava que “ser empático é ver o mundo com os olhos do outro e não ver o nosso mundo refletido nos olhos dele”. Deixo a provocação: tempo e empatia estão sempre presentes na sua vida?

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Na assistência à saúde, esse dilema foi descrito pela primeira vez como o “paradoxo da medicina” em 1988 pelo doutor Alan Barsky no The New England Journal of Medicine. Essa ideia leva em consideração que, muitas vezes, os profissionais olham só para a dimensão biológica de uma doença, bastando para isso prescrever exames, remédios e procedimentos.

Como reação a essa tendência, responsável por consultas mais rápidas e menos empáticas, surgiu o movimento Slow Medicine, traduzido por aqui como Medicina Sem Pressa. A primeira menção ao tema ocorreu na Itália em 2002 na esteira do movimento Slow Food, voltado à alimentação. O Slow Medicine parte de uma filosofia que busca resgatar o tempo como parte essencial da abordagem médica.

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Ele contempla uma escuta cuidadosa e enfatiza o raciocínio clínico e o cuidado focado no paciente. O movimento se expandiu e está no centro do debate, ainda mais no cenário pós-pandemia. E estará em pauta na 101ª edição da Sessão Humanidades na Saúde, evento criado pelo saudoso cirurgião Ricardo Cruz há sete anos no Hospital Samaritano Botafogo, da Rede Americas, no Rio de Janeiro.

Eis um assunto que não podemos ignorar: a pressa pode ser útil em contextos específicos, mas, na relação médico-paciente, dificilmente será aliada da perfeição.

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* Paulo César Souza é médico do Hospital Samaritano Botafogo (RJ) e membro do Grupo Humanidades na Saúde

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