Uma doença que acomete 10% dos adultos e que está ligada a fatores cada vez mais comuns na população, como obesidade e alimentação desbalanceada. Por outro lado, uma doença que frequentemente recebe novas opções medicamentosas. Entre esses polos, o diabetes tipo 2 sempre gera debates profundos, especialmente entre quem pensa a saúde brasileira.
Daí porque dedicou-se uma edição do Fórum VEJA SAÚDE para debater as perspectivas para o controle do diabetes tipo 2. Patrocinado pela AstraZeneca, o evento foi transmitido em diferentes redes sociais de VEJA SAÚDE e VEJA, da Editora Abril. Confira o evento completo:
Maicon Falavigna, diretor da HTAnalyze Economia e Gestão em Saúde, inaugurou o primeiro painel discutindo o peso do diabetes tipo 2 na gestão de saúde. “Os custos dos medicamentos não são especialmente altos, mas, como há uma grande população com diabetes, o impacto orçamentário pode ser significativo”, ressaltou, em sua apresentação.
De acordo com ele, 5% de toda a carga de doenças no Brasil vem do diabetes. “O gestor de saúde deve equalizar os benefícios das terapias disponíveis e dos custos para potencializar a saúde da população”, arrematou.
Outra palestrante do evento, Vanessa Pirolo abordou a jornada do paciente no Sistema Único de Saúde. “O número de endocrinologistas é pequeno no Brasil. Há municípios sem esse profissional”, ressaltou ela, que é coordenadora da Coalizão Vozes do Advocacy.
O problema é que, sem acesso a esse especialista, as pessoas sofrem ainda mais para obter as prescrições dos medicamentos mais avançados, como os inibidores de SGLT-2, caso não consigam controlar o diabetes tipo 2 com outros fármacos.
E a pandemia nessa história? Esse foi um dos temas abordados por Juliana de Paula, endocrinologista e gerente médica da AstraZeneca. Ela começou fazendo coro à Vanessa, que defendeu o retorno ordenado aos médicos para aumentar os diagnósticos precoces, que evitam complicações e maiores custos.
Juliana também fez um alerta: “Estudos indicam que pacientes com diabetes infectados pelo Sars-CoV-2 apresentaram um maior risco de Covid longa”.
Do acesso ao engajamento no tratamento: o que e como melhorar?
Esse foi o tema do segundo painel do Fórum VEJA SAÚDE. Marcello Bertoluci, endocrinologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), abordou a necessidade de melhores protocolos e planos de ação para as pessoas com diabetes, que quebrem a inércia e os longos tempos de espera e inação, que fazem a enfermidade evoluir.
“Defendemos uma abordagem mais intensiva para conter a glicemia e, com isso, evitar complicações”, analisou Bertoluci. “Tentamos antecipar exames para avaliar o progresso do tratamento”, completou. Nessa mesma linha, ele pediu para que as autoridades não deixem de incorporar medicações mais efetivas e outras tecnologias modernas, além de valorizar a integração entre áreas.
Já o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, focou no paciente e na capacidade de ele aderir ao tratamento e ao estilo de vida que contém o diabetes tipo 2.
“Não adianta termos uma Ferrari se a pessoa ainda não sabe dirigir um carro popular”, avaliou Couri, referindo-se ao fato de que a educação é parte primordial da adesão aos medicamentos. “O melhor remédio é o remédio que o paciente usa”, arrematou o especialista, que é colunista de VEJA SAÚDE
Ele lembrou ainda de um dado da pesquisa “O que os brasileiros sabem (e o que não sabem) sobre diabetes”, feita em conjunto com VEJA SAÚDE: 25% das pessoas não a relacionam com risco de morte. Essa percepção errada pode contribuir para a falta de cuidados.
O também endocrinologista João Salles, professor da Santa Casa de São Paulo, concentrou-se nos gargalos que favorecem o avanço do diabetes tipo 2. “A nossa visão é que as incorporações precisam acontecer mais cedo. Hoje, há atrasos de 20 anos entre o surgimento da droga no mercado e sua entrada no SUS”, calculou.
De acordo com ele, também é importante que todos os brasileiros se perguntem: “Será que eu tenho diabetes e não sei, ou condições de risco para desenvolvê-lo?”
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Planos de ação e políticas públicas para prevenir e remediar o diabetes tipo 2
O último painel do Fórum VEJA SAÚDE trouxe três presidentes de sociedades de especialidades ligadas a essa enfermidade. O endocrinologista Levimar Araújo, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), reforçou a necessidade de educação médica continuada e atualizações mais frequentes de diretrizes de tratamento.
“Todo ano a SBD modifica seus protocolos de atendimento”, apontou. Ele valorizou também a necessidade de se comunicar com o público, e anunciou o lançamento de uma revista sobre o tema: a Diabetes Magazine.
Presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Osvaldo Vieira abordou o efeito do diabetes tipo 2 nos rins. Segundo o nefrologista, 20 milhões de brasileiros possuem doença renal crônica. “A maioria é causada por diabetes e hipertensão”, revelou.
A solução, para ele, é valorizar a prevenção e o diagnóstico precoce, inclusive dessas alterações renais em pacientes com diabetes. A partir daí, os médicos podem intervir e adotar estratégias que evitem complicações.
O cardiologista João Monteiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), quebrou com o mito de que só pessoas mais velhas devem se preocupar com a saúde. “A prevenção começa assim que nascemos”, reiterou.
Para ele, manejar a obesidade, o sedentarismo e a alimentação é fundamental, sobretudo como política pública. Ele também reforçou a necessidade de reforçar equipes multidisciplinares, uma vez que o diabetes exige cuidado de diferentes áreas.
E, no fim, deu a letra: “Esse evento deveria ser recorrente”.
Debate: os caminhos para o controle do diabetes tipo 2 Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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