Texto Paulo César Teixeira e Bruno Garattoni
A maior usina elétrica virtual do mundo. É como Elon Musk, dono da Tesla, classifica o projeto que a empresa está implantando neste verão na Califórnia, em parceria com a concessionária Pacific Gas and Electric Company (PG&E).
A ideia é fazer com que os proprietários de baterias domiciliares Tesla Powerwall direcionem a sobra de energia guardada em casa para ajudar a empresa de energia a evitar apagões, contribuindo para reduzir as emissões de CO2. E os donos de Powerwall poderão ganhar algum dinheiro com isso – junto com Musk, claro.
A Powerwall é uma bateria de lítio que custa US$ 10 mil e serve para guardar o excedente de eletricidade gerado por placas solares, por exemplo, ou como um reservatório de energia a mais para quem tem carro elétrico (e não pode ficar sem eletricidade).
A Tesla diz que já vendeu mais de 200 mil Powerwall, das quais cerca de 50 mil poderiam ser integradas em uma usina virtual. Juntas, elas somariam aproximadamente 400 megawatts/hora de potência – quase metade da capacidade de uma usina nuclear, por exemplo.
A ideia é usar essa rede de baterias para suprir eletricidade em momentos críticos, nos quais a PG&E não consegue gerar eletricidade suficiente, e acaba sendo forçada a acionar usinas termelétricas, que queimam combustível fóssil e emitem CO2, piorando o aquecimento global.
Essas situações de emergência têm sido cada vez mais frequentes com a onda de seca e calor extremo no hemisfério Norte. Ele aumenta o consumo de eletricidade (pois há mais uso de aparelhos de ar-condicionado) e também impacta a geração de energia, já que chove pouco – as usinas hidrelétricas da Califórnia têm sido especialmente afetadas. A PG&E já vem fazendo cortes no fornecimento de energia, inclusive.
Em julho do ano passado, a Tesla começou a testar sua usina virtual, mas sem oferecer remuneração aos donos de Powerwalls. No máximo, foi dado um cartão-presente no valor de US$ 40 aos que participaram de pelo menos 80% dos testes. Faltava implantar o projeto comercial – o que está acontecendo agora. Em junho, a Tesla convidou cerca de 25 mil donos de Powerwall para participar. Em julho, 3 mil deles já haviam manifestado interesse.
Você deve estar se perguntando – afinal, como funciona a tal usina virtual? Bom, primeiro a pessoa precisa ter uma Powerwall. Ela é vendida num kit com placas solares, para instalar no telhado de casa.
Tendo isso, basta se inscrever pelo aplicativo da Tesla e, com um clique, permitir que a energia da bateria seja automaticamente destinada à rede da PG&E, quando necessário. Não é preciso liberar tudo: dá para configurar quantos % da carga da Powerwall serão destinados à usina virtual.
Quando a rede elétrica estiver precisando de uma forcinha, o aplicativo avisará ao dono da Powerwall. A pessoa poderá optar por não participar – nesse caso, a bateria simplesmente não vai liberar a eletricidade. Também dá para interromper a transferência de energia a qualquer momento, com um clique.
A cada kilowatt-hora que fornecer, o dono de Powerwall vai receber aproximadamente US$ 2. Isso é quase dez vezes mais do que o custo normal da energia, que a PG&E cobra dos consumidores residenciais. Ou seja, dá para ter lucro participando da usina virtual.
A Tesla dá dois exemplos. No primeiro, uma bateria Powerwall totalmente carregada estaria apta a fornecer 7,8 kWh adicionais à rede, e o proprietário receberia US$ 15,60 a cada evento de emergência. Já um sistema com duas baterias carregadas teria 11,2 kWh para contribuir, aumentando a recompensa para US$ 22,40. A quantia vai sendo acumulada, e é paga uma vez por ano, pela Tesla. O primeiro repasse está previsto para março de 2023.
Mesmo custando mais caro que a eletricidade “comum”, a energia fornecida pelas Powerpacks tende a ser economicamente viável – pois as usinas termelétricas, hoje usadas em momentos críticos, também têm custos altos. Você sente isso na sua conta de luz.
Quando chove pouco no Brasil, as usinas hidrelétricas ficam com menos água, e sua geração de energia cai. Com isso, o país é obrigado a acionar as termelétricas, e a conta de luz fica mais cara – ela passa a vir com “bandeira amarela” ou “bandeira vermelha”, uma sobretaxa que é cobrada a cada 100 kilowatts/hora de consumo. Ela existe porque a eletricidade vinda das termelétricas é mais cara.
A Tesla pretende expandir seu projeto nos EUA, e já começou a fazer testes com proprietários de Powerwall no Texas. Mas ainda falta convencer o Electric Reliability Council of Texas (ERCOT), o órgão gestor da rede de energia por lá, que as baterias domésticas representam, de fato, uma alternativa confiável para evitar apagões.
O Texas tem um grande trauma relacionado a isso. Em fevereiro de 2021, o estado sofreu uma grave crise de energia, quando uma série de nevascas derrubou toda sua rede elétrica por vários dias. Isso levou a uma situação caótica, com escassez de água, comida e calefação nas residências. 246 pessoas morreram, a maioria de frio.
Isso deixa claro como o fornecimento de energia é essencial. Além das usinas virtuais, a Tesla também criou uma solução de maior escala, que promete 100% de confiabilidade: a Megapack, um conjunto com centenas de baterias industriais que pode ser conectado à rede elétrica das cidades.
A primeira foi instalada em Hornsdale, no sul da Austrália, em 2017, e sozinha tem 129 megawatts/hora de capacidade. Hoje, a Tesla diz que as Megapacks espalhadas pelo mundo somam o equivalente a mais de 5 gigawatts.
Elas não estão sujeitas às oscilações das baterias residenciais, mas também não são perfeitas. Em julho de 2021, durante a construção da Victorian Big Battery, uma Megapack com 300 MW de capacidade na Austrália, um incêndio destruiu duas das 212 baterias do complexo. O sistema de refrigeração de uma delas falhou e ela entrou em chamas, incendiando a que estava ao lado. O fogo não se espalhou.
Tesla cria usina elétrica virtual com as baterias de 1.500 casas nos EUA Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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