A região de Kimberley, na Austrália Ocidental, guarda sítios arqueológicos extremamente ricos. Na região, é possível encontrar diversas pinturas rupestres, que ajudam a recriar a história do país. Mas o conhecimento dos pesquisadores sobre elas era ainda superficial, já que muitas das artes não haviam sido datadas. O motivo? Era difícil encontrar materiais orgânicos preservados o suficiente para embasar análises do tipo.
Um projeto envolvendo pesquisadores da Universidade de Melbourne, da Universidade da Austrália Ocidental e da Corporação Aborígine Balanggarra, porém, está prestes a reescrever esse passado. Eles utilizaram datação de carbono radioativo para descobrir a idade de 16 pinturas presentes na região de Balanggarra Country, ao nordeste de Kimberley. Entre elas, havia um canguru de dois metros pintado em tons de ocre. Datado com mais de 17 mil anos, o animal é a arte rupestre mais antiga já descoberta na Austrália.
Para chegar ao valor aproximado, os pesquisadores fizeram a datação dos átomos de carbono radioativo presentes em ninhos de vespa fossilizados. É como se esses átomos de carbono fossem uma espécie de impressão digital: vindos de raios cósmicos que ultrapassam atmosfera, eles deixam sua marca em árvores antigas ou camadas muito profundas de solo congelado, por exemplo. A partir da quantidade de carbono-14 presente nos fósseis de ninhos de vespa, cientistas conseguem saber se a radiação era mais ou menos intensa – e, assim, dizer em que momento geológico os ninhos foram feitos.
Esses ninhos estavam por baixo e por cima da pintura, fazendo como um sanduíche de desenho de canguru. Há aí, portanto, uma ordem cronológica. Primeiro, algumas vespas deixaram suas marcas, depois alguém desenhou sobre elas e, mais para frente, outras vespas chegaram para cobrir a arte. Sabendo a idade dos ninhos, você consegue estimar a idade máxima e mínima que determinada pintura poderia ter. Neste caso, o canguru foi colocado na parede entre 17.500 e 17.100 anos atrás.
Assim como outros movimentos artísticos e literários, a arte rupestre australiana é dividida por arqueólogos em fases – sendo a mais antiga delas a chamada fase “naturalista”. Como o nome já indica, as pinturas representavam principalmente animais e, algumas vezes, plantas, como o inhame.
O mesmo grupo de pesquisadores datou, também, a imagem de uma cobra de três metros de comprimento, uma criatura semelhante ao lagarto e três macrópodes – uma família dos marsupiais que inclui cangurus, wallabies e quokkas. bichos típicos da Oceania. Saber a idade destas pinturas ajudou os pesquisadores a compreenderem a duração do período naturalista, que parece ter vingado entre 17 mil e 13 mil anos atrás.
O estudo, publicado na revista científica Nature Human Behavior, apoia a cronologia atribuída à sequência estilística das pinturas rupestres australianas. Os pesquisadores acreditavam que o estilo naturalista era seguido pelo estilo Gwion – o qual costuma trazer representações humanas usando cocares e segurando bumerangues. Uma pesquisa publicada pelo mesmo grupo em 2020 sugere que essas pinturas começaram a surgir há cerca de 12 mil anos, pouco tempo depois das imagens de animais tomarem as cavernas.
O canguru é a imagem conhecida mais antiga da Austrália, mas isso não impede que os pesquisadores descubram, no futuro, artes anteriores a essa. Os humanos parecem ter chegado à Austrália há pelo menos 65 mil anos e a área de Kimberly ainda não foi inteira explorada. Outras descobertas podem estar prestes a surgir.
17 mil anos: desenho de canguru é arte rupestre mais antiga da Austrália Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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