No dia 10 de dezembro de 2020 nasceu Elizabeth Ann, dona do rostinho simpático que você vê na foto acima. Ela é um filhote da espécie furão-de-patas-negras, que encontra-se em perigo crítico de extinção. Como se o nascimento já não fosse extraordinário por si só, ainda há algo inédito na sua história: ela não nasceu do cruzamento natural entre dois mamíferos da espécie, mas sim a partir de técnicas de clonagem aplicadas em laboratório.
O furão-de-patas-negras é uma espécie nativa dos Estados Unidos que, hoje, só continua existindo graças aos programas de reprodução em cativeiro e reintrodução à natureza. Ele foi considerado extinto em meados da década de 70, quando fazendeiros começaram a exterminar cães-da-pradaria – pequenos roedores que serviam como alimento para os furões. Sem comida, a população de furões diminuiu drasticamente.
Só que a espécie ressurgiu das cinzas na década seguinte. Em 1981, um fazendeiro do estado de Wyoming descobriu uma pequena família de furões que vivia perto de seu rancho. A população sobreviveu por certo tempo, mas quase foi extinta novamente devido a doenças como a cinomose e a peste silvestre. Sobraram 18 animais, os quais foram levados para cativeiro em uma tentativa de salvar a espécie. Sete deles são os responsáveis por toda a população de furões que conhecemos hoje, representando uma variabilidade genética baixíssima. Um dos coordenadores do projeto, Pete Gober, estima que existam entre 400 e 500 animais na natureza.
Em 1988, o instituto de conservação das espécies Frozen Zoo (Zoológico Congelado) recebeu amostras de tecido pertencentes a um furão fêmea chamado Willa. O material, no entanto, só foi examinado em 2018, por meio de uma parceria entre o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA e da organização de biotecnologia da conservação Revive & Restore. O resultado desse estudo foi um clone da falecida Willa – que é a filhote Elizabeth Ann.
O laboratório ViaGen foi responsável por criar os embriões a partir das amostras genéticas e implantá-los em um furão doméstico fêmea – como em uma inseminação artificial. A técnica é semelhante à usada com a ovelha Dolly, há 24 anos. A diferença é que o embrião de Elizabeth Ann foi implantado em uma outra espécie de furão, tornando o procedimento mais sofisticado.
O processo começou no final de outubro de 2020. Até o nascimento do filhote, a barriga de aluguel ficou em observação durante 24h em busca de sinais de trabalho de parto. Elizabeth Ann nasceu de cesariana e, até o momento, não apresentou nenhuma anomalia.
Willa, o furão conservado, não possui descendentes vivos na população – logo, não tem relação com aqueles sete animais de Wyoming responsáveis por salvar a espécie. A diversidade genética presente agora em Elizabeth se difere daquela encontrada em todos os outros animais, o que pode ser benéfico para a espécie, ajudando a proteger contra doenças que ameaçam os furões. A própria Covid-19 entra como ameaça, já que espécies próximas dos furões, como os minques, já foram infectados pelo Sars-CoV-2.
Os cientistas pretendem clonar outros animais no futuro, tanto a partir do material genético de Willa quanto de outros furões conservados, como o macho nomeado “Studbook Número 2”. Seus clones seriam levados a cruzar com Elizabeth Ann. Claro que este não é um processo rápido. Segundo Ben Novak, cientista da Revive & Restore, os netos ou bisnetos de Elizabeth poderão ser reintroduzidos na natureza entre 2024 e 2025, se tudo correr bem.
Este foi o primeiro animal ameaçado de extinção nos EUA a ser clonado, mas abre espaço para que isso se repita com outras espécies que correm perigo. A clonagem, no entanto, é uma ferramenta para situações extremas. Conservar as espécies de forma natural, diminuindo o tráfico ilegal e a destruição dos recursos naturais, continua sendo a iniciativa mais eficaz.
Pela primeira vez, cientistas clonam espécie em extinção nos EUA Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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