segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Pela primeira vez, cientistas clonam espécie em extinção nos EUA

No dia 10 de dezembro de 2020 nasceu Elizabeth Ann, dona do rostinho simpático que você vê na foto acima. Ela é um filhote da espécie furão-de-patas-negras, que encontra-se em perigo crítico de extinção. Como se o nascimento já não fosse extraordinário por si só, ainda há algo inédito na sua história: ela não nasceu do cruzamento natural entre dois mamíferos da espécie, mas sim a partir de técnicas de clonagem aplicadas em laboratório. 

O furão-de-patas-negras é uma espécie nativa dos Estados Unidos que, hoje, só continua existindo graças aos programas de reprodução em cativeiro e reintrodução à natureza. Ele foi considerado extinto em meados da década de 70, quando fazendeiros começaram a exterminar cães-da-pradaria – pequenos roedores que serviam como alimento para os furões. Sem comida, a população de furões diminuiu drasticamente.

Só que a espécie ressurgiu das cinzas na década seguinte. Em 1981, um fazendeiro do estado de Wyoming descobriu uma pequena família de furões que vivia perto de seu rancho. A população sobreviveu por certo tempo, mas quase foi extinta novamente devido a doenças como a cinomose e a peste silvestre. Sobraram 18 animais, os quais foram levados para cativeiro em uma tentativa de salvar a espécie. Sete deles são os responsáveis por toda a população de furões que conhecemos hoje, representando uma variabilidade genética baixíssima. Um dos coordenadores do projeto, Pete Gober, estima que existam entre 400 e 500 animais na natureza.

Em 1988, o instituto de conservação das espécies Frozen Zoo (Zoológico Congelado) recebeu amostras de tecido pertencentes a um furão fêmea chamado Willa. O material, no entanto, só foi examinado em 2018, por meio de uma parceria entre o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA e da organização de biotecnologia da conservação Revive & Restore. O resultado desse estudo foi um clone da falecida Willa – que é a filhote Elizabeth Ann.

O laboratório ViaGen foi responsável por criar os embriões a partir das amostras genéticas e implantá-los em um furão doméstico fêmea – como em uma inseminação artificial. A técnica é semelhante à usada com a ovelha Dolly, há 24 anos. A diferença é que o embrião de Elizabeth Ann foi implantado em uma outra espécie de furão, tornando o procedimento mais sofisticado.

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O processo começou no final de outubro de 2020. Até o nascimento do filhote, a barriga de aluguel ficou em observação durante 24h em busca de sinais de trabalho de parto. Elizabeth Ann nasceu de cesariana e, até o momento, não apresentou nenhuma anomalia. 

Willa, o furão conservado, não possui descendentes vivos na população – logo, não tem relação com aqueles sete animais de Wyoming responsáveis por salvar a espécie. A diversidade genética presente agora em Elizabeth se difere daquela encontrada em todos os outros animais, o que pode ser benéfico para a espécie, ajudando a proteger contra doenças que ameaçam os furões. A própria Covid-19 entra como ameaça, já que espécies próximas dos furões, como os minques, já foram infectados pelo Sars-CoV-2.

Os cientistas pretendem clonar outros animais no futuro, tanto a partir do material genético de Willa quanto de outros furões conservados, como o macho nomeado “Studbook Número 2”. Seus clones seriam levados a cruzar com Elizabeth Ann. Claro que este não é um processo rápido. Segundo Ben Novak, cientista da Revive & Restore, os netos ou bisnetos de Elizabeth poderão ser reintroduzidos na natureza entre 2024 e 2025, se tudo correr bem.

Este foi o primeiro animal ameaçado de extinção nos EUA a ser clonado, mas abre espaço para que isso se repita com outras espécies que correm perigo. A clonagem, no entanto, é uma ferramenta para situações extremas. Conservar as espécies de forma natural, diminuindo o tráfico ilegal e a destruição dos recursos naturais, continua sendo a iniciativa mais eficaz. 

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