Desde que o mundo é mundo há gente querendo registrar no papel as coisas que descobre – então precisamos adotar um critério para não dizer que as obras de Aristóteles são os primeiros papers.
O primeiro periódico científico nos moldes atuais foi o Journal des Sçavans – ao pé da letra, “diário dos sábios”–, cuja edição inaugural saiu na França em 5 de janeiro 1665. Ele é publicado até hoje. Todos os artigos que estavam ali podem ser considerados os primeiros.
O número de estreia continha, por exemplo, um texto de um certo Martini Schoockii (a grafia, hoje, foi padronizada como Martinus Schoock) sobre esternutações – ou seja, espirros. Ele enviou o texto de “Amstelodami”: uma das possíveis grafias de Amsterdam em latim.
Nessa época, ainda não havia convenções tão rígidas sobre a ortografia das palavras quanto há hoje. Desde que a sequência de letras escolhida representasse aproximadamente a pronúncia do termo, estava valendo. É comum encontrar um mesmo nome próprio escrito de 6 ou 7 maneiras diferentes numa mesma obra do século 17.
Outro autor foi identificado como “Jacobo Houuel, anglo, londini” – ou seja: Jacob Howel, inglês, de Londres. Há ainda um artigo não assinado – algo impensável nos dias atuais – que trata das ideias de Descartes sobre fetos.
As ciências naturais na Europa, na época de Huygens e Newton, eram bem diferentes do que conhecemos hoje – uma empreitada mais informal e especulativa, financiada por heranças de nobres e aristocratas, com menos rigor metodológico e exigências éticas, e muita interferência da religião.
Mas esses artigos já representam a semente do esquema editorial que impera até hoje: alguém faz uma descoberta, relata a descoberta em um texto, manda o texto a uma editora e então a editora publica volumes de tempos em tempos compilando os textos enviados. É assim, grosso modo, que periódicos como Nature, Science e Cell funcionam até hoje.
Pergunta de @ps6ps9, via Instagram.
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