Nesta quinta-feira (11), é comemorado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, uma iniciativa criada pela ONU em 2015. Por conta disso, diversas instituições acabam lançando ações para valorizar a contribuição delas dentro da pesquisa.
O Serviço Postal dos Estados Unidos foi um dos endossaram a celebração e resolveu homenagear a física sino-americana Chien-Shiung Wu, criando um selo comemorativo com seu rosto. Receber esta condecoração não é para qualquer um: Wu está agora ao lado de cientistas como Albert Einstein, Richard Feynman e Enrico Fermi.
Mas, afinal: quem foi Chien-Shiung Wu – e o que a levou a receber tal homenagem?
O Experimento de Wu
Wu foi uma das responsáveis por reescrever a história da física nuclear. Sua história na ciência começa em 1930, quando ela foi admitida na Universidade Central Nacional, em Nanjing, na China, para estudar matemática.
Em 1936, Wu resolveu se especializar em física e foi para os Estados Unidos fazer sua pós-graduação. No país, estudou na Universidade da Califórnia em Berkeley, foi docente na Universidade de Princeton e, finalmente, seguiu os estudos na Universidade de Columbia, em Nova York.
Antes de avançar na história de Wu, é preciso entender como os cientistas da década de 1950 enxergavam as coisas. Até então, imaginava-se que, na natureza, as leis da física se manteriam as mesmas independentemente da direção das coisas. Esquerda e direita, para cima e para baixo… Tanto faz: é tudo questão de perspectiva. É como a gravidade: dizemos que ela puxa as coisas “para baixo” porque é assim que enxergamos as coisas no mundo. Se você plantar uma bananeira, isso não quer dizer que a gravidade, agora, estará puxando as coisas “para cima”.
Essa seria a teoria da simetria de paridade, que também poderia ser aplicada em nível subatômico, acreditavam os cientistas. Era uma ideia bem aceita na comunidade, ainda que não comprovada. Após alguns estudos, porém, Tsung-Dao Lee, da Universidade de Columbia, e Chen Ning Yang, do Laboratório Nacional de Brookhaven, sugeriram que a tal paridade não poderia se manter em todos os cenários, como nas interações fracas.
A força (ou interação) nuclear fraca é uma das forças fundamentais da natureza, junto com a gravidade, o eletromagnetismo e a força nuclear forte (que, assim como a fraca, acontece em escala subatômica). Esse tipo de interação é o responsável pelo decaimento radioativo, ou seja, a emissão de partículas feita por átomos instáveis. Essa liberação de energia busca, justamente, reduzir a radioatividade de um átomo a níveis estáveis.
É nessa parte que entra Chien-Shiung Wu. Os pesquisadores, que até então apenas teorizavam o caso, convocaram-na para realizar o experimento. A ideia era testar se a simetria de paridade se mantinha mesmo em casos de decaimento radioativo. Para isso, colocou-se uma amostra radioativa de cobalto-60 em um campo magnético uniforme e o resfriaram até quase zero absoluto (-273ºC).
O objetivo era comparar a taxa de emissão de raios gama e elétrons em direções distintas. Se a paridade fosse verdade, então os elétrons que o cobalto liberaria durante o seu decaimento sairiam igualmente para todas as direções. Mas não foi o que aconteceu.
O teste, que ficou conhecido como Experimento de Wu, provou que a simetria de paridade na verdade não existe. Ao medir as emissões de elétrons, notou-se um maior acúmulo deles na esquerda, indicando que a natureza poderia ter uma leve tendência a direcioná-los nessa direção. Parece uma descoberta simples, mas a ciência percebeu aí que as direções não são coisas tão arbitrárias assim.
Isso foi decisivo para orientar as pesquisas na área desde então. De fato, o experimento mostrou que a força fraca é muito mais complexa do que se imaginava. Hoje, diversos cientistas se debruçam para desvendar suas particularidades – algo que pode mudar as compreensões da física e dar mais pistas sobre como o Universo funciona.
Pelo experimento, Lee e Yang receberam o Prêmio Nobel de Física em 1957, enquanto Wu foi apenas mencionada durante o discurso. Apesar disso, a física teve prestígio em sua carreira, recebendo diversos prêmios e homenagens ao longo da vida. Para se ter uma ideia, um asteroide foi batizado com seu nome em 1990, o 2752 Wu Chien-Shiung. A cientista, que ficou conhecida como “Primeira-Dama da Física” e “Madame Curie da China”, faleceu em 1997 aos 84 anos.
Willian Gicker, diretor de serviços de selos do Serviço Postal americano, espera que, no futuro, mais figuras científicas sejam apresentadas na etiqueta. O objetivo é apresentar a imagem às pessoas e fazer com que elas pensem quem são aqueles – e quais as suas contribuições.
EUA terá selo postal para homenagear “primeira-dama da Física” Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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