domingo, 28 de fevereiro de 2021

Plantas chamam insetos aliados para combater predadores que mordem suas folhas

O convidado desta semana é Diego M. Magalhães, biólogo e pesquisador do Laboratório de Ecologia Química e Comportamento de Insetos da ESALQ-USP

Há uma batalha silenciosa acontecendo no jardim. Diariamente, uma miríade de insetos herbívoros atacam as plantas que, com as mais variadas táticas de defesa, tentam repelir esses inimigos. 

É comum pensar que os vegetais, por falta de opção, aceitem passivamente predadores devorando suas folhas. Mas, embora não consigam correr dos herbíboros, as plantas têm seus truques para se defender. Elas até se comunicam, emitindo sinais de alerta para avisar plantas vizinhas ou chamar o reforço de insetos aliados. 

Dentre as táticas de defesa das plantas, as mais visíveis são os espinhos e os tricomas (protuberâncias na epiderme). Essas estruturas são barreiras físicas que dificultam o acesso dos insetos às fontes de alimento. Mas plantas contam também com um arsenal de armas biológicas. As mais fascinantes são os metabólitos secundários, nome que se refere a uma diversidade de substâncias tóxicas.

Muitas espécies vegetais produzem, ao longo da sua vida, compostos que são letais para certos insetos herbívoros. Quando algum bichinho tenta se alimentar das folhas, esses compostos são liberados e os insetos interrompem o ataque. 

Nem tudo são flores: alguns insetos herbívoros não se importam com essas substâncias e continuam se alimentando. Mas mesmo um oponente resistente não é sinal de que a batalha está perdida. Algumas plantas enviam mensagens de ajuda.

Esse SOS é emitido por meio de compostos voláteis – substâncias que, em determinadas condições de temperatura e pressão, evaporam rapidamente e se espalham pelo ar. De maneira geral, quando estão sendo devoradas por insetos, as plantas começam emitem esses compostos em maior quantidade.

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Essa emissão é equivalente a um grito de socorro, feito sob medida para atrair insetos e outros seres vivos denominados inimigos naturais. Eles podem ser predadores ou parasitoides, tanto faz. O que interessa é que esses bichinhos se alimentam ou parasitam justamente das espécies que ameaçam a planta. 

Essa mesma mensagem também pode ser percebida por plantas vizinhas da mesma espécie, que, ao detectá-la, ficam em alerta. Se também forem alvo de ataques, elas já sabem que também precisam emitir seus compostos para atrair reforços. 

Não para por aí. Algumas espécies de planta conseguem detectar a presença de insetos herbívoros mesmo antes deles começarem a se alimentar de suas preciosas folhas. Um exemplo bem interessante é o do algodoeiro. 

Essa planta é o alimento favorito de um besouro chamado bicudo-do-algodoeiro – que, quando chega na lavoura, emite uma substância chamada feromônio de agregação: um composto volátil que atrai outros bicudos. O algodoeiro, porém, evoluiu a capacidade de detectar esse sinal. Assim, ele já fica avisado: há um pequeno exército chegando.

A relação entre o algodoeiro e o bicudo é bem específica, e se outro inseto, como o percevejo-do-arroz, emitir o seu feromônio perto do algodoeiro, a planta não perceberá o sinal.

Quando percebe que o besouro chamou seus amigos para o banquete, o algodoeiro rapidamente libera um outro feromônio para chamar uma vespa parasitoide. Essa vespa deposita seus ovos no bicudo – e conforme os filhotes crescem, eles consomem o inseto de dentro para fora, até matá-lo. Para o besouro, é melhor ficar de dieta do que tentar a sorte. 

Este é o sexto post do blog Bzzzzz, em que pesquisadores membros do comitê científico da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (ABELHA) e outros cientistas colaboradores vão comentar a vida, os hábitos e a importância econômica de diversos insetos – além de nos atualizar sobre as mais recentes descobertas no campo desses pequenos artrópodes. Até a próxima!

 

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