Imagine um jogo simples, de 8-bits, formas geométricas e fundo preto – como aqueles do Atari. No controle, apenas um joystick para mover o cursor de um lado para o outro, para cima e para baixo. Moleza? Para nós, humanos, sim. Para outros animais, nem tanto.
Mas um novo estudo, publicado neste mês na revista Frontiers in Psychology, sugere que há um outro mamífero com potencial para se tornar um gamer: porcos.
O teste foi conduzido pelo Centro de Ciência do Bem-Estar Animal da Universidade Purdue, em Indiana, nos EUA. Não que seja totalmente inédito: a pesquisa rola desde o final dos anos 1990. Contudo, este é o primeiro artigo produzido a passar por uma revisão por pares – ou seja, por outros cientistas que não participaram da pesquisa.
Quatro porquinhos participaram da jogatina. Dois deles, apelidados de Omelete e Hamlet, eram da raça Yorkshire, que pode chegar a pesar meia tonelada na fase adulta. Já os outros, Ivory e Ebony, eram mini porcos Panepinto.
O jogo consistia em levar o cursor do joystick (uma bolinha branca) até uma das paredes azuis que apareciam na tela. Se isso acontece, os animais ganhavam uma guloseima imediatamente. A dificuldade do game aumentava a cada rodada: na primeira, havia três paredes; na segunda, duas; na última, apenas uma.
O fliperama usado no teste era uma adaptação de uma ferramenta usada em pesquisas similares com primatas, como o macaco-rhesus. Mas claro: sem mãos como as deles, o jeito para os porquinhos era mover o cursor com o focinho. Além disso, os bichos possuíam hipermetropia – foi preciso também ajustar a distância da tela. Para piorar, os porcos Yorkshire, por serem muito pesados, não podiam ficar muito tempo em pé.
Ao todo, o estudo levou 15 meses, e a análise final se concentrou em 50 rodadas jogadas por cada porco em cada uma das fases do game. A rodada só era considerada bem-sucedida quando a bolinha atingia as paredes logo no primeiro movimento do cursor.
Os resultados foram promissores: todos os bichinhos se saíram melhor do que se o joystick fosse movido aleatoriamente pela tela. O melhor deles foi o pequeno Ivory, que acertou as paredes em 76% das vezes. Após 12 semanas de teste, Omelete e Hamlet cresceram, ficaram grandalhões e não conseguiram mais aguentar todo o tempo de jogo. Entretanto, também mandaram bem nas rodadas em que puderam jogar.
“Os resultados foram tão superiores em relação aos movimentos aleatórios que ficou claro que os porcos tinham algum entendimento conceitual do que estavam sendo solicitados a fazer”, disse ao Gizmodo Candace Croney, diretora do centro de bem-estar animal de Purdue e que acompanhou os porquinhos desde os anos 1990.
Até então, a ciência já sabia que porcos eram capazes, assim como cachorros, de responder a comandos simples, como “sentar”. Eles são também animais com personalidade (neuróticos, otimistas, etc,), e determinam as suas ações a partir disso. O novo estudo dá um passo além na compreensão da inteligência deles, sugerindo que eles são capazes de entender intencionalidade – ou seja, reconhecer-se como os autores de determinada ação (no caso, ganhar guloseimas com a jogatina).
Quando a pesquisa foi concluída, os porquinhos se aposentaram do mundo dos games. Hamlet e Omelete foram adotados por donos de uma fazenda, enquanto Ivory e Ebony foram para um zoológico infantil. Os pesquisadores esperam que o estudo ajude a dar mais visibilidade aos animais de fazenda e às suas capacidades cognitivas – e que mais testes do tipo aconteçam nos próximos anos.
Porcos podem aprender a jogar videogame? Segundo este estudo, sim Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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