Urânio e plutônio são os principais ingredientes de uma bomba atômica. Em 1938, cientistas alemães descobriram que poderiam fissionar o núcleo desses átomos instáveis, liberarando uma grande quantidade de energia no processo. No ano seguinte, nascia o programa nuclear da Alemanha nazista. Cientistas do país começaram a produzir cubos de urânio – que seriam usados em um reator nuclear para produzir plutônio –, mas o projeto nunca foi concluído.
Se a foto acima parece familiar, é porque o objeto é a cara do Tesseract – o cubo fictício que guarda a joia do infinito no Universo Cinematográfico da Marvel. Mas o nome oficial dele é “cubo de Heisenberg”, em homenagem ao físico que ajudou a criá-los. Werner Heisenberg trabalhava em um laboratório localizado embaixo de uma igreja, na cidade alemã de Haigerloch.
Em 1945, tropas americanas e britânicas encontraram 664 cubos nesse laboratório e os enviaram para os Estados Unidos. Só tem um problema: atualmente, os cientistas só sabem o paradeiro de doze deles. Muitos provavelmente foram usados em armas nucleares americanas, enquanto outros foram parar nas mãos de colecionadores. Não sabemos quantos desses cubos podem estar por aí.
Um dos exemplares conhecidos fica no Pacific Northwest National Laboratory (PNNL), laboratório ligado ao Departamento de Energia dos Estados Unidos. Os pesquisadores não sabem como ou quando o cubo chegou lá – na verdade, eles nem têm certeza se o cubo veio mesmo do programa alemão. Para descobrir isso, a equipe desenvolveu técnicas para definir quando e onde o urânio foi minerado.
A origem dos cubos
O primeiro passo é verificar se a data de extração do minério coincide com o período da Segunda Guerra Mundial. Os pesquisadores usam radiocronologia, uma técnica que analisa os isótopos radioativos do material. O urânio é radioativo, o que significa que ele decai a uma taxa de tempo fixa, se transformando em outros elementos químicos. O que era um cubo de praticamente puro urânio agora tem traços de tório e protactínio. A equipe no PNNL, liderada pela física Brittany Robertson, adaptou procedimentos de radiocronologia para quantificar esses elementos no cubo. A concentração deles indica há quanto tempo o cubo foi produzido.
A equipe também está refinando esse método para analisar as impurezas do cubo. Isso indica onde o urânio foi minerado – já que minas diferentes possuem níveis de impureza distintos.
Dá até para descobrir em qual laboratório o cubo foi produzido. Existiram dois laboratórios principais na Alemanha: o de Werner Heisenberg, em Haigerloch (foi esse que os americanos encontraram), e o de Kurt Diebner, em Gottow. Cada um usava uma camada externa de químicos diferentes para prevenir a oxidação do cubo. Heisenberg usava cianeto, enquanto Diebner optava por estireno. Para saber quem fez o cubo, basta descobrir a composição química da camada. Essa análise está sendo conduzida por um segundo grupo de pesquisa do PNNL, liderado pelo físico Carlos Fraga.
A equipe ainda não analisou o cubo do laboratório, mas já descobriu de onde veio um outro cubo, que está na Universidade de Maryland. Ele foi encontrado no laboratório de Heisenberg pelas tropas americanas – mas, curiosamente, sua camada externa é de estireno. Após analisar cartas trocadas entre os físicos, os pesquisadores descobriram que Diebner enviou alguns cubos para o laboratório de Heisenberg. O cubo em Maryland, portanto, pode ser um desses.
Os pesquisadores pretendem usar essas técnicas para confirmar a origem dos cubos conhecidos. Além dos cubos de Maryland e do PNNL, há ainda um na Universidade de Harvard e outro no Smithsonian Institution. Para ter uma ideia, esse último foi descoberto dentro de uma gaveta em Nova Jersey.
A técnica também pode ser usada em investigações de tráfico ilegal de material nuclear – inclusive dos cubos de Heisenberg. Alguns podem estar transitando até pelo mercado clandestino – enquanto outros podem simplesmente estar sendo usados como peso de papel.
Técnica permite rastrear origem dos “tesseracts” nazistas da 2ª Guerra Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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