segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Vítimas do Vesúvio tinham dietas diferentes de acordo com o sexo, revela análise

O ano 79 d.C. ficou marcado na história da Itália pela erupção do Monte Vesúvio. Ele devastou as cidades de Pompeia, Herculano e outros assentamentos da região. O gás e as cinzas expelidas pelo vulcão, junto ao calor intenso, mataram toda a população. A cidade de Herculano, localizada a oito quilômetros do vulcão, foi enterrada por pela 23 metros de fuligem.

Apesar da tragédia para os moradores da época, esse último detalhe facilita o trabalho dos pesquisadores de hoje. O soterramento permitiu que os corpos ficassem bem preservados, possibilitando pesquisas detalhadas sobre a população que vivia ali. A mais recente delas, publicada no periódico Science Advances, identificou os alimentos consumidos pela população – e mostrou que as comidas que iam no prato dos homens não eram as mesmas ingeridas pelas mulheres.

A dieta dos homens consistia em 50% mais proteína de frutos do mar do que a das mulheres, além de ser mais rica em diferentes tipos de grãos. Enquanto isso, as mulheres comiam mais carnes provenientes de animais terrestres, ovos, laticínios, frutas e vegetais locais. De maneira geral, a pesquisa indica que a dieta dos homens era mais diversificada que a das mulheres.

Os cientistas também notaram que, no geral, os herculanos consumiam grandes quantidades de azeite de oliva. O óleo foi responsável por pelo menos 12% das calorias consumidas pelas vítimas analisadas. A observação vai condiz com outros registros históricos, atestando que o azeite de oliva não era apenas um condimento, mas também um ingrediente cotidiano.

Para chegar à conclusão, uma equipe de pesquisadores da Universidade de York, na Inglaterra, analisou ossadas de 17 vítimas do Vesúvio, sendo 11 homens e 6 mulheres. Os pesquisadores reconhecem que é preciso analisar mais amostras para fazer uma avaliação mais completa da dieta da região.

Dependendo dos alimentos que uma pessoa come, seus ossos e dentes absorvem isótopos de nitrogênio e carbono, que são produzidos pelas plantas e passados para animais de acordo com sua posição na cadeia alimentar. Você pode adquiri-los diretamente da planta, ingerindo uma maçã, ou pode comer a carne do boi que comeu a planta. Dessa forma, a proporção entre esses isótopos são um tipo de impressão digital da comida. No estudo, os cientistas buscaram por estas assinaturas para identificar os hábitos alimentares da população.

Ainda não é possível afirmar os motivos que levaram homens e mulheres a terem dietas diferentes, mas os pesquisadores têm algumas hipóteses. Não se sabe se homens e mulheres comiam juntos; se sim, é possível que possível que a divisão de dietas fosse cultural, como uma “regra” não escrita que diz o que cada sexo deve comer.

Também é possível que homens e mulheres fizessem as refeições separados. Geralmente são os homens que se envolvem na pesca e atividades marítimas, então pode ser que eles comessem parte do que pescaram. Outra hipótese diz que os homens provavelmente ocupavam posições mais privilegiadas na sociedade – e por isso podiam consumir produtos caros, como peixe fresco. Boa parte da população de Herculano foi escravizada, mas os homens poderiam ser libertos antes das mulheres. Isso pode ter permitido o acesso a uma dieta mais diversificada ao longo da vida.


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