A pandemia de Covid-19 criou uma tempestade perfeita, levando a mudanças no sistema de saúde pressionado pelo aumento vertiginoso de pacientes, pela escassez de mão de obra especializada, pelo burnout de profissionais e a elevação de custos em diversos setores.
Tudo isso forçou a busca de soluções para entregar acesso e qualidade na assistência médica mediante despesas controladas. Uma das apostas está na transformação digital, que impulsiona a chamada Medicina 4Ps: preditiva, preventiva, personalizada e participativa. Com ela, espera-se que mais pacientes usufruam de um modelo de saúde integral, com orientação individualizada e disponibilidade vasta de especialistas.
Para tal, os “hospitais sem paredes”, que misturam cuidados hospitalares com propostas alternativas baseadas em cuidados comunitários e domésticos, precisam de ferramentas digitais aptas a monitorar nosso bem-estar, fornecendo em tempo real informações sobre o nosso estado de saúde e facilitando nossa rotina de exames e consultas.
Hoje, já temos à disposição um recurso de inteligência artificial que, por meio de um aplicativo, notifica pela manhã quando o paciente tomou seu último comprimido e envia a receita dos medicamentos que precisam ser adquiridos para a farmácia mais próxima.
Outro exemplo de transformação é o AppliedVR, sistema de realidade virtual para controle de dor que consegue criar uma experiência imersiva para ajudar as pessoas a superarem períodos de desconforto, valendo-se de princípios de gamificação e técnicas de mindfulness. Ou o Teva ProAir Digihaler, um sensor que grava e envia informações a fim de otimizar tratamentos médicos e melhorar a adesão a eles.
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A inteligência artificial e o Big Data podem, ainda, turbinar o desenvolvimento de novos medicamentos ou alvos para terapia, reduzindo o tempo médio de pesquisas e descobertas, graças à sua agilidade e enorme capacidade de processar dados e propor soluções em cima deles.
E, na era da medicina preventiva tecnológica, já podemos imaginar sistemas que, ao captar questões climáticas como tempo muito seco, enviarão notificações para o celular de pessoas com asma, alertando inclusive para que elas chequem se não precisam renovar seu kit de broncodilatadores.
Revolucionário, não é mesmo? Mas, para que todas essas inovações sejam realmente incorporadas ao dia a dia, é crucial a construção de parcerias entre prestadores de serviço em saúde e grandes empresas de tecnologia, startups e investidores. E é essencial ter uma internet à altura.
Aí entra o 5G, tecnologia de alta velocidade e baixa latência que começa a dar seus passos no Brasil. Ela fará com que todas as evoluções citadas caminhem para uma realidade mais palpável e acessível. E, quanto mais acesso à saúde, menor o número de cidadãos doentes e maior a qualidade e a expectativa de vida.
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No nosso país, não há dúvida que temos alguns obstáculos à frente. Muitos locais ainda não possuem nem 3G de qualidade, mesmo dentro de grandes cidades.
Vários produtos médicos digitais que estão sendo desenvolvidos têm um custo alto e dependem de uma internet mais potente. Se não pensarmos nessas questões, não veremos esses avanços atingindo todas as camadas da sociedade.
Temos que lidar também com uma mudança de mentalidade. Muitos prestadores e operadores de saúde ainda criam dificuldades para fornecer intervenções ou dispositivos mais modernos, ao mesmo tempo que alguns pacientes relutam em se beneficiar dos frutos da tecnologia e do conhecimento baseado em evidências, como vimos com a vacina da Covid-19.
O futuro é promissor, mas temos um longo e desafiador caminho a ser percorrido.
* Felipe Mendes é neurocirurgião com aperfeiçoamento em procedimentos minimamente invasivos, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e integrante do corpo médico da Rede Mater Dei (MG), com MBA em gestão em saúde pelo Hospital Israelita Albert Einstein
A medicina está entrando na era do 5G Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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