Reprogramar as células de defesa do paciente para eliminar o câncer: essa é a premissa da terapia celular CAR-T, um tratamento personalizado e revolucionário que chegou recentemente ao Brasil.
Ele está sendo desenvolvido pelo Instituto Butantan, pelas faculdades de Medicina de São Paulo e de Ribeirão Preto, ambas da Universidade São Paulo (USP), e pelo Hemocentro de Ribeirão Preto, no maior programa de tratamento avançado para o câncer da América Latina, inaugurado em junho deste ano.
A iniciativa coloca nosso país no mesmo patamar dos Estados Unidos e de nações europeias em relação ao que há de mais avançado em terapias celulares.
Nesse tipo de tratamento, os linfócitos T, nossas células de defesa, são retirados do paciente por meio da coleta de sangue e modificados geneticamente para que sejam capazes de reconhecer as células tumorais e destruí-las. Depois, as células, agora chamadas de CAR-T, são reinseridas no organismo do indivíduo.
Assim, ensinamos o sistema imune do paciente a lutar contra o câncer. A grande vantagem é que é uma terapia direcionada, que não ataca células saudáveis, portanto tem maior chance de sucesso e muito menos efeitos adversos, na comparação com os tratamentos tradicionais.
O desenvolvimento de uma terapia tão inovadora como a CAR-T por instituições públicas, com uma produção 100% nacional, é prova da maturidade e da excelência da ciência que fazemos no Brasil. No exterior, o tratamento existe no setor privado e chega a custar 500 mil dólares.
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Aqui nós poderemos disponibilizá-lo gratuitamente nos próximos anos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para toda a população brasileira, após a conclusão dos estudos clínicos e a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Nos Estados Unidos, a terapia vem sendo testada há mais de dez anos e foi aprovada em 2017 pela agência reguladora Food and Drug Administration (FDA). Em 2012, a menina Emily Whitehead foi a primeira criança a receber a terapia celular contra a leucemia linfoblástica aguda, aos 6 anos, após mais de um ano tentando quimioterapia sem sucesso. Ela está em remissão e saudável até hoje.
No Brasil, a história da CAR-T começou em 2019, no Centro de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto. A instituição já trabalhava há 20 anos com outros tipos de terapia celular, que utilizam células-tronco para desenvolver tratamentos para doenças do sangue, e começou a testar a terapia CAR-T em pacientes oncológicos compassivos, que não respondiam a nenhum tratamento convencional.
O primeiro brasileiro que recebeu a terapia, Vamberto Luiz de Castro, de 62 anos, teve remissão total de um linfoma não Hodgkin em estágio terminal em menos de um mês. Ele já tinha passado por outros quatro tipos de tratamento, incluindo quimioterapia e radioterapia, que acabaram não surtindo efeito. Outros pacientes tratados com células CAR-T também tiveram remissão parcial ou total da doença.
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Curar uma pessoa que estava em situação terminal em decorrência de um câncer é uma emoção absolutamente indescritível. Agora poderemos ampliar para todos os brasileiros e brasileiras, independente de sua condição financeira, a partir de um tratamento feito em Ribeirão Preto inicialmente em pequena escala.
Isso só está sendo possível graças ao esforço coletivo de dezenas de colegas pesquisadores ao longo dos últimos anos e ao apoio imprescindível da Secretaria de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde, representada pelo médico infectologista David Uip.
A minha expectativa para o futuro é que a terapia CAR-T se torne o principal tratamento contra leucemias, linfomas e outros tipos de câncer no sangue no Brasil e chegue a todos os cantos do país, salvando milhares e milhares de vidas.
* Dimas Covas é médico, presidente do Instituto Butantan, diretor-presidente executivo da Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto e um dos pioneiros da terapia celular no Brasil
Terapia CAR-T: tecnologia mais avançada contra o câncer já está no Brasil Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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