Recentemente, a atriz Claudia Raia anunciou que está grávida. A notícia surpreendeu, já que ela tem 55 anos. Mas é importante notar que, nessa idade, quando já se passou pela menopausa, uma concepção natural é altamente improvável.
Mulheres com menos de 30 anos tem uma chance de gestação, ao mês, de aproximadamente 25%. Entre 36 e 37 anos, ela cai para cerca de 15%. Entre 38 e 40 anos, a taxa vai para 10% e, entre 41 e 42 anos, chega somente a 5%.
Em paralelo à queda na probabilidade de gestação ocorre um aumento no risco de abortamento e de alterações cromossômicas, sendo a síndrome de Down a mais conhecida. Esses fatores estão diretamente ligados à idade materna, ou seja, a idade do óvulo.
A ovogênese (nome dado ao processo de formação dos óvulos) inicia-se durante a vida fetal da mulher e não volta a acontecer em nenhuma outra fase. Em resumo, ela tem seu início e fim na vida fetal.
Para ter ideia, o feto feminino contém, aos 6 meses, cerca de 7 milhões de óvulos, número que cai para 2 milhões ao nascimento. Essa redução se mantém ao longo de toda a infância e, na puberdade, restam 400 mil óvulos no corpo feminino. Eles são liberados todos os meses, durante a ovulação.
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Ao longo da vida reprodutiva, a mulher vai perdendo esse estoque. Quando isso acontece, temos a menopausa – ela ocorre, em média, aos 48 anos na mulher brasileira. Nessa fase, não há mais a liberação de novos óvulos.
Portanto, o estoque de óvulos é finito. Não há uma produção contínua – como os homens têm de espermatozoides. Além disso, a perda que acontece mês após mês não é somente em número, mas também em qualidade. Daí porque há diminuição das taxas de gravidez natural com o avançar da idade da mulher.
Alternativas para a gestação tardia
Mas é possível engravidar após a menopausa. Dá para, por exemplo, utilizar óvulos congelados e recorrer aos tratamentos de fertilização in vitro (FIV), que aumentam em aproximadamente duas vezes a taxa de gestação – mas isso varia de acordo com a idade em que os óvulos foram armazenados.
Nesse caso, a chance de gestação é maior do que as taxas naturais porque, após a fertilização dos óvulos com espermatozoides em laboratório, já se coloca um embrião pronto dentro do útero da paciente.
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Vale lembrar que é possível congelar e usar os próprios óvulos posteriormente ou contar com a doação. O processo de ovodoação acontece quando mulheres com menos de 34 anos, que realizaram a FIV, optam por doar seus óvulos excedentes para outra mulher.
Os óvulos congelados mantêm a mesma capacidade reprodutiva (ou seja, a mesma chance de gestar) desde o dia em que houve o congelamento.
Veja: uma paciente que congelou os óvulos com 34 anos e quer engravidar aos 46, tem uma chance ao redor de 50-60%. Sem o congelamento, sua probabilidade de engravidar de forma natural seria menor que 1%. O mesmo vale para óvulos doados.
Outra possibilidade é contar com embriões doados por outro casal.
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Precisão
Como as mulheres estão postergando cada vez mais a gestação, a idade materna vem aumentando, assim como a necessidade de recorrer a tratamentos de reprodução assistida.
Infelizmente os métodos disponíveis para avaliação da reserva ovariana são imprecisos, especialmente em mulheres mais jovens, dificultando a orientação em relação ao seu futuro reprodutivo.
Apesar disso, recomenda-se solicitar os exames disponíveis para mulheres que desejam gestar, mas que não decidiram o momento. E o congelamento de óvulos deve sempre ser orientado, principalmente para quem tem mais de 35 anos.
Riscos
Toda gestação após os 35 anos (natural ou não) é considerada de risco. Além da queda da fertilidade, há maiores riscos obstétricos decorrentes tanto do envelhecimento ovariano quanto da frequência aumentada de doenças crônicas pré-existentes na mulher, que surgem com o decorrer da idade.
Há possíveis incidências de pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, obesidade, parto prematuro, aborto espontâneo e, principalmente, síndrome de Down na criança.
Em suma, o período ideal para gestação é entre os 20 e 30 anos. Isso porque, além de ser a fase de maior fertilidade, há menor incidência de problemas crônicos e risco reduzido de aparecimento de patologias na gestação, tanto para a mãe quanto para o feto.
*Carlos Moraes é ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, membro da Febrasgo e especialista em perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, e em infertilidade e ultrassom em Ginecologia e Obstetrícia pela Febrasgo, e médico nos hospitais Albert Einstein, São Luiz e Pro Matre.
Gravidez tardia: possibilidades, riscos e tratamentos alternativos Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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