Imagine alguém que você ama um dia se esquecer de quem você é, das memórias que foram construídas no decorrer da vida entre vocês e apresentar mudanças no comportamento. Como você se sentiria?
Pode ser estarrecedor refletir sobre esse cenário, mas, hoje, há milhares de pessoas que são familiares ou amigos de alguém com Alzheimer. Estamos falando do tipo de demência mais comum, em que a perspectiva é de que haja mais de 9,9 milhões de novos casos por ano, o que equivale a uma pessoa diagnosticada a cada 3,2 segundos, conforme os dados da Alzheimer’s Disease International (ADI @alzdisint) – organização internacional que reúne mais de 100 instituições mundiais com o propósito de conscientizar as pessoas sobre essa condição.
Muito falamos sobre os aspectos que envolvem o paciente. Mas e quem cuida? Como fica aquele que ainda tem vivas as lembranças dentro de si e precisa encontrar meios de ressignificar a relação com seu ente querido?
É preciso recomeçar. O ponto de partida é ter conhecimento do diagnóstico. Uma vez que sabemos com o que iremos lidar, dá para começarmos a traçar nossas estratégias. Encontrar meios de se reconectar leva tempo, demanda esforço físico, mental e emocional.
Não há, ao menos até hoje, um meio de impedirmos que o paciente apresente mudanças de comportamento e de personalidade ou que não perca sua memória. O que podemos fazer, além de atentar às medicações e demais demandas de cuidados, é construir um ambiente seguro, pacífico, de acolhida e respeito.
Para tanto, é preciso interiorizar que haverá aspectos que você não poderá resolver, mas poderá transformar ou adaptar. Um exemplo prático disso é o que houve com o ator Alexandre Borges.
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Após o diagnóstico de sua mãe com Alzheimer, ele parou sua carreira e passou a cuidar dela integralmente. Em uma das entrevistas que concedeu, ele contou que muitas vezes a mãe ficava inquieta, querendo ir a uma festa. Para ela, era nítido que esta era sua agenda do dia.
No começo, o Alexandre Borges relutava, dizia que não havia nenhuma festa. Até que um dia ele compreendeu que, se “cedesse” e embarcasse na “aventura”, isso poderia transformar a atmosfera. Então eles foram e deram uma volta no quarteirão. Retornaram. E isso bastou para que houvesse conforto à mãe dele.
Em uma entrevista concedida à revista Veja em 2021, o ator compartilhou: “Nunca tentei corrigi-la. E assim fomos construindo uma relação de amparo e carinho, que lhe traz o conforto de que tanto necessita”, disse ele. A mãe de Borges, uma octogenária, veio a falecer há um ano, no dia 16 de setembro.
Trago esta história de respeito e resiliência que ambos vivenciaram para que possamos compreender que não podemos impor que alguém que tem Alzheimer seja como sempre conhecemos. Isso não ocorrerá.
Como já compartilhei em um dos artigos de minha coluna: “estudos apontaram que mesmo na ausência da memória, os sentimentos dos idosos com Alzheimer persistem. Por isso, criar uma atmosfera que gere alegria e segurança contribui inclusive com o tratamento e melhora da qualidade de vida”.
E, para concluir, deixo aqui cinco recomendações para auxiliar no convívio com uma pessoa com Alzheimer:
- Não discuta ou tente argumentar com a realidade percebida por quem tem Alzheimer. Simplifique os diálogos. Encoraje e valide, realmente ouvindo e fazendo perguntas sobre a visão da pessoa.
- Estimule passeios ao ar livre, junto à natureza. Além de auxiliar a manter a pessoa em movimento, isso contribuirá com a sensação de bem-estar. Evite ficar apenas em casa.
- Ouça música junto com a pessoa. Estudos demonstram que esse é um recurso que contribui para acalmar o paciente e auxilia na melhora da atmosfera
- Demonstre em atitudes que a pessoa pode ser útil. Por exemplo, diga “Preciso de ajuda para arrumar a mesa para o almoço”.
- Invista seus esforços na manutenção da relação humana e procure trazer à memória quem aquela pessoa que está diante de você representa.
Como conviver com alguém que tem Alzheimer? Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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