quinta-feira, 17 de novembro de 2022

As mulheres vivem mais porque os homens ainda têm medo de médico?

Começo com uma questão provocativa, mesmo que pouco correta em relação àquilo que chamamos de medo. Todos nós tememos receber uma má notícia, como o diagnóstico de uma doença indesejada. Mas o fato é que as mulheres enfrentam isso de uma maneira mais adequada, e esse é um dos motivos pelos quais elas têm uma expectativa de vida entre sete e oito anos maior do que a dos homens.

Os exames preventivos tornam possível o diagnóstico precoce de várias doenças, como o câncer de mama e o de colo de útero, facilitando o tratamento e, muitas vezes, tornando viável a cura.

A baixa procura dos homens por atendimentos rotineiros preventivos envolve vários fatores. O medo e o preconceito são frequentemente citados, porém a falta de hábito tem um considerável papel na pouca atenção que eles dão à saúde.

Se por um lado as meninas costumam ser levadas ao médico assim que entram na puberdade, o mesmo não acontece com os meninos. Essa realidade pode ser comprovada pelos dados do Sistema de Informação Ambulatorial do Ministério da Saúde: o número de atendimentos de adolescentes meninos de 12 a 18 anos por urologistas é 18 vezes menor que o de atendimentos de meninas por ginecologistas.

Em 2003, na Austrália, um grupo de homens resolveu fazer uma campanha para alertar sobre os cuidados com a saúde masculina, em especial o câncer de próstata. A mesma ação, ainda abrangendo o câncer de testículo e a depressão, ficou conhecida como Movember (moustache + november) e, replicada em outros países, ganhou o nome de Novembro Azul.

+ LEIA TAMBÉM: O que saber para prevenir o câncer de testículo

Falamos especialmente aqui do combate ao câncer de próstata, enfatizando as vantagens do diagnóstico precoce dessa doença, numa fase na qual os sintomas ainda não surgiram, o que aumenta muito a possibilidade de cura com o tratamento adequado.

A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) abraçou a causa, inclusive porque já vinha tratando do tema nesse mês, visto que o dia 17 de novembro é a data de conscientização sobre o problema.

Com o passar do tempo, percebemos que outros aspectos da saúde demandavam campanhas de esclarecimento junto à população, caso do câncer de pênis, com significativa prevalência no país. Isso deu origem a ações mais abrangentes, incluindo mutirões de atendimento médico com o apoio do Ministério da Saúde e dos municípios com maior número de casos.

Atualmente, trabalhamos para informar e inspirar a população masculina a cuidar-se mais através de campanhas que ocorrem ao longo de todo ano, englobando a saúde do adolescente, a vacinação contra o HPV, o sexo seguro, o uso perigoso de anabolizantes para fins estéticos e doenças da próstata e do sistema urinário mais comuns com o avançar da idade.

Em relação à próstata, alertamos aos homens acima dos 45 anos a respeito do crescimento benigno da glândula, algo que ocorre na maioria dos pacientes, mas somente 40% deles terão dificuldade para controlar a urina em razão do problema, chamado hiperplasia benigna da próstata.

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Outra doença importante, e mais ameaçadora, é o câncer de próstata, segunda maior causa de morte por câncer no homem. O diagnóstico precoce, feito pelo toque retal e a dosagem de PSA no sangue, permite realizar tratamentos menos drásticos e com maiores chances de cura.

Esse cuidado deve ser tomado principalmente nos homens que correm maior risco de desenvolver esse tumor: aqueles da raça negra, com histórico de familiares próximos que tiveram a doença ou com obesidade significativa (IMC acima de 35). Nesses grupos específicos, a SBU recomenda que os exames sejam feitos a partir dos 45 anos. Nos demais, podem ocorrer a partir dos 50, a critério médico.

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Por último, e não menos importante, temos cada vez mais falado sobre as alterações e prejuízos à saúde sexual, o que abrange tanto a disfunção erétil como déficits hormonais associados ao envelhecimento. Ambas as condições se confundem e se sobrepõem na linha do tempo. Mas vale saber que, bem indicada, a reposição hormonal nessa idade traz benefícios, ao contrário do que ocorre para fins estéticos na juventude.

Da mesma forma, problemas de ereção merecem ser avaliados cuidadosamente, e a automedicação, evitada. Isso porque sabemos que homens com disfunção sexual não raro apresentam outras doenças crônicas silenciosas, como hipertensão, diabetes e colesterol elevado.

Exames de sangue simples auxiliam a checar a presença dessas alterações, que aumentam o risco de doenças nos rins e no coração, sobretudo quando o indivíduo fuma ou tem obesidade.

Todos sabem, mas não custa lembrar: ter uma alimentação equilibrada, fazer atividade física regular, evitar o tabagismo e as bebidas alcoólicas e realizar exames médicos periódicos são o caminho para uma vida e um envelhecimento saudáveis. E, como destaca a mensagem da campanha Novembro Azul da SBU deste ano, “saúde também é papo de homem”.

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* Alfredo Félix Canalini é presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU)

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