Em 1692, começou a maior caça às bruxas da história dos Estados Unidos. Ela aconteceu, você sabe, em Salem: uma aldeia de puritanos que só se tornaria uma cidade, a 12 quilômetros ao norte de Boston, em 1836. Na época, mais de 200 pessoas foram acusadas de praticar bruxaria, das quais 25 morreram enforcadas ou na prisão.
O pânico tomava conta da população: as supostas bruxas poderiam, afinal, aterrorizar crianças, castrar homens, fazer pactos com demônios e tudo de ruim que existe. Era o que diziam os rumores. As autoridades locais confiavam em acusações infundadas, e assim aconteceram centenas de julgamentos – principalmente contra mulheres que sabiam fazer remédios caseiros, mendigavam nas ruas ou simplesmente eram pessoas à margem da sociedade.
Tudo isso começou quando Betty Parris e outras crianças de Salem começaram a apresentar convulsões, delírios e outros sintomas estranhos. Logo depois, outros moradores tiveram quadros semelhantes. O conhecimento que o médico de Salem tinha era… apropriado para uma aldeia dos EUA em 1692. Ou seja, não muito. Não deu outra: o diagnóstico das crianças? Feitiçaria.
Hoje ainda se questiona o que poderia ter acontecido com os moradores de Salem. O que seria a doença misteriosa, confundida com bruxaria? Em 1976, a pesquisadora americana Linnda Caporael, do Instituto Politécnico Rensselaer (Nova York), propôs uma explicação: centeio estragado.
Betty Parris e as outras pessoas com sintomas esquisitos estariam sofrendo com o ergotismo, uma intoxicação causada pelo consumo de produtos contaminados pelo fungo Claviceps purpurea – conhecido como “esporão do centeio”, de tão comum no cereal. A doença causa justamente convulsões, espasmos musculares e alucinações. Os mesmos sintomas que aconteceram em Salem.
O esporão do centeio pode aparecer no cereal depois de um inverno rigoroso e uma primavera úmida – condições climáticas que, como alguns historiadores afirmaram depois, combinam com o cenário de 1692 nos arredores da aldeia. Quando o fungo cresce na planta, substitui os brotos do grão por pequenas estruturas roxas escuras – que podem ser confundidas com brotos normais do centeio que ficaram muito tempo no sol.
A tese de Caporael é que o centeio produzido no ano anterior aos julgamentos de Salem estaria contaminado, mas foi consumido pela população local. Daí a doença que atingiu tantos moradores. Essa é uma teoria que ainda está sob debate, assim como outras hipóteses que procuram explicar o mal estar – há também quem aposte em uma combinação de asma e epilepsia, por exemplo. Nada de sobrenatural.
Como o pão de centeio pode ter causado os julgamentos das bruxas de Salem Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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