Texto Leonardo Pujol e Bruno Garattoni
A China é o país que mais emite CO2, e há razões para isso: ela tem a maior população do planeta, é responsável por quase 30% de toda a produção industrial, e usa quantidades gigantescas de carvão para alimentar tudo isso. O país emite mais gases causadores do aquecimento global do que os Estados Unidos, a Europa, o Japão e a Índia somados. Mas a China também tem feito enormes investimentos em energias renováveis – dos quais o mais recente é o parque eólico de Chaozhou, anunciado no final de outubro.
Ele não está confirmado, ainda é só um projeto – mas impressiona pelo gigantismo. O complexo ficaria na província de Guangdong, no Sul da China, e reuniria milhares de aerogeradores (as turbinas eólicas), que juntas seriam capazes de gerar impressionantes 43,3 gigawatts (GW) de eletricidade. Isso equivale à produção energética de 30 reatores nucleares – e é o suficiente para abastecer 20 milhões de residências.
O parque seria totalmente offshore, com as turbinas instaladas no mar. Elas ficariam a pelo menos 70 quilômetros de distância da costa, no Mar do Sul da China, bem perto da ilha de Taiwan – que os chineses desejam reanexar, o que tem causado tensões geopolíticas com os EUA.
O projeto, cuja construção começaria até 2025, está previsto para ocupar duas áreas, denominadas Guangdong East Site 6 e Guangdong East Site 7. A primeira fica ao sul das cidades de Chaozhou e Shantou. Nela, seriam 10,8 GW de geração. O restante (32,5 GW) viria da Guangdong East Site 7, a sudeste de Chaozhou.
O empreendimento pode quebrar um recorde que já é da própria China. Isso porque sua capacidade instalada seria duas vezes maior do que a usina eólica de Jiuquan – atualmente, a maior do mundo.
Localizada em Gansu, uma província árida, montanhosa e de ventos fortes, a planta de Jiuquan (que ainda está em construção) foi projetada para alcançar 20 GW de potência. Ela terá, sozinha, quase toda a capacidade eólica do Brasil: hoje temos 827 parques, que somam 22,5 GW de potência instalada, segundo a ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias).
Tanto a usina de Jiuquan quanto as brasileiras são onshore, com as turbinas instaladas em terra firme. Em 2021, a China respondeu por mais de um terço desse tipo de energia eólica: ela produziu 310,6 GW dos 837 GW de capacidade instalada no mundo, segundo dados do Global Wind Energy Council. O segundo maior produtor de energia eólica onshore são os Estados Unidos, com 134,3 GW.
Mas o megaparque eólico de Chaozhou é baseado em turbinas offshore, uma tendência no setor. A China também é líder nesse tipo de energia eólica, com 27,6 GW de capacidade instalada, o que significa aproximadamente 45% do total global. Em seguida vêm Reino Unido (12,5 GW), Alemanha (7,7 GW), Holanda (3 GW) e Dinamarca (2,3 GW), seguidos de outros países da Europa e da Ásia, como Vietnã, Taiwan e Coreia do Sul.
Mesmo tendo mais de 7 mil quilômetros de litoral, o Brasil ainda não dispõe de uma única torre offshore. Mas isso pode mudar em breve. Segundo a ABEEólica, há mais de 60 projetos, que somam 160 GW de energia eólica offshore, em análise no Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Instalar turbinas no mar é mais caro e difícil, mas tem uma compensação: no oceano, onde não há obstáculos, venta bem mais – e cada aerogerador consegue produzir mais eletricidade.
As turbinas instaladas no mar são capazes de gerar mais energia a cada hora, durante mais horas por dia. E elas podem ter torres mais altas, com pás e dínamos maiores – o que também aumenta a produção de eletricidade.
Em terra firme, cada aerogerador costuma produzir de 2 a 6 megawatts (MW). Já os modelos offshore chegam a 14 MW. Essa é a capacidade da gigantesca Haliade-X, que foi desenvolvida pela General Electric e tem 260 metros de altura, o equivalente a um prédio de 80 andares. Outros players do setor incluem Siemens Gamesa, WEG, Wobben, Vestas, Nordex Acciona, Mingyang, United Power e Sewind.
As autoridades de Chaozhou não dizem quais turbinas poderiam usar, nem qual seria o custo total do projeto. A usina de Jiuquan, atualmente a maior do mundo, tem custo estimado em US$ 17,4 bilhões. Mas ela é onshore, bem mais fácil e barata de instalar – e tem capacidade de 20 gigawatts, menos da metade da prevista para o complexo no mar.
Em 2021, a cidade de Zhangzhou, na mesma região, divulgou planos para um parque eólico offshore ainda mais ambicioso, capaz de gerar 50 GW. Ele também ainda está no campo da intenção. Venta bastante na região, especialmente propícia para a energia eólica.
O documento de apresentação do projeto de Chaozhou, com 56 páginas, estima que as turbinas poderão funcionar entre 43% e 49% do tempo, o que significa de 3.800 a 4.300 horas por ano. O relatório também afirma que a velocidade média do vento na região é de aproximadamente 35 km/h – se aproximando do nível ideal para os aerogeradores, que costumam operar com máxima eficiência entre 36 e 54 km/h, dependendo do modelo.
Vale lembrar que, assim como acontece com outras energias renováveis, a geração eólica está sujeita a variações climáticas. Por isso, a China seguirá queimando carvão – ao menos até que as fontes limpas sejam abundantes o suficiente para fornecer segurança energética ao país.
Isso, se acontecer, deve levar um bom tempo. Mas o cenário poderia ser ainda pior. Afinal, ao mesmo tempo em que continua emitindo quantidades colossais de CO2, pelo menos o país dá passos ambiciosos para tentar se descarbonizar.
China quer construir megacomplexo eólico com potência equivalente a 30 reatores nucleares Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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