quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Enfermeiros ganham mais protagonismo no novo ecossistema da saúde

“Os serviços de saúde digital se tornaram uma ferramenta de ampliação do acesso e autonomia, integrando enfermeiros e pacientes de forma inédita, diminuindo distâncias e desperdícios, melhorando os desfechos clínicos e assegurando a sustentabilidade da jornada”.

Foi assim que Luciana Hataiama, head de enfermagem da Vibe Saúde, resumiu a sinergia entre a tecnologia e os profissionais da área e a transformação no jeito de cuidar das pessoas em um evento concebido pela healthtech brasileira para debater e prestigiar esse novo momento na história da enfermagem e da assistência médica no país.

O encontro reuniu autoridades, professores, gestores e enfermeiros, com destaque para a Rainha Silvia da Suécia, que esteve em São Paulo para falar da causa e do prêmio internacional que leva seu nome, destinado a profissionais de enfermagem. A distinção, idealizada pela Swedish Care International e organizada pela Vibe no Brasil, está em sua segunda edição e irá reconhecer, neste ano, iniciativas de sucesso dentro do Sistema Único de Saúde (SUS).

Um dos motes do evento foi mostrar o papel cada vez mais protagonista de enfermeiras e enfermeiros no desenvolvimento, na implementação e na rotina das linhas de cuidado, especialmente num modelo de atendimento híbrido ou virtual e conectado a outros profissionais da saúde, como médicos e psicólogos.

O CEO da Vibe Saúde, Ian Bonde, pontuou que a pandemia de Covid-19 foi um divisor de águas para esse movimento. “O cuidado digital, que inclui a telemedicina e a teleterapia, não é novidade em países desenvolvidos como a Suécia, onde esses serviços começaram a ganhar força ainda em 2016. No Brasil, a pandemia foi o principal fator para regulamentar e impulsionar o crescimento do setor”, contextualizou.

E ele citou números que justificam essa ascensão: “Se olharmos para 2019, menos de 1 milhão de consultas foram feitas por meio de plataformas digitais. Até o final de 2021, esse número havia aumentado para 7,5 milhões. E deverá chegar a mais de 35 milhões no final de 2022”.

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A tendência recebeu a adesão dos profissionais e do público e mobilizou setor público e privado, grandes hospitais e convênios e, sobretudo, as startups. Em 2021, já eram mais de mil healthtechs oferecendo algum tipo de serviço no ecossistema da saúde brasileira, destacou Bonde.

Especialistas veem dois valores na criação e no aperfeiçoamento dos protocolos de atendimento virtual (ou híbrido): a ampliação do acesso a orientação, consultas e exames e o melhor acompanhamento na jornada de prevenção, diagnóstico e tratamento.

“Em 2020, chegamos a quase 250 mil usuários dos nossos serviços. E, no final de 2021, atingimos quase 1 milhão, sendo que 50% das consultas são voltadas à saúde mental. Hoje são mais de 1,5 milhão de brasileiros atendidos”, contou o líder da Vibe.

As healthtechs buscam ocupar uma antiga lacuna no sistema de saúde brasileiro: a desassistência de 160 milhões de cidadãos que dependem exclusivamente do SUS e não podem pagar por um convênio. Ainda que a rede pública seja vital para dar suporte a essas pessoas, não há como negar suas dificuldades, como falta de recursos. De acordo com Bonde, a Vibe e outras empresas do segmento procuram justamente oferecer consultas a preços acessíveis por meio de serviços digitais.

Nesse modelo, ganha proeminência a figura do enfermeiro como um tutor ou navegador na jornada de cuidados. Ele acompanha o paciente, com o apoio de médicos e outros profissionais, para garantir uma assistência personalizada, efetiva e desburocratizada. “Cerca de 80% dos casos que recebemos são resolvidos no pronto-atendimento digital da Vibe”, exemplificou Luciana. “E 97% dos pacientes saem dos nossos atendimentos satisfeitos”.

Luciana Hataiama (head de enfermagem da Vibe Saúde), Ian Bonde (CEO da healthtech), a Rainha Silvia da Suécia, Lu Alckmin (nova segunda-dama do Brasil), Peter Johansson (vice-cônsul da Suécia), Ana Paula Mattar (head de marketing da Vibe) e Cintia Sulzer (COO da startup).Foto: Marie Louise Civita/Divulgação

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Fã e idealizadora de uma causa

O evento contou com a participação especial (e presencial) da Rainha Silvia da Suécia. De ascendência brasileira, a monarca instituiu, junto às organizações que encabeça, uma premiação para enfermeiros de diversos países e ações projetadas para melhorar a assistência e a qualidade de vida de pessoas com demência.

“Perder um ente querido para a demência é difícil. É doloroso. Mas minha família, diante desse triste diagnóstico para minha mãe e depois para o meu querido irmão, teve a sorte de ter o apoio de enfermeiros maravilhosos, que nos mostraram um caminho mais sereno. Sou eternamente grata à profissão de enfermagem. Com seu conhecimento, criatividade e paixão, eles nos ajudam a seguir em frente”, declarou.

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A VEJA SAÚDE Sua Majestade relatou as iniciativas de conscientização da sociedade e capacitação de profissionais (não apenas da área da saúde) para apoiar pacientes com demência e seus familiares na Suécia. “O mundo ainda não compreendeu que se trata de uma doença”, disse. “As demências representam um grande desafio para os sistemas de saúde”, ressaltou.

A Rainha acredita que enfermeiros e assistentes de enfermagem são atores fundamentais nessa e em outras jornadas de cuidado. E, como demonstram os próprios trabalhos vencedores do Prêmio de Enfermagem Rainha Silvia da Suécia, a inovação tecnológica também é muito bem-vinda.

“Há coisas muito interessantes sendo feitas. Profissionais desenvolveram um cinto com um air-bag que é acionado quando o idoso cai, evitando uma fratura no quadril”, dá um exemplo de inovação a monarca. Nos projetos laureados na última edição da premiação, destacam-se plataformas de assistência remota, programas baseados em realidade virtual e até redes sociais focadas em serviços e atividades para idosos.

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Inovação em todos os sentidos

Convidada a compartilhar uma iniciativa de sucesso comandada por enfermeiros, a professora Ana Paula Guarnieri, da Faculdade de Medicina do ABC, trouxe a história e os resultados do Projeto Bem Viver, idealizado por ela depois de diagnosticar, em 2002, a expressiva demanda por cuidados dos idosos de baixo poder aquisitivo e escolaridade com doenças crônicas e ocupacionais da cidade de Santo André, na Grande São Paulo.

“Implantamos o projeto na região periférica do município buscando otimizar os recursos existentes na comunidade e chegamos a ter uma média de 1 100 idosos cadastrados. A partir daí, construímos uma rede de autogestão, valorizando talentos entre os idosos, reavivando a cidadania e o pertencimento desse público na construção da comunidade. O sonho se disseminou e a ideia vingou e prosperou pela cidade inteira”, recordou.

Após a pandemia, com novos desafios e realidades emergentes, esse e outros projetos da mesma envergadura já estão estudando ou ganhando uma extensão digital. E é sob essa perspectiva que o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo, representado no evento por sua vice-presidente, Erica Chagas, vê com bons olhos a expansão da atuação do enfermeiro num mundo em que o presencial e o virtual devem conviver cada vez mais. 

A Rainha Silvia com os enfermeiros que foram destaque na primeira edição do prêmio no Brasil, incluindo o vencedor, Jean Singh (de preto).Foto: Marie Louise Civita/Divulgação

Fechando o ciclo de palestras, o enfermeiro Jean Singh, grande vencedor do primeiro Prêmio de Enfermagem Rainha Silvia da Suécia no Brasil, sublinhou a importância de os profissionais da área buscarem a inovação e entenderem que esse conceito não se resume apenas à tecnologia. “Três pilares são essenciais para nós, enfermeiros: comunicação, empatia e resolução de problemas”, disse.

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“Esta premiação deixou em evidência a importância de empreender e transformar e, ao olharmos para as equipes de enfermagem brasileiras, enxergamos diversos exemplos de atividades empreendedoras e inovadoras”, afirmou Singh, que, em sua fala, relembrou a trajetória de ícones desse setor no país, como Anna Nery e Wanda Horta. 

Hoje no Inova-HC, vinculado à Faculdade de Medicina da USP, o enfermeiro também defendeu que “a classe seja mais valorizada no Brasil”, pois é o “alicerce” do sistema de saúde.

E foi nesse clima de reconhecimento e propostas para o futuro que se encerrou o encontro, que também contou com os outros enfermeiros finalistas do Prêmio Rainha Silvia da Suécia 2021 e autoridades como a nova segunda-dama, Lu Alckmin, e o vice-cônsul da Suécia, Peter Johansson.

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