Na abertura dos Jogos Olímpicos, os países que sediam as competições costumam destacar características nacionais dignas de orgulho.
Nas Olimpíadas de Londres, em 2012, foi homenageado o NHS (National Health Service), sistema público de saúde fundado em 1948 como um dos pilares de proteção social no contexto do welfare state, o Estado de bem-estar social.
A saúde pública de qualidade foi uma das bases da reconstrução da Inglaterra no pós-guerra. Uma das principais diretrizes do NHS é a atenção primária à saúde (APS), que ainda engatinha no Brasil, tanto na saúde pública quanto na suplementar.
Considerada a “porta de entrada” ideal para o atendimento, a APS é um conjunto de ações coordenadas de promoção da saúde, que visa o diagnóstico, a manutenção de tratamentos e o oferecimento de uma assistência integral e contínua. Esse modelo é bem representado pela figura do médico de família.
Paralelamente, nos Estados Unidos, em 1945, o grupo Kaiser Permanente (KP) foi estabelecido. No modelo da KP, de 65% a 80% dos cuidados prestados são, em sua maioria, fornecidos por equipes de APS.
Em 1978, a Organização Mundial da Saúde (OMS) realizou a Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde em Alma-Ata (hoje Almati), na então República Socialista Soviética do Cazaquistão.
Esta conferência resultou na Declaração de Alma-Ata, marco na saúde pública global por enfatizar a importância dos cuidados primários para todos, independentemente de sua situação socioeconômica.
Todos os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) adotaram essa premissa, enfatizando a APS como alicerce de seus sistemas de saúde.
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A evolução acelerada da medicina traz tratamentos inovadores, especialmente para doenças raras, oferecendo esperança renovada. No entanto, esses avanços também trazem riscos quando utilizados sem a devida racionalidade técnica.
Mas se a APS é “uma velha novidade” bem-sucedida em vários países desenvolvidos e já utilizada há décadas no Sistema Único de Saúde, por que ainda não vingou completamente no Brasil? Há uma inclinação para consultar diretamente especialistas, deixando de lado o médico de família, que deveria ser o primeiro contato.
Esta abordagem fragmentada retarda ou complica o diagnóstico e tratamento adequados. Há ainda outro ponto a ser desmistificado de que APS é apenas uma estratégia de corte de gastos.
Ela, acima de tudo, visa a entrega de valor em saúde, com um modelo centrado na efetiva jornada do paciente, para atendê-lo de forma oportuna e integral.
A crescente incidência de problemas de saúde mental, por exemplo, destaca a necessidade de um acompanhamento longitudinal, consistente e personalizado. Sem a relação estreita médico-paciente, como podemos rastrear adequadamente a evolução desses casos?
O tratamento precoce e o monitoramento contínuo, características da APS, são fundamentais para abordagens bem-sucedidas, evitando agravamentos e complicações futuras.
Vamos aproveitar o Dia do Médico, celebrado neste 18 de outubro, para reafirmar nosso compromisso com a saúde e o papel essencial dos médicos na transformação e no fortalecimento do cuidado com o paciente.
*Helton Freitas é médico, presidente da Seguros Unimed e da Fundação Unimed, e diretor-geral da Faculdade Unimed
Atenção primária à saúde é saída para os cuidados médicos dos brasileiros Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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