sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Medicamento simula efeitos de exercício e faz ratos obesos queimarem calorias parados

No Brasil, 20% das pessoas são obesas e 57% têm sobrepeso. Em uma época em que a obesidade chega a níveis alarmantes, a indústria farmacêutica corre atrás de novos remédios. Do ponto de vista financeiro, é um investimento ótimo – quando o Ozempic virou o queridinho do emagrecimento, a fabricante Novo Nordisk faturou US$ 8,5 bilhões e suas ações dobraram de valor. Com isso, farmacêuticas como Eli Lilly e Pfizer já tentam entrar na onda.

O Ozempic tem alguns problemas. A começar pelo fato dele ser uma droga para diabetes tipo 2, cujo efeito secundário é a perda de peso. Em resumo, ele tira o apetite com uma versão artificial de um hormônio. Seu uso requer continuidade (se você deixar de usar, pode voltar a engordar) e estudos apontam uma correlação (ainda meio incerta) entre seu uso prolongado e câncer de tireoide.

Os pontos fracos do Ozempic impulsionam novas abordagens. Um grupo de cientistas, por exemplo, testou um novo composto conhecido como SLU-PP-332, que “convence” os músculos de ratos de que estão se exercitando. Isso estimula o metabolismo dos roedores e faz eles perderem peso – sem precisar levantar uma pata. 

Publicado no periódico científico Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics, o estudo tratou ratos obesos com a droga e observou como seus corpinhos de roedores reagiriam. 

Durante curtas rotinas de exercício e treinos com pesos, nossos músculos queimam glicose, a reserva energética padrão. Eles só passam a queimar ácidos graxos (gordura) em sessões mais longas de exercícios aeróbicos, como corrida. Segundo os cientistas, o medicamento fez o metabolismo dos ratos preferir os ácidos graxos logo de cara, o que culminou na perda de peso.

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A droga é de uma classe de “imitadores de exercício”, que proporcionam alguns dos benefícios da atividade física sem o esforço em si. Ela ainda está nos estágios iniciais de desenvolvimento: só foi testada em animais e ainda não  possui aprovação para uso em humanos.

Enquanto o Ozempic te dá uma dose de semaglutida, que simula os efeitos do hormônio GLP-1 e dá sensação de saciedade, o SLU-PP-332 tem um mecanismo de ação diferente. A nova droga aumenta a atividade de um grupo de proteínas que controla o metabolismo de tecidos consumidores de energia, estimulando uma ação metabólica natural de resposta ao exercício. Ele basicamente diz ao músculo para seguir o mesmo procedimento de quando você está em uma corrida.

Essas proteínas funcionam mais quando você se exercita. Ativá-las com medicamentos, artificialmente, tem sido difícil para os cientistas. No começo do ano, os pesquisadores do estado do Missouri (EUA) publicaram um primeiro estudo relatando o sucesso do SLU-PP-332, o que foi o início de um promissor período de testes.

Como parte desse estudo mais recente, eles iniciaram o tratamento de ratos obesos com a droga. Os roedores receberam o remédio, por injeção, duas vezes por dia durante um mês, comendo a mesma quantidade de comida e sem mudanças na rotina de atividades. Só o uso do medicamento fez com que eles ganhassem 10 vezes menos gordura do que ratos não tratados, e perdessem 12% do peso corporal. O composto também permitiu que camundongos com peso normal corressem por 70% mais tempo em comparação aos que não receberam a droga.

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Durante o período do estudo, ela não gerou efeitos colaterais graves. O próximo passo para torná-la um medicamento viável, segundo os cientistas, é refinar sua estrutura – transformá-la de injeção em comprimido. Em seguida, deve ser testada em outros animais antes de humanos.

Contudo, o medicamento não é capaz de replicar outros benefícios do exercício físico, como fortalecimento dos ossos, melhor qualidade de sono e menos estresse. Para esses, ainda é melhor calçar os tênis de corrida.

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